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Solidariedade

Pandemia aumentou desigualdades e fez crescer a importância do trabalho social

Publicado em: 03/11/2020 08:31 | Atualizado em: 03/11/2020 09:01

 (Foto: Divulgação.)
Foto: Divulgação.
A pandemia do novo coronavírus não provocou apenas uma crise na saúde. Também acentuou a desigualdade social, o desemprego e a fome em todo o país. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com base em dados do IBGE, divulgada em outubro, demonstrou que a renda individual do trabalhador caiu em média 20,1% e a desigualdade subiu 2,82% no primeiro trimestre deste ano. Para diminuir esses efeitos negativos, que repercutem de maneira mais cruel na população mais pobre, ações sociais se fortaleceram nesse período ao mesmo tempo que os voluntários precisaram se reinventar, arriscando a própria saúde para fazer o bem a quem precisa.

Foi através do Sopão Solidário que a vida de Edmilson Santos, de 56 anos, mudou. Desempregado, sem ter onde morar, ele estava há oito meses dormindo na rua. Os bens que tinha, R$ 1,3 mil em dinheiro e todos os documentos foram roubados durante a madrugada na Rua do Imperador, no bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife. O pesadelo aumentou até que ele teve uma oportunidade de recomeçar.

Foi através do coletivo Unificados pela Pessoa em Situação de Rua, durante a doação de marmitas, que Edmilson recebeu uma proposta de trabalhar como auxiliar de serviços gerais. Neste mês de outubro, ele completou três meses de carteira assinada e está morando em uma quitinete oferecida pela Pastoral do Povo de Rua, da Arquidiocese de Olinda e Recife temporariamente.

“Na rua a gente não dorme. Meu maior medo sempre foi a violência. Depois que fui roubado, fiquei em desespero, sem saber como recomeçar. Todo o dinheiro que eu tinha era para comprar um barraco. Fiquei sem nada. Só me alimentava com a distribuição de comida. Meu sentimento hoje é de alívio por ter sobrevivido”, relata.

Ao conhecer a história de Edmilson, o empresário Gustavo do Vale, 35, ofereceu a ele a oportunidade de emprego. “Meu primeiro contato com Seu Edmilson foi organizando as filas do projeto nos primeiros meses da pandemia. Sempre o via sentado, aguardando pacientemente sua vez, esperando quem tivesse mais pressa passar na sua frente. Isso despertou a curiosidade em o conhecer mais, saber o que tinha o levado àquela situação”, diz.

Edmilson saía todos os dias de Olinda, onde dormia em frente à UPA, para o Recife Antigo, no início do dia, para receber o café da manhã e ficava até o jantar. “Resolvi apostar nele, então o convidei para trabalhar comigo. Seu Edmilson me fez despertar para um novo mundo, e perceber que é possível ajudar pessoas em situação de rua”, conta Gustavo.

O próximo sonho a ser conquistado é a casa própria. Uma vaquinha virtual foi criada para arrecadar dinheiro e comprar uma casa para ele. “Só de ter uma cama para dormir, um banheiro para tomar banho, já sou grato. Realmente às vezes parece que estou sonhando. Mas meu sonho é ter uma casa que eu possa dizer que é minha”, diz.

Para retribuir o apoio, Edmilson atua como voluntário na distribuição de marmitas e sua história serve de inspiração. “Agora eu ajudo como posso para que outras pessoas também tenham a mesma oportunidade que eu tive. Quem está na rua precisa de mais apoio. Só recebi ajuda de pessoas que sensibilizam com quem está nessa situação. Deveriam criar mais abrigos. Porque, assim como foi comigo, ter um teto para morar muda vidas”, conta.

Marmita, banho e roupa limpa para quem precisa
Foi com o olhar de preocupação para as pessoas que vivem nas ruas do Recife que surgiu o coletivo Unificados pela Pessoa em Situação de Rua. Desde março o grupo organiza distribuição de marmitas, oferece banho e troca de roupas no centro da cidade. Por dia, são distribuídas 1,8 mil marmitas montadas com alimentos doados.

A ação que tinha proposta de ser pontual, começou no Recife Antigo e agora está atendendo outros quatro bairros da Região Metropolitana do Recife (RMR) e já tem três pontos fixos. O grupo ganhou o apoio dos Samaritanos, através da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e do Armazém do Campo, liderado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“Eu vejo que muitas pessoas estão atrás de uma oportunidade e não têm. A população de rua é esquecida, invisível. Muitas vezes a gente passa, vê e não faz nada. O governo muito menos. Eu passei a olhar essas pessoas com muito mais carinho e atenção e ajudá-las se tornou minha missão de vida”, comenta Luchino Marchi, 42, coordenador do coletivo.
 
Como ajudar
 
Unificados pela Pessoa em Situação de Rua
Instagram: @unificadospsr

Pontos de assistência da Marmita Solidária:
Avenida Martins de Barros, 387, Santo Antônio
Avenida Alfredo Lisboa, s/n, Recife Antigo
Praça da República, 281, Santo Antônio, Recife. (banho e troca de roupas).

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