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Enem: Possibilidade de adiamento para maio divide alunos em Pernambuco

Publicado: 02/07/2020 às 20:00

/Foto: Inep/Divulgação

(Foto: Inep/Divulgação)

A possibilidade de adiamento da edição 2020 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para maio do próximo ano divide estudantes e instituições de ensino de Pernambuco. A maioria dos alunos brasileiros escolheu os dias 2 e 9 de maio de 2021 como melhores datas para a realização do exame. Na consulta pública lançada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as datas de janeiro de 2021 ficaram em segundo lugar e as de dezembro deste ano, em terceiro. O Inep informou que quer definir o calendário de realização do Enem ainda neste mês.

Sem acesso à internet em casa, no município de Sanharó, Agreste do estado, a estudante Camila Calazans, 19 anos, avalia positivamente o resultado da consulta pública sobre as datas do Enem. "As expectativas para este ano eram de conclusão do curso e preparação para o exame. Com a paralisação, perdemos o acesso aos estudos, como a biblioteca, o acesso à internet e, principalmente, aos professores. Na minha casa não tem internet. Uso a da minha irmã, que mora ao lado. Com o Enem em maio, conseguiremos recuperar parte desse tempo perdido", contou a estudante do curso técnico em edificações do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) de Pesqueira.

O estudante do terceiro ano do ensino médio no Colégio Fazer Crescer, Zona Norte do Recife, Luís Felipe Cavalcanti, 16 anos, afirma que, apesar de estar se preparando bem para o exame, o adiamento é bem-vindo. "Além de conhecimento técnico e objetivo das disciplinas, precisamos ter bem-estar mental, pois 40% do desempenho na prova tem a ver com preparacao psicológica. Tenho que reconhecer um privilégio, pela quantidade de informação que tenho. Manter a data não afetaria tanto quem vive essa realidade, mas muitos não têm esse acesso. É preciso adiar para que as condições sejam parecidas para todos. Teremos um ano muito maior do que o esperado e não sabemos se voltamos para o colégio, mas não podemos deixar a peteca cair", disse.

Já a coordenadora de ensino médio do CFC, Amenaide Pessoa, avalia que maio é um mês longe para o que as escolas privadas estavam esperando. "A escola teve férias no início da pandemia e está seguindo até terminar o ano letivo. Para os alunos das particulares, vai ficar muito pesado. Primeiro, porque não terão mais férias. Segundo, pois entra em mais cinco meses do próximo ano. O Enem é uma prova de resistência física e mental. Acredito que janeiro seria o momento ideal, mas estou falando como coordenadora de uma escola particular. Quanto ao que é justo, sabemos que as escolas públicas não tiveram o mesmo privilégio que a gente", pontuou.

Também aluna do Colégio Fazer Crescer, Maria Júlia Coutinho, 17 anos, acredita que se a prova for mesmo em maio, a saúde mental de muitos estudantes pode ficar abalada. "O terceiro ano já é muito estressante e essa data tão distante pode agravar a saúde mental já abalada de muitos alunos. Por outro lado, para quem não teve o privilégio do EAD (ensino a distância), é uma chance de recuperar o tempo", disse.

Na opinião da estudante Beatriz Meyer, 17, do terceiro ano do ensino médio no Colégio Madre de Deus, Zona Sul do Recife, faltou transparência do Inep no processo de escolha das datas a serem votadas na consulta pública pelos participantes do Enem 2020. "O critério de definição da data deveria ser mais claro e baseado em evidências apontadas por especialistas da área de saúde e não pelos estudantes, que votaram levando em consideração as suas 'bolhas'. Não sou contra o adiamento, mas acho que maio não é tão bom", opinou. Professor de redação no Madre de Deus, Nelson Castro acredita que o resultado da consulta pública é um reflexo das dificuldades que alguns alunos vêm enfrentando neste período de pandemia. "O EAD revela um abismo social em relação ao acesso. Trabalho em mais de uma escola e tenho alunos que só conseguem acessar (a internet) quando vai a casa de uma tia, uma avó", destacou.

