HISTÓRIA
Acervo de quase 200 anos do Diario de Pernambuco será restaurado e digitalizado pela UFPE
Por: Juliane Marinho
Publicado em: 19/03/2022 08:00
Foto: Sandy James / DP Foto |
Toda informação, história e memória presentes nos folhetos do Diario de Pernambuco, instituído no ano de 1825, que demonstram desgaste em decorrência da ação do tempo e de seu material, passará por etapas para sua reconstrução. “É um processo de resgate, de preservação e de acesso. Este ciclo começa no resgate, onde se encontra todo o processo de preparação, higienização e recuperação do material. Em muitos casos, esses volumes passam pela conservação e restauro. Quando eles já estão equilibrados e estabilizados, podem ser digitalizados. Depois do tratamento de digitalização, tem um processo de custódia, uma guarda para fins de preservação digital, feito dentro de um conjunto de regras e protocolos internacionais. A terceira e última parte do procedimento é a construção de um banco de dados e a disponibilização desse material na rede de alcance mundial para um acesso universal”, explicou o professor de pós-graduação em Ciências da Informação e coordenador do Laboratório Liber, da UFPE, Marcos Galindo.
O professor ainda descreve o processo que resulta no desgaste dos periódicos e o quanto de restauração será relevante para a preservação. “O material sofre um processo de desintegração em função de vício intrínseco do papel, que foi construído com pasta química e ácido. Então, não se deve estar manuseando este impresso, apenas em ocasiões muito específicas, muito especiais. A digitalização é justamente para evitar o manuseio e ampliar o acesso a esse patrimônio cultural que está guardado e conservado nas páginas do Diario há quase 200 anos”, ressaltou.
De acordo com Marcos Galindo, todo conhecimento registrado a partir da cobertura da Política, da Economia, da Educação, da Cultura, da Literatura, das Artes presentes nas páginas do jornal são valiosos para a sociedade. “Pernambuco conduziu a economia do país durante quase 400 anos, então construiu uma tradição. Temos as primeiras escolas, os primeiros jornais publicados. Pernambuco, teve a economia mais pujante do país até o século 19, então é natural que essa economia tenha gerado um desenvolvimento social, memória e patrimônio. O Diario de Pernambuco, na verdade, é o reflexo dessa memória, ele é onde a sociedade depositou partes importantes dessa memória. Recuperar os volumes é importante para o Diario como empresa, isso é atestado de sua função cultural, social. Mas, ele é muito mais importante para o país e Pernambuco, para o que a gente chama de Nação Pernambuco”, reforça.
Toda restauração será feita pelo Laboratório Liber, associado ao Departamento de Ciência da Informação (DCI) da UFPE. O processamento de restauração será realizado por lotes dos periódicos. Nesta quarta-feira (16) foram enviados 21 exemplares à Universidade para serem recuperados. “Resgatamos para o Laboratório um primeiro lote de livros do acervo para avaliar o que precisa ser feito. Alguns volumes somente com a higienização e a leitura já vão ser digitalizados. Outros, que precisarão de um tratamento anterior de estabilização, de conservação, de restauro, vão demorar um pouco mais. Estamos buscando fundo com organizações nacionais e internacionais para tentar desenvolver justamente esse procedimento de conservação, restauro”, afirmou o professor.
Foto: Sandy James / DP Foto |
O professor lembra que o jornal já passou por um processamento de microfilmagem conduzido, há décadas, pelo jornalista Leonardo Dantas Silva. A proposta atual, que tem como enfoque a digitalização do arquivo informativo, aprimora e reforça os fins de preservação, além de agilizar a disponibilização do material ao público. “Temos uma previsão que o processo que envolve Diario de Pernambuco e outros jornais vai durar mais de dez anos, contando o procedimento de restauração, envolvendo todo ciclo. Mas, as pessoas não vão ter que esperar este período para ver os jornais, uma parte disso já vai está sendo disponibilizada imediatamente, talvez nos próximos meses já tenha algum material para entregar”.
Por ser o jornal de quase 200 anos de trajetória, o professor Marcos Galindo destaca que pode ser possível que falte alguns volumes nas coleções que estão sendo recuperadas, por isso, outras instituições vão cooperar com a reconstrução do acervo do Diario. O pesquisador ainda enfatiza a grandiosidade que o procedimento de restauro trará. “Acentuar a relevância cultural desse patrimônio não é uma coisa do Diario de Pernambuco, não é uma coisa de Pernambuco, é um patrimônio de interesse da América Latina, dos países falantes de língua portuguesa”, afirmou.
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