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Profissão perigo: Trabalhadores enfrentam rotina de ameaças e agressões em PE

Publicado em: 04/10/2020 10:00 | Atualizado em: 04/10/2020 09:47

Funcionários da Celpe vivem rotina de ameaças e agressões. (Foto: Arquivo DP)
Funcionários da Celpe vivem rotina de ameaças e agressões. (Foto: Arquivo DP)

No primeiro ano de trabalho na Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), o eletricista Carlos (nome fictício), 38 anos, foi agredido com um taco de sinuca enquanto tentava realizar um corte de energia em uma residência no Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife. A situação mostrou para ele como seria a sua rotina de trabalho nos anos seguintes.

Ameaças, agressões e tentativas de homicídio fazem parte do dia a dia de profissionais que atuam na Celpe e em outros segmentos, como oficiais de justiça. A morte do eletricista José Reginaldo de Santana Júnior, de 31 anos, assassinado em Limoeiro, Agreste do estado, no último dia 19, após o corte do fornecimento de energia de um haras, reacendeu o debate sobre os riscos que trabalhadores sofrem ao exercer suas profissões.   

Ao longo dos 15 anos de Celpe, Carlos já viveu diversas situações de risco. "Além do medo de levar um choque durante o trabalho, convivemos com o temor de sermos agredidos por clientes durante a execução do nosso trabalho. Após o episódio no Cabo, fui transferido para Barreiros (Mata Sul do estado). Tive que deixar o meu trabalho e a minha casa por causa dessa situação. Depois, fui transferido para Santa Cruz do Capibaribe, onde fui ameaçado com arma de fogo por um dono de parque de diversões", relata.

Em nota, a Celpe destacou que condena veementemente qualquer conduta violenta, sobretudo que atente contra a vida. "O departamento Jurídico da concessionária está acompanhando a instauração do procedimento investigativo policial e demanda das autoridades públicas o pleno cumprimento da lei", destacou a companhia, no comunicado sobre a morte de Reginaldo.

O diretor financeiro do Sindicato dos Urbanitários de Pernambuco (Sindurb-PE), José Barbosa Filho, afirma que ameaças e agressões são frequentes no dia a dia de funcionários da Celpe. "Esses cortes não têm hora para acontecer. Pode ser às 22h, de madrugada, e em todo tipo de lugar. O eletricista não tem a opção de recuar quando está sendo ameaçado. Se ele sai com a obrigação de fazer dez cortes, precisa voltar com os dez cortes realizados. São muitos os relatos de trabalhadores ameaçados verbalmente e com armas", diz.

Entre oficiais de justiça, a rotina não é muito diferente. O oficial Roberto Machado, 54 anos, convive com ameaças e agressões enquanto tenta trabalhar há 16 anos. Há três anos, estava no bairro do Guadalupe, em Olinda, tentando cumprir um mandado de busca e apreensão de um veículo, quando o financiador do carro jogou gasolina sobre o oficial e ameaçou tocar fogo nele.

"O homem saiu de casa já jogando gasolina em mim e no meu carro. A sorte foi que, quando tentou acender o fósforo, o filho o segurou, evitando uma tragédia, pois a rua estava cheia de gente", conta Roberto. Segundo ele, um Boletim de Ocorrência foi registrado, mas o caso não teve desfecho. "Não houve audiência ou qualquer resultado, após as perícias na minha roupa e no meu carro, que ficou com a pintura danificada por causa do combustível. Além dos riscos efetivos, tem a impunidade", ressalta.

O trabalho solitário do oficial de justiça coloca o profissional em risco, de acordo com o presidente do Sindicato dos Oficiais de Justiça de Pernambuco (Sindojus-PE), Glaucio Angelim. "São muitas as situações, que vão de ameaça verbal a tentativas contra as vidas dos oficiais. Estamos investigando uma ocorrência de uma colega que estava em Boa Viagem quando um carro foi jogado contra ela", afirma. "Queremos criar um núcleo em parceria com a Polícia Militar para oferecer informações sobre as fichas criminais das pessoas que serão abordadas pelos profissionais e também para garantir a segurança deles", completa Angelim.

Recompensa por suspeito

Nesta sexta-feira (2), a Celpe anunciou que, em parceria com o Disque Denúncia Agreste, está oferecendo uma recompensa de até R$ 20 mil para quem fornecer informações que levem à localização e prisão do acusado pelo assassinato de José Reginaldo. A quantia inédita é a maior já oferecida no Estado para auxiliar na captura de um suspeito de praticar crimes.

Reginaldo foi executado após realizar a suspensão legal do fornecimento de energia por inadimplência de uma propriedade rural. Após cometer o homicídio, o proprietário do Haras Vovô Zito, Sebastião Ayres de Assis Neto, conhecido como Neto Santos, fugiu. Ele permanece foragido.

A Justiça de Pernambuco decretou, na manhã desta sexta, um mandado de prisão preventiva para o suspeito. Na decisão, a juíza da comarca de Limoeiro, Fabiola Michele Muniz Mendes Freire de Moura, destaca que há "prova da materialidade do delito nos autos, bem como, indícios suficientes de autoria" do crime.

A magistrada também ressaltou que o foragido é reincidente em práticas criminosas e responde por outros delitos. Sebastião já foi condenado com sentença transitada em julgado por receptação e posse ilegal de arma, crimes previstos no Código Penal Brasileiro. “Há cerca de um ano, foi preso novamente pela prática dos crimes de posse ilegal de arma e receptação, tendo sido posto em liberdade após deferimento de pedido de revogação de prisão; o que denota o receio de que, em liberdade, o representado volte a delinquir”, comenta a juíza.

A Polícia Civil de Pernambuco informou que está empenhada no cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão. Quem tiver informações sobre o paradeiro de Sebastião Ayres de Assis Neto pode entrar em contato pelo telefone (81) 3719-4545 ou por meio do WhatsApp: (81) 98256-4545 e 98170-2525. As denúncias são anônimas. As investigações do caso estão sendo conduzidas pela Delegacia de Limoeiro.
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