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Drogas ilícitas podem ser detectadas pelo odor através de tecnologia desenvolvida na UFPE

Publicado em: 31/08/2021 09:50 | Atualizado em: 31/08/2021 10:33

A ideia é que o dispositivo possa ser usado em aeroportos e fronteiras e que tenha flexibilidade para ser acoplado a drones. (Divulgação)
A ideia é que o dispositivo possa ser usado em aeroportos e fronteiras e que tenha flexibilidade para ser acoplado a drones. (Divulgação)
Um dispositivo portátil de baixo custo, e que consiste em um nariz eletrônico capaz de detectar amostras de drogas ilícitas por meio do odor, foi desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). De acordo com os cientistas, o aparelho objetiva fornecer respostas rápidas com resultados em tempo real e é uma alternativa ao uso de cães farejadores na detecção de substâncias ilícitas. 
O estudo analisou amostras de maconha apreendidas pela Polícia Federal em Pernambuco. Foram utilizados cigarros e um pseudonarcótico da maconha para fazer a diferenciação, uma vez que o pseudonarcótico tem odor similar ao da maconha e é utilizado no treinamento dos cães farejadores. Os pesquisadores também conseguiram detectar 100% das amostras de maconha analisadas e diferenciá-las de outras substâncias.

“Nós construímos um protótipo composto de uma matriz de sensores baseados em semicondutores de óxido metálico e utilizamos métodos de reconhecimento de padrões para criação de bibliotecas do perfil volátil das amostras analisadas. Além disso, implementamos uma arquitetura baseada na internet das coisas (IoT), possibilitando que durante a utilização do dispositivo, os resultados possam ser integrados e visualizados remotamente em tempo real”, explica um dos desenvolvedores do projeto, Lucas Sampaio.

A ideia dos desenvolvedores é que o dispositivo possa ser usado em aeroportos e fronteiras e que tenha flexibilidade para ser acoplado a outros equipamentos, como, por exemplo, um drone. O pesquisador ressalta que o trabalho é uma alternativa ao uso de cães farejadores já que os animais possuem fatores subjetivos que podem influenciar na detecção precisa das substâncias ilícitas.

“Existe uma variedade de condições e distúrbios que afetam o olfato desses animais, tais como idade, trauma, medicação e fatores ambientais. O trabalho também traz contribuições para o desenvolvimento social, visto que o tráfico de drogas está relacionado ao crime, ao vício e a problemas de saúde. E é importante pontuar que o sistema é uma abordagem sem reagente que não destrói a amostra, permitindo assim uma reanálise que muitas vezes é necessária nas ciências forenses”, esclarece.

Os pesquisadores também conseguiram detectar 100% das amostras de maconha analisadas e diferenciá-las de outras substâncias com odor semelhante como cigarro e o pseudonarcótico da maconha – composto por partes da molécula da maconha e celulose. Essa taxa foi obtida utilizando o algoritmo de projeções sucessivas em conjunto com a análise de discriminante linear.

Para Lucas Sampaio este trabalho é de extrema importância porque fornece alternativas para combater questões sérias presentes na sociedade. “Eu sempre quis aplicar a computação para resolver problemas reais. E este estudo permite isso, além de apresentar um valor social no combate ao tráfico e servir também como alternativa à demanda de dispositivos rápidos, portáteis e de baixo custo para o teste de drogas”, afirma ele.

De acordo com o diretor do Lika, José Luiz de Lima Filho, a tecnologia foi totalmente desenvolvida dentro do Lika por um pesquisador que tem bastante experiência no uso da tecnologia para solucionar problemas sociais.

“Lucas já desenvolveu outros trabalhos que utilizaram tecnologia para solucionar problemas reais. Ele transformou toda a ideia que ele tinha nesse projeto essencial de uso de sensores junto a uma Tecnologia de Informação (TI), além dos drones e softwares para que possamos ter esse produto disponível que poderá auxiliar problemáticas da nossa sociedade como a detecção de doenças e agora, também as drogas”, ressalta.

Fruto de pesquisa científica
O artigo que detalha os materiais e métodos utilizados para a criação e funcionamento do equipamento, intitulado “Projeto e implementação de um sistema de nariz eletrônico para detecção de maconha em tempo real” foi publicado na revista 'Instrumentation Science & Technology' em fevereiro deste ano.

O estudo também está presente na tese de doutorado “Desenvolvimento de um sistema de e-nose para detecção de maconha em tempo real” apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Aplicada à Saúde do Lika e defendida pelo cientista da computação Lucas Sampaio Leite, em março passado, com a orientação e coorientação dos professores José Luiz de Lima Filho e Jones Albuquerque.

Atualmente, os pesquisadores estão trabalhando no aperfeiçoamento do sistema, na criação de novas bibliotecas para outras classes de drogas, e no acoplamento do sistema e-nose a um drone por meio de um sistema automático de amostragem de ar.
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