Desocupação

Acolhidos em abrigo, moradores do Holiday tentam reconstruir suas vidas

Publicado em: 25/03/2019 12:05 | Atualizado em: 25/03/2019 12:37

Moradores do Edifício Holiday saíram de seus apartamentos e foram acolhidos em abrigo cedido pela Prefeitura do Recife.
Foto: Mandy Oliver/DP.

Há cinco dias, a aposentada Josefa Regina da Conceição, de 63 anos trocou o apartamento próprio, localizado na Avenida Conselheiro Aguiar, no bairro de Boa Viagem, por um abrigo da Prefeitura do Recife, localizado na Travessa do Gusmão, no bairro de São José, Centro da capital pernambucana. Sozinha, com uma mala de roupas e uma pasta de documentos, Josefa saiu do apartamento onde morava há 48 anos. Os móveis foram levados para um depósito, resguardados por um inventário, e, por enquanto, não possuem destino. A moradia em um dos endereços mais valorizados da cidade foi conquistada através de um emprego de balconista no Aeroporto Internacional do Recife. Após sofrer um derrame cerebral, Josefa parou de trabalhar e passou a receber pensão. O futuro incerto agustia a ela e mais outras quatro pessoas que saíram do Edifício Holiday sem ter para onde ir.

A idosa tem dificuldade de locomoção e foi carregada por agentes do Corpo de Bombeiros pelas escadarias do prédio, já que os dois elevadores ficaram sem funcionar após o desligamento da energia. No antigo endereço, Josefa recebia o apoio da vizinhança e comerciantes próximos que abasteciam a casa com água, pão, gás e as compras do supermercado sempre que ela precisava. O desafio agora é encontrar um outro apartamento para morar. "Vou esperar a reforma acabar para voltar para onde passei minha vida. Não tenho condições de pagar um aluguel. Lá no Holiday eu tinha toda estrutura que precisava. Não é justo isso que está acontecendo", lamenta.

No último sábado (23), todos os 476 apartamentos foram desocupados após ordem judicial determinar a interdição sob tutela de emergência requerida pela Prefeitura do Recife. Laudos da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros indicaram riscos à vida dos mais de 3 mil moradores por conta de problemas estruturais e danos na rede elétrica. O condomínio tenta arrecadar cerca de R$ 300 mil para começar as obras de reparo. Enquanto isso, as famílias reestruturam suas vidas. 

Os moradores têm até a próxima terça-feira (26), para retirar os pertences que ainda permanecem no prédio.
Foto: Mandy Oliver/DP.

O casal Genival Alfredo, 51, e Rosenilda Maria da Silva, 53, têm quatro filhos. Os menores de 11,16 e 17 anos moravam no apartamento dos pais e após a desocupação, foram para a casa do irmão mais velho, de 23 anos, no bairro do Pina. "Meu filho está recém-casado, vai formar uma nova família e já recebeu quatro crianças. A casa é pequena e por isso não tivemos como ir junto. Só queria estar na minha casa, seguindo minha rotina de sempre", diz Rosenilda.

Três homens e duas mulheres estão acolhidos no abrigo atualmente, onde recebem as três refeições diárias. O local funciona apenas em situações emergenciais e tem capacidade para 120 pessoas. Reformado no ano passado, o espaço tem 10 quartos, cada um com 4 camas do tipo beliche, refeitório e banheiro coletivo. Um quarto e um banheiro são adaptados para pessoas que usam cadeira de rodas. Todas as cinco pessoas foram encaminhadas pela Defesa Civil e aquelas que atendiam aos requisitos, foram cadastradas na Central de Atendimento do Cadastro Único Bolsa Família.

A estrutura do edifício foi condenada pela Defesa Civil.
Foto: Mandy Oliver/DP.

O cozinheiro Edimar Souza, de 60 anos, é natural do Maranhão e não tem família no Recife. Sem ter condições de voltar para o estado de origem, ele procura um emprego fixo para sair do abrigo. Assim como ele, o ambulante João Batista, 58, espera voltar a morar no Holiday após a estrutura elétrica ser refeita. "Saímos de um dos melhores bairros para morar, com praia, padaria, mercado, farmácia, tudo perto. Não estou reclamando porque aqui somos bem tratados e fomos acolhidos. Nos deram um teto para dormir. Mas no mês passado eu estava dentro da minha casa própria, seguindo minha vida e hoje vivo na incerteza", conta Edimar.
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