Diario de Pernambuco
Busca

COVID-19

População de Cavaleiro se aglomera no mercado público e feira livre

Publicado em: 02/04/2020 09:00 | Atualizado em: 02/04/2020 09:09

Mercado público de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes.  (Foto: Leandro de Santana/ DP)
Mercado público de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes. (Foto: Leandro de Santana/ DP)
No dia 23 de março, o governo de Pernambuco divulgou restrições a fim de realizar o enfrentamento à pandemia da Covid-19. Nesse pacote de restrições foi determinado que reuniões com mais de 10 pessoas, assim como também o transporte de passageiros por mototáxi estão proibidos no estado por tempo indeterminado, sendo controlada através de fiscalizações que apreende a motocicleta dos mototaxistas e dispersa a população aglomerada.“A melhor prevenção nesse momento é o isolamento social. Por isso, estamos editando um novo decreto com a proibição de reuniões e aglomerações de mais de 10 pessoas e do transporte de passageiros via mototáxi”, anunciou o governador Paulo Câmara em live nas redes sociais.
 
No entanto, no grande Recife, diversos pontos com aglomerações podem ser vistos com facilidade. Os principais locais com concentração de pessoas elevada estão sendo em mercados públicos e feiras livres, tendo como principal público frequentador a terceira idade, um grupo de risco da Covid-19. 
Ao visitar o mercado público de Cavaleiro, localizado em Jaboatão dos Guararapes, é possível perceber pessoas de todas as idades aglomerando-se para realizar compras de frutas, verduras, ração animal e cereais. Atualmente, o comércio de alimentos está liberado no mercado público de Cavaleiro até às 14h, tendo uma fiscalização a partir deste horário para fechar os estabelecimentos que persistirem em permanecer aberto. 
 
O comerciante Cleidinaldo Lopes, de 43 anos, está há cinco anos trabalhando no mercado de Cavaleiro e conta que o movimento caiu, mas entende a importância dos cuidados que devem ser tomados para evitar o contágio. “Estou evitando aglomerações, coloquei essa bancada na frente do comércio para aumentar a distância com o cliente, deixando um metro e meio de espaço”, o comerciante destaca ainda que recebe cada vez mais moedas como forma da pagamento, “As pessoas estão quebrando os cofrinhos. O que eu recebi de moedas aqui não é brincadeira. Perguntei e meus clientes falaram que quebraram o cofre do final do ano agora.”
Comerciante do mercado público se protege da Covid-19.  (Foto: Leandro de Santana/ DP)
Comerciante do mercado público se protege da Covid-19. (Foto: Leandro de Santana/ DP)
 
Os idosos não ficam de fora dessas aglomerações dos mercados, seu Antônio Soares, de 93 anos, morador do Ibura, foi ao mercado de transporte público para comprar a alimentação do seu papagaio. Ao ser alertado sobre o perigo de estar transitando pelas ruas e realizando compras no meio de aglomerações, ele afirma que apesar de manter a higiene adequada para evitar o contágio, está apreensivo. “Saio muito pouco. Estou saindo agora por obrigação, vim comprar maçãs e castanhas do meu papagaio. Saio mais no sábado ou domingo para comprar as coisas de casa. Hoje que a comida do papagaio acabou e sai. Moro com minha esposa, ela tem 88 anos e quando minha filha está, vai comprar o que precisamos. Mas quando minha filha não vem,  tenho que sair de casa”, afirmou o idoso. 
 
Já Severina Gonçalves, pensionista de 63 anos, afirma estar frequentando o mercado público devido a necessidade de realizar as compras de medicamentos e alimentos, pois atualmente ela é viúva e não possui filhos para realizar as aquisições nos mercados e farmácias. Emocionada, ela diz que está com muito medo de ser contaminada com o novo coronavírus, mas que está tentando se alimentar bem, seguindo as recomendações que sua médica passou, além de continuar praticando exercícios físicos em casa, “Faço academia e no momento não estou fazendo mais nada. Tenho uns pesinhos em casa e vou ver se compro uma esteira na internet para usar em casa. A gente fica preso, sem poder sair e cada um que diga uma coisa. Faz 15 anos que faço academia e sinto falta. Ontem mesmo assisti uns exercício para fazer em casa.”
Seu Antônio tem 93 anos e foi ao mercado público comprar comida para seu papagaio. (Foto: Leandro de Santana/ DP)
Seu Antônio tem 93 anos e foi ao mercado público comprar comida para seu papagaio. (Foto: Leandro de Santana/ DP)
 
