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Giovanni Santoro, da Polícia Federal, adota animal arremessado em Candeias; atitude foi por receio de "esquecimento" em ONG

Publicado em: 07/04/2022 14:58 | Atualizado em: 08/04/2022 09:57

"A história dele me comoveu e eu o adotei. Esse tipo de abandono é frequente", alertou Giovanni (Foto: Arquivo Pessoal)
"A história dele me comoveu e eu o adotei. Esse tipo de abandono é frequente", alertou Giovanni (Foto: Arquivo Pessoal)
O livro daquelas histórias onde o “final feliz” acontece e a fé na humanidade se renova ganhou mais um capítulo. Em meio ao mês de abril, que tem como tema a prevenção contra crueldades em animais, um cachorro foi arremessado na Avenida Presidente Kennedy, em Candeias, por um homem e atropelado na sequência, enquanto corria atrás do veículo que o transportava. Hoje, após ter sido resgatado e submetido a uma cirurgia, o animal que agora se chama “Hamburguinho” foi adotado pelo chefe de comunicação da Polícia Federal do estado, Giovanni Santoro, e tem um novo lar. Uma nova vida.

O dono do cachorro relembrou o começo da história e o passo a passo do resgate que ia ser encerrado numa ONG. Entretanto, a incerteza de uma adoção deu lugar a certeza de uma nova companhia. “O homem abriu a van, jogou o cão na estrada, e o bichinho correu atrás e foi atropelado por um carro que vinha atrás. Por sorte, uma pessoa que estava passando na hora resgatou o cão que estava agonizando. Ele foi operado e depois ia ser enviado para uma ONG, para uma adoção que poderia não vir”, afirmou.

O chefe de comunicação da Polícia Federal fez questão de mencionar a temática do abandono animal, ainda muito frequente nos dias atuais. “A história dele me comoveu e eu o adotei. Esse tipo de abandono é frequente”, complementou Giovanni.

O homem que cometeu o crime ainda não foi identificado pela polícia, e a informação de que ele era mesmo o dono do animal ainda não foi confirmada, mas é o que acredita Santoro. “Ele abriu a porta e soltou o bichinho na estrada, depois sumiu. Ele ainda não foi identificado, mas acreditamos que era (o dono), porque o cachorro saiu correndo em direção ao veículo dele, provando o vínculo afetivo”, disse. 
 
Hamburguinho em momento de descanso na sua nova casa, após ter sido adotado por Giovanni (Foto: Arquivo Pessoal)
Hamburguinho em momento de descanso na sua nova casa, após ter sido adotado por Giovanni (Foto: Arquivo Pessoal)
 
 
O resgate

Enquanto fazia o percurso de Barra de Jangada até Boa Viagem, a bancária Camila Lucena, de 34 anos, se deparou com o atropelamento do cachorro que já estava abandonado. Ela, na companhia do marido, fez o primeiro resgate. “Eu e meu marido estávamos voltando da casa do meu sogro, parados num cruzamento e eu só vi quando o carro pegou ele. Vi quando o carro bateu e ele rodou na pista, aí tirei o cinto de segurança do carro e corri”, disse.

Mas a tarefa não foi fácil. De cara, Camila se deparou com o instinto animal de defesa do cachorro, que tentou mordê-la no primeiro contato. Só depois, com mais mãos, ele conseguiu ser levado ao hospital. “Quando cheguei nele, tentei pegar e ele tentou me morder, porque tava com muita dor. Aí veio um rapaz que já estava na rua e ajudou a gente a pegar ele e colocar dentro do nosso carro. Esse rapaz disse que viu quando uma van abandonou ele e ele tava correndo atrás”, afirmou.

No hospital, ele foi levado para fazer alguns exames, de sangue e imagem, e ficou constatado que sofreu múltiplas fraturas. “Colocamos ele no carro e o levamos à emergência. Ele tava sangrando muito, machucou a boca e perto do olho. Tava sangrando muito pelo pênis também. Lá na emergência, ele fez raio-x, ultrassom e exame de sangue. Deu que ele teve múltiplas fraturas”, comentou. 
 
Depois desse primeiro contato clínico, o cachorro realizou mais procedimentos durante alguns dias, ainda enquanto se recuperava sob os cuidados de Camila e o marido.
 
Mais cuidados com Hamburguinho

A médica veterinária que passou a acompanhar Hamburguinho foi Cristiane Aguiar. Em seu consultório, ele foi atendido durante 25 dias, período que antecedeu uma cirurgia. O caso dele, inclusive, foi tratado como uma exceção no consultório.

“Ele foi atendido inicialmente no hospital Pet Dream, e veio para mim alguns dias depois para ficar internado, enquanto aguardava a cirurgia. Eu não possuo internamento no meu consultório, mas como se tratava de um animal  que havia sido abandonado, e eu moro no mesmo local do consultório, resolvi abrir uma exceção”, contou a médica, antes de relembrar a situação de fragilidade em que encontrou o animal nos primeiros contatos.

“Ele gritava de dor e não tinha a menor possibilidade de ficar em um lar temporário. Ele precisava  de muitos cuidados  e medicação de horário”, explicou.

Além do estado físico do cachorro, o emocional também se mostrava abalado, conforme alegou a médica. Ela também acredita que o abandono surgiu da própria família do animal. “O que mais chamava a minha atenção era a tristeza no olhar dele. Geralmente, um cão resgatado tem um olhar de gratidão, mas Hamburguinho não, ele realmente estava esperando sua família que o abandonou vir buscar", disse.
 
Crime contra animais

Maltratar animais é crime, e o tempo da pena pode se estender por até cinco anos, sendo aumentada em caso de morte do bicho.

De acordo com o artigo 32 da lei de número 9.605/98, a reclusão é válida para quem “praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”. A pena, nessas situações, é de três meses até um ano, além do pagamento de uma multa.

No primeiro parágrafo, a lei define que em caso de gatos e cachorros, a pena dessas mesmas atividades varia de dois até cinco anos, além de multa e proibição da guarda. E no parágrafo seguinte, aponta que pode haver o aumento de um sexto a um terço na pena, caso ocorra a morte do animal maltratado.
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