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HOMENAGEM

Herói pernambucano é homenageado 37 anos após salvar o Recife de uma catástrofe

Publicado em: 12/05/2022 14:05 | Atualizado em: 12/05/2022 14:08

 (Em 2003 Nelcy foi homenageado postumamente com um busto, em frente ao Terminal Marítimo do Recife. Foto: Rômulo Chico/ESP DP Foto.)
Em 2003 Nelcy foi homenageado postumamente com um busto, em frente ao Terminal Marítimo do Recife. Foto: Rômulo Chico/ESP DP Foto.

Na manhã desta quinta-feira (12), em frente ao Terminal Marítimo do Recife, a marinha brasileira em parceria com a praticagem brasileira, o Porto do Recife e a Prefeitura do Recife prestou uma homenagem a Nelcy da Silva Campos, prático da barra que 37 anos atrás impediu que o Recife Antigo fosse atingido por uma tragédia semelhante à explosão em Beirute, no Líbano, em 2020.

Na madrugada de 12 de maio do ano 1985, o bairro do Recife estava prestes a se tornar palco de uma tragédia. Naquela noite, o navio petroleiro Jatobá, carregado de gás butano pegou fogo. Próximos à embarcação haviam outros dois navios também carregados com gases inflamáveis, o Barão de Rio Branco e o Poweenagrata. O fogo se alastrou rapidamente e logo era possível ver chamas com 20 metros de altura.  

Além do incêndio acontecendo no Porto do Recife, o perigo maior era que as chamas chegassem ao Parque de Tancagem do Brum, localizado a menos de 500 metros do Jatobá. O local era depósito de combustível das principais empresas que abasteciam Pernambuco. De acordo com os técnicos da época, uma explosão seria catastrófica, destruindo tudo num raio de cinco quilômetros, incluindo os bairros do Recife, Santo Antônio, Boa Vista, Brasília Teimosa e Pina.

Os bombeiros foram acionados por volta da 1h e 30 da madrugada. Inicialmente três oficiais de guarnição de resgate subiram no Jatobá para salvar um jovem, que estava desacordado. Enquanto isso, com a ajuda de uma bomba do próprio Porto do Recife, outros dez bombeiros tentavam conter as chamas. Pelo risco de explosão, o Bairro do Recife passou a ser evacuado.

Em meio a esse caos, o prático da barra Nelcy sugeriu que a melhor solução era rebocar o navio para longe do porto. Responsável pelo manuseio das embarcações, ele chamou para si mesmo a responsabilidade e o risco de deslocar o Jatobá, visto que o casco do navio poderia sucumbir ao fogo a qualquer momento.

Mas antes mesmo de deslocar o navio em chamas, coube ao prático afastar os outros dois navios, que também estavam carregados de produtos inflamáveis. “O navio Jatobá tinha mais de 1500 toneladas de gás de cozinha, e haviam outros dois navios também carregados de gás próximos ao Jatobá. No total eram mais de 4500 toneladas de gás que poderiam explodir e acabar não só com milhares de vidas, mas também com todo o patrimônio histórico e cultural do Recife”, disse Nelcy Filho, primogênito do herói.

 (Nelcy Campos Filho. Foto: Rômulo Chico/ESP DP Foto.)
Nelcy Campos Filho. Foto: Rômulo Chico/ESP DP Foto.

O prático amarrou um rebocador à parte dianteira do navio em chamas, e o levou para uma distância de quatro milhas (aproximadamente seis quilômetros) do Porto do Recife, na esperança que o gás fosse consumido e o fogo cessasse.

De acordo com Luiz Augusto Correia de Araújo, também prático e amigo pessoal de Nelcy Pai, a coragem e o altruísmo do homem são inexplicáveis. “Ele teve a coragem que eu não tive. Foi movido por uma força interior inexplicável. Ele teve muita sorte, pois nada deu errado, e tinha tudo para dar errado, então admiro muito o que ele fez, pois além de ser um exemplo de heroísmo, também teve muita sorte”, afirmou.

 (Luiz Augusto Correia de Araújo. Foto: Rômulo Chico/ESP DP Foto.)
Luiz Augusto Correia de Araújo. Foto: Rômulo Chico/ESP DP Foto.

O Jatobá foi levado pelos ventos até o Forte Pau Amarelo, em Paulista, onde coube a Luiz Augusto o trabalho de conter as chamas. No entanto, a natureza ajudou o prático. “Quando chegamos perto do navio, caiu um temporal muito forte e apagou o fogo. Nunca vi uma chuva como aquela. Depois que o fogo apagou ficamos muito felizes porque a iminência de uma explosão havia acabado, então trouxemos o navio de volta”, disse.

Nelcy faleceu cinco anos depois do ocorrido, em 1990, mas sua memória permanece viva, servindo de inspiração e orgulho para sua família e amigos. “Meu avô deixou para sociedade uma mensagem de altruísmo e heroísmo, de dar a vida pelo próximo, o que é muito raro hoje em dia. Como família, temos nos esforçamos para que esse feito seja tenha projeção e assim resgatar esses valores”, disse Kléber Freire, neto de Nelcy.

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