Ensino superior

A pandemia do novo coronavírus já está alterando os calendários das instituições de ensino superior de Pernambuco. O adiamento do Enem também deve modificar as datas do próximo ano letivo. A pró-reitora de Graduação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Magna Silva, disse que a instituição está, no momento, se preparando para 2020.3, um calendário acadêmico suplementar. Na próxima semana, será lançada uma minuta sobre o assunto.

"As datas do Enem precisam estar adequadas ao calendário das escolas. Sendo assim, é preciso avaliar o quadro da pandemia para promover esse processo avaliativo nacional para o ensino médio, observando-se as condições sanitárias e de oferta de ensino nos diversos estabelecimentos públicos e privados, tendo como norte a isonomia de condições reais para a sua realização pelos estudantes secundaristas no País. A UFPE vai adequar o calendário acadêmico para o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e também pelas condições de pandemia. A abertura de novas vagas depende da publicação, pelo MEC, do calendário do Sisu. E este é dependente do Enem", explicou.

A pró-reitora de Ensino de Graduação da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Socorro Lima, afirmou que, como o calendário de 2020 ainda está suspenso, o adiamento do Enem aproxima as datas de ingresso dos estudantes para um período próximo ao imaginado pela instituição. "A nossa universidade está com o calendário letivo de 2020.1 suspenso. Estamos nos preparando para as atividades remotas e isso vai acontecer seguindo consulta pública e decisão da nossa comunidade acadêmica", afirmou.

Todas as vagas oferecidas na UFRPE usam a nota do Enem como forma de seleção. "Vamos retomar 2020.1 e essa retomada provavelmente só acontecerá no próximo ano. Nesse sentido, o adiamento do cronograma do Enem foi favorável para uma universidade pública, em particular para a nossa. Com a realização do Enem a partir de maio e do Sisu na sequência, haverá uma equiparação entre esse cronograma e o nosso calendário acadêmico", ressaltou.

Na Universidade de Pernambuco (UPE), o Sistema Seriado de Avaliação (SSA) foi mantido. "Não temos perspectiva de data porque precisamos de definição do Enem, mas está em planejamento. Assim que possível, vai ser lançado, como a gente já anunciou, com provas a partir de janeiro, mas ainda não sabemos quando", esclareceu o presidente da Comissão Permanente de Vestibulares e Concursos Acadêmicos da UPE, Ernani Martins.

Segundo ele, a universidade está nos preparativos para, neste segundo semestre, dar início ao ensino remoto. "Ainda está em discussão (o ensino remoto), mas está caminhando isso com todas as unidades porque tem que ser uma discussão ampla da comunidade. Precisa ter formação de professores, precisa ter preparação. A gente não pode medir o impacto da alteração do Enem na universidade, no calendário da instituição, porque ainda vamos vivenciar 2020, os dois semestres. Não temos como prever calendário porque ele ainda está em aberto", disse.

Mesmo sem uma data definida, o Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) está se preparando para um retorno. "Essa data será determinada pelas autoridades sanitárias. Uma série de protocolos estão sendo estruturados levando em conta a total segurança da comunidade acadêmica. Além dos protocolos internos, a instituição seguirá protocolos determinados pelos governos federal, estadual e dos municípios onde temos campi e polos da EAD", pontuou o reitor do IFPE, José Carlos de Sá.

Em relação ao calendário acadêmico, o IFPE está avaliando os cenários possíveis para a realização do vestibular, uma vez que isso depende da autorização dos órgãos sanitários e dos protocolos de saúde que estão sendo elaborados tanto internamente quanto pelos governos. "A decisão sobre a realização e sobre a data do vestibular só serão anunciadas quando tivermos uma posição consolidada em relação ao retorno e ao estabelecimento das condições mínimas de ensino para esse novo cenário. Enquanto isso, gestores e profissionais do IFPE das mais diversas áreas estão empenhados na construção de diversos cenários para garantir que as ações sejam executadas tão logo esse retorno seja autorizado", destacou.

Procurada pelo Diario, a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) não respondeu até o fechamento desta matéria.
   
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