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Urbana propõe alternar horários de trabalho para conter aglomerações nos ônibus

Publicado em: 03/08/2020 06:30 | Atualizado em: 02/08/2020 22:03

Para a Urbana-PE, escalonamento é a tática mais viável para evitar esse tipo de cena mostrado pela foto. (Foto: Paulo Paiva/DP.)
Para a Urbana-PE, escalonamento é a tática mais viável para evitar esse tipo de cena mostrado pela foto. (Foto: Paulo Paiva/DP.)

O Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE) propôs ao governo do estado que faça uma mudança do horário de algumas atividades comerciais e serviços autorizados a funcionarem (escalonamento). A ideia é diminuir a pressão sobre o sistema de transporte público e evitar aglomerações dentro dos coletivos - um risco à saúde, nesse contexto da pandemia do novo coronavírus. Ainda, a instituição propõe a criação de um comitê gestor, com participação do poder público e do setor econômico, para monitorar o escalonamento e fazer os ajustes necessários, de acordo com os cenários que se apresentam com o passar do tempo.

A Urbana-PE protocolou a proposta do escalonamento no gabinete do governador, nas secretarias de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) e de Desenvolvimento Econômico (SDEC), e na Prefeitura do Recife. O documento, desenvolvido em parceria com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), contém uma nota técnica, explicando como funciona a ideia, e um modelo matemático, para calcular a quantidade de passageiros que o sistema pode suportar em cada horário. O secretário da Seduh, Marcelo Bruto, deverá se reunir nesta semana com o sindicato dos empresários de ônibus e outras secretarias de governo, para entender melhor a proposta.

Desde 22 de junho, o sistema de transporte público da RMR funciona com 70% de sua capacidade. O cenário tido como ideal, com 100% da frota circulando, é considerado inviável. “Essa ideia pode parecer fácil, mas temos que entender que 75% de todo o sistema é custeado pela tarifa. E mesmo com a volta gradual das atividades, a demanda de passageiros está em 50%. Há um descompasso grande entre a receita que arrecadamos e o custo operacional de por a frota na rua”, explica o empresário Marcelo Bandeira, representante da Urbana-PE.

O modelo apresentado propõe a criação de um comitê gestor, com participação do poder público e dos setores econômicos, para fazer uma avaliação periódica da situação - semanal ou quinzenal. Daí, dependendo de como esteja a demanda, aumenta ou diminui a frota circulando nas ruas. “Queremos ‘achatar a curva’ da demanda por transporte”, diz Marcelo, ao apresentar um gráfico em que mostra a concentração da demanda de passageiros por horário.
Gráfico montado pela Urbana-PE com a demanda de passageiros por horário em três ocasiões. (Arte: Reprodução/Urbana-PE.)
Gráfico montado pela Urbana-PE com a demanda de passageiros por horário em três ocasiões. (Arte: Reprodução/Urbana-PE.)

Há três recortes no gráfico. O primeiro é referente à demanda na primeira semana de março, na cor azul. Ele tem três picos - 6h, 12h e 17h. O das 6h e das 17h aparecem com mais de 100 mil passageiros, enquanto o das 12h se aproxima dos 90 mil. O segundo, na cor vermelha, menciona a segunda semana de maio, quando o pico das 6h e das 17h ficam na faixa dos 30 mil e o das 12h some. O terceiro, alaranjado, cita a segunda semana de julho, com os picos das 6h e 17h beirando os 60 mil e sem o pico das 12h. 

“Existem horários em que há superlotação e outros em que a frota fica ociosa. Por que a construção civil precisa começar às 7h, e não às 9h? Por que consultórios ambulatoriais não podem abrir às 10h? Agora não queremos que isso seja uma ordem, e sim discutido, para mudar o horário de funcionamento de algumas atividades que impactam a demanda e distribuir isso de uma forma mais homogênea ao longo do dia. O pico é algo que sempre existiu, mas não podemos mais conviver com aglomerações. E essa não é uma discussão só de ônibus, e sim de toda a sociedade”, defende.

Marcelo também rebate a questão do subsídio dado pelo governo do estado. “Ele só se aplica aos dois lotes de corredores de ônibus licitados, que são os do BRT, que representam 25% do sistema. Ainda assim, o custeio do governo não passa de 20% da arrecadação desses corredores”, afirma. Desde que a pandemia começou a impactar o serviço - em 16 de março, primeiro dia útil sem aulas -, a Urbana-PE estima que deixou de arrecadar R$ 240 milhões. O valor é 40,9% da receita obtida no mesmo período de 2019.

Em nota ao Diario, a Seduh confirma “que recebeu a solicitação da Urbana-PE sobre o pedido de escalonamento de horários e o que tema será discutido novamente, com a participação da SDEC”. A pasta também pondera que “desde a implementação do plano de retomada das atividades econômicas, o governo de Pernambuco já vem debatendo com representantes dos mais variados segmentos o escalonamento” para, dentre outros objetivos, “reduzir a pressão sobre o transporte público nos horários de pico”.

Para atestar a observação, a secretaria cita exemplos, como o horário do comércio atacadista (9h às 18h), shoppings (10h às 20h), galerias (9h às 18h) e comércios varejistas não essenciais fora de centro comercial ou shopping center com até 200 m² (9h às 18h).
Frota na Região Metropolitana do Recife circula com 70% de sua capacidade desde 22 de junho. (Foto: Tarciso Augusto/Esp. DP.)
Frota na Região Metropolitana do Recife circula com 70% de sua capacidade desde 22 de junho. (Foto: Tarciso Augusto/Esp. DP.)

Circulação e fiscalização garantidas, diz Grande Recife
Até segunda ordem, continua valendo a determinação de 70% da frota circulando nas ruas, feita pelo Grande Recife Consórcio de Transporte. Em nota, o órgão gestor informa que “tem acompanhado a retomada das atividades econômicas e feito os ajustes necessários na operação dos ônibus para atender as demandas dos passageiros”, - que se mantém em 50% há duas semanas. 

“No entanto, técnicos do consórcio têm acompanhado diariamente a operação dos ônibus e graças a este trabalho foram reativadas algumas linhas que tinham sido temporariamente suspensas, a exemplo da  141 - Jardim Monte Verde/TI Tancredo Neves, 143 - UR-06/TI Tancredo Neves, 821 - Jardim Brasil I/Estrada de Belém, 824 - Jardim Brasil II (Cruz Cabugá), 841 - Nova Olinda/ TI Xambá e 621 - Alto 13 de Maio (Príncipe)”, acrescenta a nota.

O Grande Recife também afirma que fiscaliza o cumprimento de medidas sanitárias pelas operadoras. “Do mês de março à primeira quinzena de junho, realizamos 979 autuações nas empresas operadoras por descumprimento da programação. Ressaltando que se trata de um processo administrativo em que as empresas têm direito ao contraditório e à ampla defesa”, garante.

Marcelo Bandeira, representante da Urbana-PE, justifica que a maior parte desses autos de infração são por superlotação. “É importante entender que a operadora não consegue controlar a demanda por faixa horária. A gente recebe a ordem de por 70% da frota nas ruas. Em linhas integradas com o metrô, por exemplo, vão ter excesso de gente dentro do ônibus. E é por isso que buscamos esse escalonamento dos horários comerciais”, pontua.
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