Transporte público

Se está quente nas ruas, imagine em um ônibus lotado

Diario de Pernambuco ouviu queixas de passageiros e motoristas. Lei que determina refrigeração em coletivos é descumprida

Publicado em: 27/11/2023 05:35 | Atualizado em: 27/11/2023 05:33

O Diario ouviu os usuários do Transporte Público que reclamam da ausência de coletivos refrigerados no Grande Recife  (Rômulo Chico/DP)
O Diario ouviu os usuários do Transporte Público que reclamam da ausência de coletivos refrigerados no Grande Recife (Rômulo Chico/DP)
 
Sofrendo com as altas temperaturas e a baixa umidade. Uma combinação  que resulta numa sensação de calor extremo, em meio a uma das piores ondas dos últimos tempos. 
 
Com o sol de "rachar" fica difícil sentir conforto em muitas horas do dia. Mas, se está complicado na rua ou em casa, imagine num ônibus lotado. 
 
Para mostrar o sofrimento de quem é obrigado a usar o transporte público em período de "onda de calor" o Diario de Pernambuco foi às ruas centrais do Recife. 
 
As queixas são muitas. Prinmcipalmente poor causa da situação de quem pegar os  ônibus que não têm refrigeração. 
 
A onda de calor vem provocando transtornos. Em Pernambuco não é diferente. Todas as regiões do estado estão registrando altas temperaturas e sensações térmicas sufocantes. As sensações térmicas chegam a variar entre 33º a 36º.
 
A situação é tão alarmante que um estudo do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da União Europeia aponta que 2023 será o ano mais quente em 125 mil anos. 
 
Com isso, muita gente tenta de todas as alternativas se proteger do calor, da desidratação e dos problemas de saúde causados pela constante exposição ao sol forte. 
Os passageiros do Transporte Público sofrem Diariamente com as altas temperaturas e ausência de coletivos com refrigeração   (Rua Pablo/DP)
Os passageiros do Transporte Público sofrem Diariamente com as altas temperaturas e ausência de coletivos com refrigeração (Rua Pablo/DP)

Nas ruas do Recife nos pontos de ônibus, a equipe doi Diario ouviu motoristas e passageiros. Em o povo usa o que pode para tentar amenizar o sufoco: sobrinha, ventilador, leque e água gelada. 
 
Enquanto isso, a lei estadual nº16.787/2019, de 26 de dezembro de 2019, vem sendo descuimprida. Em seu artigo 2º, a norma  prevê que “as permissionárias dos serviços de transporte público de passageiros deverão renovar a frota que ultrapassar 8 (oito) anos de vida útil, entre os anos de 2020 e 2023, devendo, no mínimo, 70% (setenta por cento) dos novos veículos renovados a cada ano serem equipados com ar-condicionado e possuírem capacidade igual ou superior a dos veículos substituídos." 
Segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte, atualmente, 16,6% da frota possui ar-condicionado  (Ruan Pablo/DP)
Segundo o Grande Recife Consórcio de Transporte, atualmente, 16,6% da frota possui ar-condicionado (Ruan Pablo/DP)

Porém, a realidade é outra. Nos últimos anos a frota não foi renovada com ar-condicionados suficientes para suprir as necessidades dos usuários com o aumento da onda de calor registrada nos últimos quatro anos.
 
Sofrimento
 
Entre elas, está a estudante de Nutrição, Glaucia Alcantara, de 30 anos, sai todos os dias de casa, em Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife (RMR), e faz o trajeto de ônibus de uma distância de 22 quilômetros até a Boa Vista, para estudar.
 
Acompanhada sempre com a garrafa de água e protetor solar na bolsa para se proteger do sol forte, ela reclama da ausência de coletivos com ar-condicionado que, segundo ela, é o atestado de abandono por parte das empresas aos passageiros que utilizam o modal. 
A estudante Gláucia Alcântara reclama da ausência de coltivos com refrigeração (Ruan Pablo/DP)
A estudante Gláucia Alcântara reclama da ausência de coltivos com refrigeração (Ruan Pablo/DP)

“A gente paga uma passagem cara e não vemos retorno nenhum em investimentos nos ônibus. O calor tá muito grande na rua, mas dentro dos coletivos é bem pior. O inferno é mesmo quando tá lotado. Eu saio do busão toda suada e ofegante. Estamos em 2023 e não há justificativas para andarmos em carros sem ar-condicionado. É um descaso e uma repleta falta de respeito com quem banca todo o sistema que somos nós, usuários”, reclamou a estudante, que utiliza diariamente a linha 1977 - TI Pelópidas Silveira (Conde da Boa Vista). 

Já a autônoma Paloma Silva, de 26 anos, diariamente anda de ônibus com o seu filho,Thallyson Silva, de 5 anos, e também reclama da ausência de ônibus com ar-condicionado da linha que ela utiliza diariamente, a linha 243 - Vila Dois Carneiros, para poder chegar até o bairro de Socorro, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. 
Paloma e Thallyson sofrem diariamente com o calor nos coletivos  (Ruan Pablo/DP)
Paloma e Thallyson sofrem diariamente com o calor nos coletivos (Ruan Pablo/DP)

“Eu e meu filho passamos perrengue todos os dias por conta do calor que faz dentro do ônibus. Tento amenizar ao máximo levando uma garrafinha de água e algo pra nos abanar. Ele (Thallyson) reclama muito, mas eu não tenho o que fazer. Um descaso completo com a gente que paga todo dia oito e vinte, que já pesa no bolso e a gente é tratado como gado”, disparou a usuária do transporte coletivo. 

O Diario também ouviu o lado de quem trabalha no calor, dirigindo por mais de oito horas de jornada de trabalho e sofrendo com as altas temperaturas. Um rodoviários conversou com a reportagem e relatou a sua dificuldade diária ao volante. 

Sem querer se identificar, com receio de sofrer represálias, o condutor disse que é desumana a situação da categoria. “Não dirijo o carro BRT, que é bem mais tranquilo diante desse calorão que faz. Dirijo em condições precárias e nem o ventilador que tem aqui acima do volante está pegando. A situação piora quando o motor do carro esquenta, pois ele fica ao nosso lado, e acaba deixando a sensação térmica sufocante. Todo ano ouvimos que irão melhorar, que vão colocar os carros com ar. Mas a realidade é que nada é feito e fica por isso mesmo”, reclamou o rodoviário. 

O que diz o Consórcio

Procurado pelo Diario, a assessoria de imprensa do Grande Recife Consórcio de Transporte, por meio de nota, informou que “ Lei 16.787/2019 estabeleceu metas de aumento de frota com o ar-condicionado, sendo que “o impacto tarifário da renovação da frota (…) deverá ser previsto nas revisões tarifárias (…) como condição de eficácia das metas estabelecidas”, diz o trecho da nota. 

Ainda segundo o consórcio, “Estudos estão em elaboração, e tão logo finalizados, serão apresentados ao  CSTM (Conselho Superior de Transporte Metropolitano)com a devida previsão de impacto na revisão tarifária, tendo condições de promover a ampliação da frota com ar-condicionado”, ressaltou o órgão. 

O consórcio ainda ressaltou que “Nas últimas deliberações sobre tarifa, o CSTM - Conselho Superior de Transporte Metropolitano, não inclui custos para ampliação de frota com ar”, afirmou. 

A entidade afirma que, atualmente, 16,6% da frota do Sistema de Transporte possui ar-condicionado.

Também procurada pelo Diario, a assessoria de imprensa do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado (Urbana-PE), informou que quem responde por esta questão operacional é o órgão gestor, sendo o Grande Recife Consórcio de Transportes.  

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