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Vida Urbana
TRAGÉDIA

Com dezenas de mortos e desaparecidos, Jardim Monteverde é tomado por famílias enlutadas

Publicado: 29/05/2022 às 20:30

Bairro foi o ponto mais afetado pelos deslizamentos de terra registrados na RMR/Rômulo Chico/DP Foto

Bairro foi o ponto mais afetado pelos deslizamentos de terra registrados na RMR/Rômulo Chico/DP Foto

(Com informações de Rômulo Chico)

 

"Perdi 11 pessoas da minha família". É com a voz embargada que Luiz Estevão inicia seu relato sobre a maior tragédia dos últimos anos registrada em Pernambuco. O grande volume de chuvas que assola o estado desde a última quarta-feira (25), vem arrastando barreiras, casas e famílias inteiras. 


No bairro de Jardim Monteverde, no Ibura, o luto generalizado tomou conta de quem mora no local. Considerada o ponto mais afetado pelas chuvas, a comunidade que fica na divisa entre os municípios do Recife e de Jaboatão dos Guararapes se reúne para velar seus mortos. 

Luiz Estevão perdeu 11 parentes na tragédia"A barreira caiu e derrubou a casa do meus irmãos. Estou muito abalado porque perdi meu irmão, irmã, cunhada, meus sobrinhos, 11 pessoas da minha família. Não tenho nem palavras, não é fácil. Meu filho me ligou e avisou. Já encontraram todos, vão ser enterrados juntos amanhã", comentou Luiz Estevão.

 

A dor dele se soma a de diversas famílias pernambucanas neste domingo (29). De acordo com o último balanço divulgado pelo governo de Pernambuco às 18h, 84 pessoas perderam a vida em desdobramentos das fortes chuvas que atingem o estado desde a última quarta-feira (25). Desse total, 79 morreram neste final de semana, a maior parte desses no Ibura, bairro periférico que é dividido entre os municípios do Recife e de Jaboatão dos Guararapes. 

Diversas casas foram engolidas pelo barro que cedeuDe acordo com os moradores, esse não é o primeiro deslizamento que acontece no local. O último, foi registrado há pouco mais de um ano, no dia 12 de maio de 2021. Naquela data, Marília Costa perdeu a casa onde morava e ficou presa nos escombros junto com os filhos, precisando ser resgatada pelos moradores da comunidade. Desde então, ela passou a morar em outro lugar.

É com o olhar de quem assiste uma tragédia anunciada e repetida que ela questiona a atuação do poder público. "Quantas mortes não já aconteceram? Era para ter feito muro de arrimo e a prefeitura ter tomado conta", afirmou.

No deslizamento deste final de semana, Marília comenta aliviada que não perdeu parentes. "Minha sogra perdeu o imóvel e tudo que tinha investido em uma lojinha, não conseguiu retirar nada. É doloroso, a pessoa não tem mais o que falar, o choro prende na garganta. Estamos vivendo em um cenário de guerra", observou. 

Trabalho de busca segue no localPara alguns, a angústia é pelos familiares que ainda não foram localizados. É o caso de Luiz Severino da Silva, que veio do município de Aliança, localizado a cerca de 90 km do Recife, em busca do filho que permanece soterrado. "No sábado, de 5h da manhã, ele estava levantando para fazer compras quando a chuva derrubou a casa. Acharam a mulher dele e disseram que ele tá soterrado", comentou. 

O sentimento de revolta pela demora nas buscas também é presente no local. "Só tem duas pessoas trabalhando, vim do interior, passando fome, necessidade, dormindo pelas calçadas. Quero justiça", constatou Luiz. 

Moradores e familiares aguardam pelo resgate dos soterradosNa comunidade em que os relatos de morte parecem não ter fim, Suzane da Silva aguarda o resgate dos corpos dos familiares. "Meu padrasto já foi encontrado, mas meu irmão, minha cunhada e minha mãe ainda estão soterrados. Morei aqui 26 anos da minha vida. Essa casa para onde meu irmão se mudou já foi minha, ele veio para cá tem uns 15 dias. Minha irmã, o marido e o enteado conseguiram sair com vida", explicou. 

Segundo Suzane, parte da família foi vítima de um segundo deslizamento. "No primeiro, minha mãe e meu padrasto saíram e foram para a casa da vizinha da frente, foi quando aconteceu o segundo deslizamento". Já a casa do irmão e da cunhada teria sido levada no primeiro momento. Agora, assim como para outras dezenas de famílias no estado, a busca é por um encerramento digno. "Só quero um velório decente para eles", finalizou. 

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