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Com internet gratuita, crianças do Pilar não conseguem estudar sem celular ou computador

Publicado em: 04/08/2020 14:00 | Atualizado em: 04/08/2020 15:51

Com apenas um celular em casa, mãe transcreve atividades das filhas para que elas estudem. (Foto: Leandro de Santana/Esp.DP)
Com apenas um celular em casa, mãe transcreve atividades das filhas para que elas estudem. (Foto: Leandro de Santana/Esp.DP)

O único celular na residência de Maria Rosângela Vasconcelos, 34, é dividido pelas cinco filhas da dona de casa na hora de estudar. Apesar de ter internet garantida desde julho pelo projeto Pilar Conectado - iniciativa do Porto Digital que disponibiliza Wi-Fi gratuito às famílias da comunidade do Pilar, no Bairro do Recife -, a falta de aparelhos eletrônicos dificulta o acesso das meninas aos conteúdos online da escola e da creche onde estudam.

Pela manhã, Beatriz Vitória, de 11 anos, usa o celular para acessar os vídeos produzidos pelas professoras da Escola Municipal Nossa Senhora do Pilar. Faz as tarefas e tira as dúvidas usando o WhatsApp. Quando ela libera o aparelho, a mãe acessa os conteúdos enviados para Maria Letícia, de 9 anos. À tarde, é a vez de Maria Lucia, 6 anos, que está sendo alfabetizada em casa pela mãe. "Pego o celular, transcrevo as tarefas enviadas pela professora para um caderno e faço os exercícios com ela. Quando tenho algum dinheiro, imprimo", conta a dona de casa.

Maria Rosângela também usa o celular para acessar as atividades enviadas para Kimberly Nayara, de 4 anos, e Marília Gabriela, de 3, que estudam na Creche Doutor Albérico Dornelas Câmara, localizada na sede da Prefeitura do Recife, no Cais do Apolo. "Para as mais novas, as tarefas online são nas terças. Além disso, elas têm as atividades que são enviadas nos kits pedagógicos (oferecidos pela Secretaria de Educação do Recife nos dias de entrega das cestas-básicas aos estudantes da rede municipal)", diz. O sonho das meninas é ter mais um celular ou tablet para otimizar a divisão na hora de estudar. Em Pernambuco, as aulas presenciais continuam suspensas até 15 de agosto.

Sem celular, filhos de Mayara Silva, 25, não conseguem acompanhar atividades da escola e da creche. (Foto: Leandro de Santana/Esp.DP)
Sem celular, filhos de Mayara Silva, 25, não conseguem acompanhar atividades da escola e da creche. (Foto: Leandro de Santana/Esp.DP)

Vizinha de Rosângela, a dona de casa Mayara Silva, 25 anos, vive situação semelhante. O único aparelho da família fica com o marido dela, que precisa usá-lo a trabalho. A mãe de Matheus Gabriel, 7 anos; Maysa Vitória, 4, e Renan Miguel, 2, tenta fazer as atividades solicitadas pelas professores, mas dificilmente consegue. "Meu filho mais velho conta que os amiguinhos estão fazendo as tarefas, aprendendo a somar, mas ele não pode fazer porque não temos um celular. O único que tem só chega à noite. Os mais novos iam para a creche, mas, agora, passam o dia brincando", afirma.

João Paulo usa o Google Classroom no celular e usa a rede privada de casa ou o Wi-Fi do Porto Digital. (Foto: Leandro de Santana/Esp.DP)
João Paulo usa o Google Classroom no celular e usa a rede privada de casa ou o Wi-Fi do Porto Digital. (Foto: Leandro de Santana/Esp.DP)

Com acesso a um aparelho celular, o estudante João Paulo Borges, 13 anos, usa a internet de casa e a rede disponibilizada pelo Porto Digital para não perder as aulas virtuais da Escola Estadual João Barbalho, onde cursa o oitavo ano do ensino fundamental. "As aulas são pelo Google Classroom. Não tenho computador, então faço tudo pelo celular. A minha maior dificuldade é quando não entendo um assunto e não tenho a quem perguntar", diz.

Acesso

O acesso à internet tem avançado em Pernambuco, de acordo com  dados levantados pela pesquisa voltada para o acesso dos brasileiros à Tecnologia da Informação e Comunicação - PNAD TIC, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números, do fim de 2018, foram divulgados em abril deste ano. Do total de 3,17 milhões de domicílios pernambucanos, 2,27 milhões (71,4%) têm acesso à rede.

No estado, 9% dos domicílios, isto é, 285 mil lares, não têm aparelho celular, acima da média brasileira, que é de 5,1%. Na Região Metropolitana do Recife (RMR), a porcentagem é de 4%. O funcionamento do serviço de rede móvel celular se estende a 82,7% dos domicílios pernambucanos. Segundo o IBGE, em Pernambuco, 1,09 milhão de domicílios, ou seja, 34,4% deles, tinham ao menos um microcomputador ou tablet. O dado coloca o estado abaixo da média nacional, de 41,7%. O rendimento médio de quem não tem computador nem tablet no estado é de R$ 668.

Rede
Ana Cláudia Miguel diz que acesso à internet ajudou na divulgação de orientações sobre pandemia. (Foto: Leandro de Santana/Esp.DP)
Ana Cláudia Miguel diz que acesso à internet ajudou na divulgação de orientações sobre pandemia. (Foto: Leandro de Santana/Esp.DP)

A gestora de recursos humanos e líder comunitária Ana Cláudia Miguel, 32 anos, ressalta que, apesar do acesso à internet garantido pelo Pilar Conectado, a principal dificuldade de alguns moradores da comunidade tem sido conseguir usar a rede Wi-Fi para dar continuidade à educação dos filhos. "Nem todos têm acesso a um celular, tablet ou computador. A internet ajudou no sentido de que temos conseguido disseminar com maior facilidade informações seguras relacionadas ao coronavírus. Criamos um grupo no WhatsApp, onde passamos orientações", pontua.

Oficialmente, nas estatísticas da Secretaria Municipal de Saúde, o Bairro do Recife é o segundo bairro da capital pernambucana com o menor número de casos da Covid-19. Foram registradas quatro confirmações da doença na ilha. O local com o menor número de casos na cidade é Pau Ferro, na Zona Norte, com apenas uma confirmação. "Uma preocupação que temos no pós-pandemia é reinserir os moradores do Pilar em suas atividades. Cerca de 90% das pessoas que vivem aqui estão no mercado informal e precisam de capacitação sobre novos protocolos quando forem voltar a trabalhar", enfatizou Ana Cláudia. 

 

   
   
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