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Caso Miguel

Em novos trechos de entrevista, Sarí diz que não pode sair de casa e que toma remédios para dormir

Publicado em: 06/07/2020 18:55

 (Foto: TV Globo/Reprodução)
Foto: TV Globo/Reprodução
“Eu sinto que fiz tudo que eu podia. E, se eu pudesse voltar no tempo, eu voltava. Se eu soubesse que tudo isso ia acontecer, eu voltava no tempo e ainda tentava fazer mais do que eu fiz naquela hora.” A frase é da primeira-dama de Tamandaré, Sarí Corte Real, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, nesse domingo (5), ao responder à repórter Beatriz Castro se sentia algum tipo de culpa ou arrependimento. Em seguida, Sarí é questionada sobre o que faria de diferente. E responde: “Esperava mais. Não sei, não sei dizer. Eu só sei que eu fiz, naquela hora, tudo o que eu podia. E, em nenhum momento, eu fiz nada prevendo o que aconteceu.”

Na tarde desta segunda-feira (6), novos trechos da entrevista à TV Globo foram divulgados no telejornal local NE1. Questionada sobre como tentou convencer Miguel Otávio, 5 anos, a sair do elevador, ela disse que pediu várias vezes. "Eu só pedia 'Miguel, sai do elevador. Ela (a mãe, Mirtes Souza) já tá voltando", afirmou. "Não, eu vou descer", teria dito o menino, segundo Sarí. De acordo com ela, o diálogo foi "tranquilo, sem alteração de voz". 

Antes de as portas do elevador fecharem, Sarí disse que não falou mais nada à criança. Ele também não teria falado. "Não teve um diálogo entre eu e ele", afirmou. Quanto à relação com a família de Miguel, Sarí disse que era excelente. "Sempre os tratei bem. Eles sempre fizeram parte. Quando eles ficaram com a gente na praia, eles conviveram com a gente. Meus filhos passavam a maior parte do tempo na casa da minha sogra. Miguel ia junto. Era sempre brincando. Sempre naquele mesmo momento. Se saía para tomar picolé, Miguel ia também", disse. "Eles ficavam no meu quarto de hóspede. Porque a gente tem o quarto da empregada. Nunca ficaram. Sempre ficaram no quarto de hóspede porque eu acho que todo mundo tem que ficar confortável em casa. Eu considerava eles uns hóspedes dentro de casa, então acho que eles tinham que estar bem confortáveis", completou.

Sarí, que afirmou estar tomando remédios para conseguir dormir, disse que seus dias estão "terríveis". "Vivo no psiquiatra, preciso de remédio para dormir porque eu estou sendo julgada pela sociedade, e as pessoas me julgaram antes mesmo da justiça. Não cheguei à justiça e já estou julgada, então não tive tempo de me defender e fui julgada." A primeira-dama de Tamandaré afirmou ter medo de sair na rua. "Tenho medo de sair na rua e ser linchada. Eu não posso fazer a coisa que eu mais tenho prazer na vida, que é correr. Eu não posso fazer nada. Eu, hoje, já estou em uma prisão, dentro da minha casa. Eu não posso mais sair", afirmou.

Na entrevista, Sarí se definiu como uma pessoa que já sofreu muita tragédia na vida. "Já tive tentativa de sequestro, já perdi meu pai. Tenho uma mãe que depende de mim, um irmão que até hoje não aceitou a morte do meu pai. Eu não posso cair porque sou um pilar para eles. Tenho os meus filhos, que dependem muito de mim. Eu sei que eu tenho que estar firme estar aqui. Apesar de tudo, tenho que estar firme porque tenho que criar meus filhos. Meus filhos têm que ter a mãe", falou.

Questionada sobre se o caso tivesse ocorrido com a filha dela, Sarí disse que perdoaria. "Perdoaria porque eu acho que todo mundo tem o direito de perdão. Assim como, apesar de todas as coisas que foram faladas, que foram julgadas, respeito a dor dela. Não sinto ódio, raiva, nada por elas. Eu continuo tendo o mesmo carinho pelas duas (mãe e avó de Miguel) porque a relação da gente não foi de um dia, dois dias, um mês, dois meses. Teve seis anos com Marta e quatro anos com Mirtes. Foi uma relação longa. Eu tenho muito carinho por elas e não é do dia para a noite que a gente esquece as pessoas", disse.

Era 2 de junho quando Mirtes Souza, mãe de Miguel Otávio, 5 anos, saiu para passear com um cão de Sarí, com quem trabalhava como doméstica. O menino ficou aos cuidados da patroa. O fato aconteceu no Edifício Píer Maurício de Nassau, área central do Recife. Momentos depois, o menino caiu de uma altura de nove andares e morreu. A investigação da Polícia Civil com base em imagens captadas em câmeras do prédio apontou que Sarí deixou a criança sozinha no elevador.
 
Ao longo da entrevista, a repórter pergunta como foi no momento em que Sarí viu o garoto no chão. “No primeiro momento, o que eu imaginei foi em socorrer, o que a gente podia fazer por ele... Eu dirigi, só Deus sabe como eu dirigi. Nunca cheguei tão rápido na minha vida num hospital. Eu fiquei com ela lá até por volta de 16h30, 16h45, que foi quando eu tive que vir para casa. Minha amiga precisava voltar para casa, para eu poder ficar com a Sofia”, comentou.
 
Na semana passada, a primeira-dama foi indiciada e deve responder por abandono de incapaz que resultou em morte. A pena varia de quatro a doze anos e é maior que a de homicídio culposo, de três anos, entendimento inicial do delegado do caso.
 
Sarí também afirmou que não previu a tragédia ao deixar a criança sozinha no elevador. “Eu não achei que seria essa tragédia. Eu acreditei que ele voltaria para o andar. Até porque ele sabia os números, sabia tudo. Eu imaginei que ele voltaria para o andar.”
 
Em outro momento, a repórter pergunta: “O delegado coloca no relatório que você não olhou no painel para saber o que aconteceu com o elevador: se ele subiu, se ele desceu. Você não se preocupou com o que ia acontecer depois?” Sarí responde: “Na mesma hora eu liguei para Mirtes. Mas, ao mesmo tempo, eu estava tentando acalmar a minha filha, que também estava desesperada com a situação. Eu me via ali, naquela situação, com toda aquela movimentação: minha filha, ele. Eu me senti ali naquela situação, sem conseguir falar com Mirtes, minha filha. Foi tudo muito rápido. Foi tudo muito rápido.”
 
Sarí também justificou porque não tirou Miguel do elevador: “Porque o maior contato que eu tive com Miguel foram nesses dois meses na pandemia e, todas as vezes que precisou ser chamada a atenção dele, todas as vezes, eu solicitava ou a mãe ou a avó que fizessem isso. Eu nunca me dirigi diretamente a ele para repreender ele em nada. Sempre a mãe ou a avó. Eu não me senti segura para isso.”
 
Quanto ao resultado do inquérito, Sarí disse que não esperava a tipificação do crime. Também disse não ter medo da prisão. “ Não, até hoje eu estou aqui firme, porque muita gente depende de mim. E, se lá na frente, o resultado for esse, eu vou cumprir o que a lei pedir. Eu acho que está na mão da Justiça, não cabe a mim, não cabe à mãe de Miguel julgar, não cabe à sociedade. Cabe à Justiça. Eu vou aguardar o que a Justiça decidir.”
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