Diario de Pernambuco
Busca

Pesquisa

50,9% da água tratada em Pernambuco se perde na distribuição, diz IBGE

Publicado em: 22/07/2020 19:10 | Atualizado em: 23/07/2020 13:46

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, do IBGE, consumo de água em Pernambuco é menor que a média nacional. (Foto: Paulo Paiva/DP.)
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, do IBGE, consumo de água em Pernambuco é menor que a média nacional. (Foto: Paulo Paiva/DP.)

Duas pesquisas divulgadas nesta quarta-feira (22) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trazem diagnósticos complicados sobre o saneamento básico em Pernambuco. A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) mostra que 19% das cidades pernambucanas não tem rede coletora de esgoto; 50,9% da água tratada se perde no caminho até a casa do consumidor; e o estado tem o maior percentual de captação de água salobra do país - 23%, mais que todo o Nordeste (10,2%) e muito acima da média nacional (2,7%).

Já a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) revela que somente 83 cidades de Pernambuco fiscalizam a qualidade da água que chega à sociedade. Outro ponto que chama a atenção é a deficiência do saneamento em zonas rurais - em 56 municípios não tinham rede de distribuição de água e outros 111 não contavam com sistema de coleta de esgoto para essas áreas.

Das 185 localidades pernambucanas (184 cidades + Fernando de Noronha), só o município de Inajá, no Sertão, estava sem abastecimento de água no período analisado pela pesquisa - o serviço tinha sido interrompido por causa da estiagem. No tocante à zona rural, apenas as de Calçado, Camutanga, Ferreiros, Itaíba, Lagoa do Ouro e Quipapá tinham plena distribuição de água em sítios e povoados, e somente a de Frei Miguelinho contava com rede de esgoto.

Os dois estudos tem como referência o ano de 2017, mas são os dados são os mais recentes e consolidados possíveis, tendo em vista a periodicidade. A PNSB foi realizada nos anos de 1989, 2000 e 2008, enquanto a Munic coletou dados de saneamento municipal em 2011 e 2017. Há também diferenças de enfoque: enquanto a PNSB avalia a operação do serviço, a Munic analisa a gestão das prefeituras.

Consumo
A PNSB mostra que Pernambuco distribui, todos os dias 1,47 milhão de metros cúbicos de água, mas apenas 721 mil metros cúbicos são consumidos, de fato, pela população. Isso significa que 50,9% da água se perde pelo caminho, índice maior que as médias nordestina (44,5%) e nacional (39,9%). O estado tem uma base de 2,4 milhões de economias ativas - o IBGE classifica com esse nome locais onde houve pagamento de conta ou consumo, seja uma casa de família ou uma indústria. 95% delas são residências. 

No Brasil, o volume de água consumido por dia por economia ativa foi de 420 litros, com consumo médio de 140 litros por dia por pessoa, considerando-se que, em cada domicílio, vivem três pessoas, em média. Em Pernambuco, no entanto, o consumo foi de 302,3 litros - uma média de 100,7 litros por pessoa, o menor do Brasil e abaixo do recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que é de 110 litros por dia por pessoa.

Pernambuco também tem um índice alto de captação de água salobra, salgada ou salina. Dos mais de 2,3 milhões de m³ de água captada no estado, 528 mil m³ (23%) estavam nessas condições - valor acima das médias do Nordeste (10,2%) e do país (2,7%). Por fim, apenas 51 cidades pernambucanas contam com  estações de tratamento de esgoto (ETE) - um percentual de 34,2% do estado, o quarto pior do país. À frente, estão Sergipe (33,3%), Amazonas (25,0%), e Amapá (16,7%). No Brasil, há ETEs em 62% das cidades.
Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), só há esgotamento sanitário em pleno funcionamento na área urbana de 28 cidades e na zona rural de Frei Miguelinho. (Foto: Peu Ricardo/DP.)
Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), só há esgotamento sanitário em pleno funcionamento na área urbana de 28 cidades e na zona rural de Frei Miguelinho. (Foto: Peu Ricardo/DP.)