Na volta para casa com as compras era comum encontrar pessoas utilizando o transporte de passageiros por mototáxi como uma alternativa. Contudo, como desde o dia 23 de março está proibido, alguns mototaxistas realizam o serviço de maneira clandestina, sem o colete sinalizador. De acordo com populares presentes no ponto de mototáxi, algumas pessoas estão pedindo para transitar sem capacete, em percursos curtos, como uma forma de evitar o contágio com o novo coronavírus ao utilizar o capacete compartilhado. É importante entender que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece que conduzir motocicleta, motoneta e ciclomotor transportando passageiro sem o capacete de segurança está sujeito a uma multa de R$ 293,47, além de sete pontos na carteiro, recolhimento da CNH, suspensão do direito de dirigir e apreensão da motocicleta, tendo em vista que atualmente a atividade de mototáxi está suspensa.
 
Um mototaxista de Jaboatão dos Guararapes, que trabalha há 15 anos no ramo, mas prefere não se identificar, confessa que estão trabalhando de maneira ilegal devido a falta de outra alternativa como renda. “Só mandaram a gente para casa. Se pegarem a gente de colete trabalhando apreende nossa moto, mas até aqui não chegaram para conversar com os mototaxistas. Estamos dependendo agora desse auxílio que o governo pode liberar. A gente roda nessa situação porque precisa. Nós estamos trabalhando escondido e se os fiscais pegarem, levam as motos e fazem a notificação”, contou. 
 
De máscaras, luvas ou sem nada, a população continua frequentando em massa os mercados públicos e feiras livres do grande Recife. Sem a distância de um metro e circulando livremente, todas as faixas de idade transitam em espaços curtos e apertados trazendo perigo, principalmente, aos grupos de risco, como também a pessoas que possuem contato com esses grupos. 
Na feira livre as pessoas não evitam aglomerações.  (Foto: Leandro de Santana/ DP)
Na feira livre as pessoas não evitam aglomerações. (Foto: Leandro de Santana/ DP)
 
 
RESPOSTA 
Procurada pela reportagem, a prefeitura de Jaboatão dos Guararapes afirmou que o prefeito Anderson Ferreira encaminhou ofícios para o governo do estado e para Polícia Militar pedindo apoio nessa retirada das pessoas das ruas e ainda reforçou a capacitação dos profissionais da rede de saúde do município com orientadores da Fundação Osvaldo Cruz de como alertar as pessoas a respeitarem o isolamento social e os cuidados com a higiene pessoal. Além disso, a prefeitura declara que utiliza material gráfico e veículos de som circulando por toda cidade informando que a melhor estratégia para evitar a disseminação do coronavírus é ficar em casa.
 
A Secretaria de Defesa Social também respondeu:

A Secretaria de Defesa Social informa que tem feito ações na Feira de Cavaleiro para evitar a aglomeração de pessoas e fazer valer as recomendações sanitárias de prevenção à disseminação do novo Coronavírus. As feiras livres não estão proibidas, no rol de vedações determinadas pelo Governo do Estado, mas é fundamental haver o disciplinamento e o ordenamento urbano de modo a minimizar os riscos, em ações desenvolvidas rotineiramente pela guarda e diretoria de controle urbano do município.

O Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR) está atento ao local e realizando operações integradas, como a Bar Seguro, além do videomonitoramento, para que estabelecimentos não funcionem irregularmente. É importante esclarecer que as recomendações sanitárias visam proteger a saúde da população, por isso é fundamental a colaboração de todos no sentido de seguir as normas de precaução. Em todo o Estado, o CICCR atuou em mais de 17.400 denúncias, conduzindo 41 pessoas para autuação em delegacias. 
 
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL