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Venezuelanos: Trazendo a esperança na bagagem

Do total de refugiados, 102 foram acolhidos pela Cáritas Brasileira, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), onde receberam as boas-vindas

Publicado em: 18/12/2018 10:47

Daniel Zambrano e família perderam tudo durante a crise e buscam recomeço. Foto: Bruna Costa / ESP. DP
A família do operador de máquinas Daniel Zambrano, 35, vivia confortavelmente em Puerto Ordaz, Venezuela, até 2015. Com dois carros na garagem e uma casa própria, ele jamais imaginou deixar sem nada o local onde vivia. Três anos depois, Daniel, a esposa e os filhos desembarcaram no Recife sem bens materiais, mas com esperança de reconquistar tudo que deixaram para trás. Na tarde de ontem, 117 venezuelanos foram recebidos na cidade, onde vão morar por tempo indefinido. Em comum, a maioria tem o desejo de voltar para o país de origem e reencontrar os familiares que ficaram por lá.

Do total de refugiados, 102 foram acolhidos pela Cáritas Brasileira, entidade ligada à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), onde receberam as boas-vindas. De lá, foram encaminhados a dez residências. São 10 apartamentos e duas casas nos bairros da Boa Vista, Santo Amaro, Coelhos, Encruzilhada e Torreão. As moradias receberam os nomes de defensores dos direitos humanos como Marielle Franco, Chico Mendes, Betinho, Margarida Alves e Zilda Arns. Outros 15 venezuelanos foram recebidos pela ONG Aldeias Infantis e vão viver em Igarassu.

Daniel chegou à Unicap esperançoso. Ele e a família viajaram de Boa Vista (RR) ao Recife em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Após quatro horas de voo, o grupo desembarcou na Base Aérea. Fazia 30 graus, mas o clima quente e úmido não causou estranhamento neles. Em Puerto Ordaz, de onde a família veio, os termômetros marcam temperaturas semelhantes. Também fazia calor em Boa Vista, onde os Zambrano viveram nos últimos seis meses.

O operador de máquinas veio acompanhado da esposa, Rayzel Guarez, 33, e dos filhos, Heffri, 13; Royfrelis, 7, e Claudia, 4. “Há quatro, cinco anos, eu desfrutava de uma vida completamente diferente desta. Podia dar tudo do bom e do melhor aos meus filhos. Nos últimos anos, meu salário não conseguia mais comprar o básico, como comida. Vendi o primeiro carro e consegui me manter por mais um tempo. O segundo carro quebro e está lá na Venezuela. Eu já não conseguia mais comprar peças para reparo e a vida começou a ficar cada vez mais difícil”, conta. Sobre o Natal, o filho mais velho fez um pedido. “Quero passar na praia.”

O secretário regional da Cáritas Nordeste 2, Ângelo Zanré, ressaltou que a entidade está de braços abertos para os venezuelanos. Até maio do próximo ano, outros 102 refugiados devem chegar ao Recife. “Temos que correr contra o tempo para promover a autonomia e a sustentabilidade dessas pessoas no Brasil”, afirma. Os refugiados são acolhidos por meio do programa Pana, criado para  contribuir direta e indiretamente com a integração de migrantes e brasileiros em sete capitais do país. 

O ponto de referência para o programa será a Casa de Direitos, que no Recife foi implantada através de parceria entre as Cáritas Brasil e Suíça, Unicap e Departamento de Estado dos EUA.
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