Dificuldade
Dentro do Munic, as disparidades entre áreas urbanas e rurais ficam mais evidentes. Todos os 184 municípios pernambucanos (exceto Inajá) disseram que ofereciam o serviço em área urbana, mas a entrega só era total em 99 deles. Já na zona rural, 124 cidades afirmaram ter sistema de distribuição, mas somente 6 tinham cobertura total - Calçado, Camutanga, Ferreiros, Itaíba, Lagoa do Ouro e Quipapá, como mencionado no início do texto.

O serviço de esgotamento é oferecido em 158 cidades, mas apenas 28 têm cobertura total de sua zona urbana. Já na zona rural, somente 42 municípios disseram que tinham redes coletoras em sítios e povoados, mas esse alcance só era pleno em Frei Miguelinho.

Paciência
Para a gerente de planejamento e gestão do IBGE em Pernambuco, Fernanda Estelita, os dados atestam o longo caminho para garantir o acesso de todos ao saneamento básico. “O mais gritante que observamos é esse percentual de 50,9% de água tratada desperdiçado. É uma quantidade grande, que incorre em custos pelo tratamento, e não é aproveitada. Pode ser que haja muita ineficiência na distribuição, vazamento ou até não-tarifamento de consumo efetivo”, analisa.

As diferenças entre zona urbana e zona rural se explicam por suas condições: “É o reflexo da dificuldade do acesso. Nos grandes centros é mais simples de se trabalhar em relação ao interior”. Ainda, há o ponto de que nenhuma área rural tem água e esgoto plenos ao mesmo tempo - como Frei Miguelinho, que tem rede de esgoto, mas não tem água encanada. “É uma situação bastante peculiar. Mas aí cabe aos órgãos responsáveis explicarem isso”, pondera.

Em nota ao Diario, a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) informa que "analisará em detalhes os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico para uma avaliação mais aprofundada dos indicadores apontados pelo estudo" e que "investiu cerca de R$ 4 bilhões nos últimos anos e segue trabalhando para equilibrar os índices em Pernambuco, garantindo que, cada vez mais, a população tenha acesso aos serviços de água e esgotamento sanitário". Ainda, segundo a instituição, o estado registra "Índice de Atendimento Urbano de Água de 92% e Índice de Atendimento de Esgoto de 26%".

A Compesa também cita projetos executados na Região Metropolitana como o Cidade Saneada, que "já contabiliza cinco Sistemas de Esgotamento Sanitários implantados e em pleno funcionamento (São Lourenço da Mata, Imbiribeira, Janga, Gaibu e Nossa Senhora do Ó) e outras 11 obras em andamento, a exemplo dos SES’s Cabangá, Prazeres, Cabo de Santo Agostinho e Cordeiro. Já foram investidos cerca de R$ 1,4 bilhão, o volume tratado chega a 2 mil litros por segundo e a taxa de cobertura é de 40% na RMR. A meta é chegar a 57% em 2025, 75% em 2030 e a 90% em 2037. Ao final do programa, terão sido investidos R$ 6,7 bilhões e beneficiadas mais de seis milhões de pessoas".

No interior, "o Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do Rio Ipojuca vai beneficiar 1,2 milhão de pessoas de 11 cidades do Agreste, com um investimento de U$ 330 milhões, recursos do Governo de Pernambuco e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Pelo programa, já foi concluída a obra do SES Tacaimbó e o SES Gravatá. A previsão é finalizar outras obras ainda neste ano".

"Já Programa de Sustentabilidade Hídrica de Pernambuco abrangeu obras de implantação de sistemas de esgotamento sanitário em Santa Cruz do Capibaribe e Surubim, e a elaboração de projetos para 16 municípios: Feira Nova, Carpina, Toritama, Brejo da Madre de Deus, Bom Conselho, Ribeirão, Bonito, Pombos, São Bento do Una, Pesqueira, Serra Talhada, Tracunhaém, Vitória de Santo Antão, Paudalho, Limoeiro e Salgadinho. O Programa desembolsou US$ 190 milhões, recursos financiados pelo Governo do Estado junto ao Banco Mundial para beneficiar 3,5 milhões de pessoas", finaliza a nota.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL