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Degradado, Parque Memorial Arcoverde segue no abandono

Publicado em: 27/08/2020 19:59

Atualmente, os poucos equipamentos que estão em pé no Parque Memorial Arcoverde estão depredados. (Foto: Paulo Paiva/DP.)
Atualmente, os poucos equipamentos que estão em pé no Parque Memorial Arcoverde estão depredados. (Foto: Paulo Paiva/DP.)

Quem passa pelo Parque Memorial Arcoverde, no limite entre Recife e Olinda, vê um cenário distante do que se imagina para um espaço de lazer público. Mato alto, entulhos acumulados por todos os cantos e degradação de equipamentos montados na inauguração, como barras de exercício e pequenas construções, montam uma imagem diferente da planejada quando foi inaugurado, ainda que incompleto, em dezembro de 1994. No entanto, a Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur), diz que está tocando um projeto de recuperação.

Os amigos Mateus Henrique, de 20 anos, e Richard Monteiro, de 22, são mais novos que o próprio parque, mas desde que sempre as lembranças que ambos levam da memória são de abandono do espaço. “Faz anos que eu jogo bola aqui com a galera e sempre foi esse descaso aí. Só vejo de vez em quando o pessoal vir cortar o mato. Antigamente, o campo aqui tinha barra de ferro de gol. Agora nem isso tem mais. Todo ano isso aqui se destrói mais um pouco”, conta Mateus.

“Sem falar que não tem nem iluminação. E olha que a gente aqui está do lado menos pior”, acrescenta Richard. O parque tem “duas metades”. Os meninos preferem jogar do lado do Recife pelas condições melhores que encontram. “Aqui tinha um monte de quadra antigamente. Mas quando veio o Cirque du Soleil, destruíram tudo. E a parte de lá tem nada mais não. Destroem o campo de esporte e ficam jogando brita ou lixo de qualquer jeito”, prossegue. 

A pista de caminhada é quase engolida pelo mato alto que cresce por todos os lados. E quem utiliza o espaço para praticar exercícios físicos fica constrangido. “Quem vem, só vem entre de manhã até, no máximo, 16h. Porque depois disso tem muito risco de assalto. Tem usuário de droga, tem coisa de sexo (prostituição) também”, relata o entregador Vitor Manuel, de 24 anos. “Quando fazem evento aqui, cercam, montam o palco, e depois saem e deixa como está”, discorre.
Richard e Mateus tiveram que arrumar uma pequena trave de gol por conta própria para poder jogarem bola com os amigos. (Foto: Paulo Paiva/DP.)
Richard e Mateus tiveram que arrumar uma pequena trave de gol por conta própria para poder jogarem bola com os amigos. (Foto: Paulo Paiva/DP.)

Morador de Santo Amaro, o auxiliar de serviços gerais Márcio Marques da Silva, 48, tem o costume de caminhar no Memorial Arcoverde desde que ele foi inaugurado. “Quando começou, tinha várias quadras, campos de futebol, era bem iluminado, dava para trazer a família. Mas de governo em governo foi ficando abandonado. O que mantém isso aqui vivo é o Espaço Ciência”, opina.

Para ou continua?
A história do próprio parque acumula avanços e paradas que ultrapassam gestões de diversas matizes políticas. A ideia original surgiu em 1986, quando sequer seria batizado de Memorial Arcoverde. O plano era criar, diante do Centro de Convenções, um espaço de 20 hectares para a população usufruir. O projeto tinha a assinatura do paisagista Roberto Burle Marx, do arquiteto Gil Borsoi, e do arquiteto paisagista Luiz Vieira, professor de arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

“A ideia era de que fosse um parque semelhante ao do Aterro do Flamengo”, relembra Luiz Vieira. No governo de Joaquim Francisco (1990-1994), o projeto ficou maior e ganhou nome. O tamanho aumentou de 20 para 80 hectares. Mas criou-se uma polêmica: “Chamaram um outro paisagista que fez um outro desenho, sem levar em conta o que fora projetado por Burle Marx. E isso gerou uma forte reação da sociedade civil”. 

O estado manteve o que já tinha sido projetado, complementando os 60 hectares restantes e, em 23 de dezembro de 1994, o parque foi inaugurado. “Mas não foi totalmente executado o projeto. Muita coisa ficou pendente. Fizeram as quadras de esportes, mas não foi feito o espelho d’água, por exemplo. A praça de alimentação nunca chegou a funcionar”, pondera o professor. Em 1996, a chegada do Espaço Ciência, que ocupou os 20 hectares desenhados por Burle Marx, ajudou a dar mais vida à localidade
 (Foto: Paulo Paiva/DP.)
Foto: Paulo Paiva/DP.

Em 2009, época do governo Eduardo Campos (2007-2014), a passagem do Cirque du Soleil pelo estado deixou um legado negativo: foram destruídas diversas quadras de esportes que existiram para que fossem erguidas as estruturas da companhia internacional. Depois disso, boa parte desse espaço virou um grande estacionamento. “Foi feito um Termo de Ajustamento de Conduta com o governo de Pernambuco para reformar o parque. Eu e Acácio Borsoi fizemos a revisão do projeto, mas ficou congelado quase dez anos”, rememora Luiz.

“É um grande problema essa questão da manutenção dos parques, especialmente agora que a sociedade está passando por um processo de redescobrir o prazer de estar em um espaço público, de sair na rua, contemplar a paisagem urbana. De correr na praia, andar de bicicleta no parque. As pessoas fazem essa cobrança. É uma tendência do século 21”, opina.

Responsável por cuidar do espaço, a Empetur informa que “já está em andamento projeto de requalificação da área, voltado ao uso do espaço para a realização de eventos e para o lazer”, sem cravar datas, no entanto. A recuperação da parte arquitetônica irá "restaurar o projeto pioneiro concebido por Burle Marx” para o local. “Em relação aos cuidados com a área foram retomadas as ações regulares de limpeza e capinação. A Empetur anuncia, ainda, que dará início à substituição das lâmpadas do parque”, conclui a nota da instituição.
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