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AÇÃO SOCIAL

ONG que atua na educação e defesa da população do Coque fala sobre seus 35 anos de atividades

Publicado em: 30/09/2021 20:09

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação
A comunidade do Coque, considerada uma das maiores periferias da cidade do Recife, é um território que vai muito além da imagem que o imaginário social recifense persiste em disseminar. O Núcleo Educacional Irmãos Menores de Francisco de Assis (Neimfa) foi além desse imaginário, e viu no Coque a oportunidade de mudar a vida daqueles habitantes com ações sociais, cujo principal objetivo é transmitir amor, liberdade e compaixão através da educação.

No último domingo (26), a associação sem fins lucrativos e sem vinculação político-partidária ou religiosa comemorou o aniversário de 35 anos de luta em defesa do caráter formativo que prioriza as vidas e ajuda à população do Coque. Para o Neimfa, a comunidade guarda a memória viva e pulsante da cena cultural do local, do modo de vida coletivo e, sobretudo, da existência política dos seus habitantes.

Alice Andrade, moradora do Coque, diretora do Núcleo de Direitos Humanos e Cultura de Paz do Neimfa, e mestranda em Educação pela UFPE, falou sobre as conquistas, atividades e objetivos da instituição, bem como as dificuldades enfrentadas pela comunidade. Para a diretora, o Coque é um extenso espaço formativo que vem ensinando a cultivar a política das amizades e resistir pelas vidas.

“Cercado por mangues e rio, o Coque é uma ilha mítica que sofre com a insistente ameaça do feitiço da especulação imobiliária que deseja o apagamento não só do território afetivo do Coque, como de sua dimensão geográfica. Por isso, o Coque diante de toda sua história merece nosso cuidado e nossa proteção. Ainda que essas forças perversas continuem atuando para nos matar ou nos deixar morrer, estamos aqui para lembrar e fazer ecoar que o Coque vive e R(existe)”, expressou a diretora.

Alice explicou que para destacar a importância que o Neimfa tem para o Coque, é preciso destacar primeiro o que a comunidade significa para o Neimfa, pois sem ela e a vida coletiva, não é possível pensar nas atividades da ONG. “O Neimfa surge inseparável desse território geográfico-afetivo”, assinalou, e complementou dizendo que a instituição continuará agindo em rede “para lembrar que a periferia é lugar de amar e viver, não território para matar ou deixar morrer”.

O Neimfa acolhe, cotidianamente, 340 pessoas através de diversas atividades diárias. Os grupos são formados por 100 crianças, 80 adolescentes e jovens, 100 adultos e 60 idosos. A diretora ressalta que as ações da ONG são guiadas pelo desejo de possibilitar a existência de um mundo melhor, principalmente para os grupos mais vulneráveis. 

EDUCAÇÃO
As atividades sociais e educativas do Neimfa acontecem durante todos os dias da semana e estruturam-se, organizacionalmente, a partir de cinco núcleos: Direitos Humanos e Cultura de Paz; Arte e Cultura; Gênero e Saúde; Educação e Cidadania; Articulação e Desenvolvimento Comunitário. 

Sensivelmente, essa estrutura tem uma forma de mandala: o mandala das cinco sabedorias, indicando as qualidades e habilidades com as quais nos movemos no mundo. Cada núcleo materializa uma cor/luz que manifesta uma sabedoria correspondente. A proposta educativa peculiar e sofisticada do Neimfa atraiu a atenção e reconhecimento em várias instâncias, tornando-se alvo de diversas produções acadêmicas em diferentes áreas desde 2005. 

Alice cita que o Neimfa ganhou o Prêmio Nacional de Direitos Humanos, em 2009, e o reconhecimento do Ministério da Educação como experiência criativa e inovadora do Estado de Pernambuco, em 2016. Tais conquistas serviram de influência para a Educação Básica em todo o país, iniciativa que teve continuidade através do Movimento de Inovação na Educação.

“O método formativo do mandala nos proporciona mudar de posições e acessar outros mundos de visão, ou seja, é um caminho no qual somos desafiados, através das atividades e encontros, a mudar de posições, modificar nossa própria forma, metamorfosear nosso modo de se relacionar consigo, com o outro e com o mundo desde pontos de vistas mais amplos: o ponto de vista das luzes”, explicou a diretora do Núcleo de Direitos Humanos e Cultura de Paz, Alice Andrade.

Como planejamento para alcançar melhorias educacionais nos próximos anos, o Núcleo de Direitos Humanos e Cultura de Paz vem desenvolvendo uma série de atividades que possibilitam alcançar dois pontos importantes, de acordo com a diretora: 1)  Formação do Educador Guerreiro e a mandala de uma pedagogia fantástica, que é uma atividade diária junto às crianças, no turno da tarde, cuja proposta é formar um novo tipo de gente. 2) Formação em Valores Humanos e a mandala dos(as) príncipes(as) nascidos do mangue, através de atividade semanal, aos domingos pela manhã, junto às crianças, jovens e idosos, que visa criar contextos e condições para formar mundos em que a amizade, o vínculo, e o companheirismo sejam o principal campo de ação. 

“A proposta formativa do Núcleo de Direitos Humanos e Cultura de Paz para os próximos cinco anos passa pelo forte desejo de redescobrir a magia e fazer de nossas práticas educativas um dispositivo mágico. Essa descoberta nos coloca no exercício de reconhecer que a Educação passa pela modificação de nossa relação com o mundo e não na aquisição de mais ideias”, complementou a diretora Alice.

PRÓXIMO EVENTO
Neste sábado, dia 2 de outubro, será realizado o encontro 108 Horas de Paz, idealizado pelo Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) e pelo Instituto Caminho do Meio, que terá parceria com o Neimfa e outras instituições. Durante o período da tarde, o Neimfa conversará sobre ações de reconexão com as comunidades e territórios, diante dos desafios atuais, em conjunto com a Escola Caminho do Meio (Viamão/RS), a Escola Vila Verde (Alto Paraíso/GO).

O encontro será mais um dentre as diversas ações que o Neimfa realiza em parceria com instituições, grupos e movimentos sociais, visando a ampliação das atividades e um intercâmbio de propostas formativas. De acordo com a diretora Alice Andrade, as relações do Neimfa com outros atores sociais tem sido uma das atividades estratégicas de intervenções da ONG, “na medida em que, por meio de trocas significativas, encontros e partilhas, nos permitem criar ações em rede que só potencializam nossos sonhos coletivos e novos aprendizados”, declarou.

“Essa participação do Neimfa no 108 Horas de Paz, se configura como essa materialização de um desejo de construção de uma rede mágica de intervenções que tornem possível partilhar sonhos comuns e novas formas de viver. A participação da associação, como um dos atores sociais, se dá como forma de manter vivo esse nosso compromisso e nosso modo de operar. Essa é a nossa aposta de manter vivo o espírito coletivo e de rede. Sendo assim, no evento estaremos falando sobre nossas ações e atividades desenvolvidas na comunidade, levando em consideração o contexto atual”, finalizou Alice Andrade, diretora do Núcleo de Direitos Humanos e Cultura de Paz do Neimfa.

O encontro 108 Horas de Paz acontecerá das 10h às 21h de sábado, 2 de outubro. Para fazer a inscrição, ou obter mais informações, os interessados devem acessar o site: www.108horasdepaz.com.br/

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