Roraima

Casal de venezuelanos descobre o amor na fronteira com o Brasil

As relações entre pares parece ajudar a tornar mais fácil a busca por nova vida

Publicado em: 26/02/2019 12:52 | Atualizado em: 26/02/2019 13:26

Casal se conheceu na fronteira e segue junto no Recife. Foto: Gabriel Melo/especial DP
Os venezuelanos Andrys Ortiz, 34 anos, e Félix Ramoy, 51, conheceram-se quando moravam nas ruas, em Roraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Ela, camareira, ele, especialista em perfuração de poços, tinham acabado de deixar para trás as histórias construídas no país de origem, afogado em crise política e econômica. Passaram a viver juntos desde então. Os novos amores formados na fronteira parecem ajudar no enfrentamento dos dias difíceis. Hoje, o casal divide um espaço fornecido pela Cáritas brasileira, na Avenida Visconde de Suassuna, na Boa Vista, no Recife. Os dois são parte do grupo de 102 venezuelanos trazidos à capital pernambucana em dezembro do ano passado.

Andrys veio para o Brasil com os três filhos. Félix, com cinco filhos, deixou um em Roraima e quatro na Venezuela. A ideia é trazer os filhos de Félix para o Recife no futuro. E assim, formarão uma família ainda maior. Por enquanto, o casal se reveza nos cuidados com os três herdeiros de Andrys. Ela está à procura de vagas de emprego como camareira e babá. Ele tem conseguido algum dinheiro com serviços informais de pedreiro e pintor. Quando dá, consegue uma diária de R$ 60, com a comida inclusa. “Lá está muito difícil. Pelo menos aqui tem comida garantida pela Cáritas”, disse Félix. Em conversa com familiares que ficaram na Venezuela, souberam de 45 mortes nos conflitos registrados desde a última sexta-feira. Esses números, no entanto, ainda não são confirmados oficialmente.

Mona Mirella, assistente social da Cáritas, considera que a formação dos pares termina ajudando no processo de busca de uma nova vida no Brasil. “Nesse grupo do Recife, por exemplo, temos quatro gestantes. Uma das crianças foi gerada já em nosso país”, comentou. Entre abril e maio, deverão chegar mais 102 pessoas para se juntarem ao primeiro grupo, totalizando 204 pessoas morando em 12 apartamentos e casas nos bairros de Santo Amaro, Boa Vista, Coelhos, Encruzilhada e Torreão. “Um dos principais problemas hoje é a inserção deles no mercado de trabalho. Muitas vezes as diárias para serviços de pedreiro, por exemplo, são muito baixas, como R$ 30”, acrescentou Mona.

Yohandri Alvarez foi enviada ao Recife junto com o marido e a filha, com 3 anos. Ele conseguiu um emprego como mecânico e recebe um salário mínimo. Ela, com experiência em caixa, procura um emprego. “A comida está muito cara na Venezuela. Deixei minha mãe e uma irmã lá, mas elas também querem vir para cá. Minha mãe está sobrevivendo porque trabalha nos correios”, comentou. Yohandri prefere não falar sobre os últimos conflitos no país.
Venezuelanos receberam serviços de saúde nesta manhã. Foto: Gabriel Melo/especial DP

A ONG Cáritas Brasileira/CNBB (Regional Nordeste 2) é responsável pela estadia, alimentação, apoio jurídico, psicossocial e outras necessidades das famílias que chegaram ao Recife no dia 17 de dezembro através do Projeto Pana, que obteve financiamento do Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Nesta manhã, os venezuelanos receberam atendimento de saúde promovido pela Prefeitura do Recife na Casa de Direitos dos Imigrantes, na Universidade Católica de Pernambuco, na Boa Vista. Os imigrantes já haviam passado por acolhimento para ter direito ao Cartão do Sistema Único de Saúde (SUS), facilitando o acesso aos serviços da rede municipal de saúde.

Foram realizadas aferição de pressão arterial, teste de glicose, além de testagem rápida para HIV, sífilis e hepatites B e C. Os resultados dos testes ficaram prontos em 30 minutos. No caso de resultado positivo, foi feito encaminhamento para profissional. Também houve distribuição de preservativos masculinos e femininos, além de lubrificantes e kits para higiene bucal, com creme dental e escovas.
 
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