Investigação

MPPE investigará dano a pacientes que ficaram cegos após cirurgia de catarata

Promotora abriu inquérito para apurar perda de visão ocorrida após cirurgias de catarata. Conselho Regional de Medicina abriu sindicância sobre o caso

Publicado em: 19/12/2018 09:08

Idosa fará mais uma operação, sem a garantia de volta a enxergar plenamente. Foto: Gabriel Melo / Esp. DP
A suspeita de infecção em pacientes submetidos a cirurgias de catarata em uma clínica particular do Recife conveniada à rede municipal de saúde será investigada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e pelo Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe). As duas instituições abriram procedimento depois de denúncia publicada pelo Diario de Pernambuco, ontem, na qual vítimas e familiares relataram que os procedimentos realizados no começo deste mês teriam deixado pelo menos 15 pessoas com perda de visão. O caso também está sendo acompanhado pela Prefeitura do Recife.

Os responsáveis técnicos pela clínica Oftalmologistas Associados, onde os pacientes se submeteram a exames e à operação, e também o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, foram oficiados a prestar esclarecimentos ao MPPE. Eles terão 10 dias, a contar da data de recebimento do documento, para se pronunciar. “Demos entrada em uma notícia de fato, com base na reportagem, e esperamos explicações. Com a chegada da documentação é que vou analisar para, então, marcar uma audiência. A investigação deve acontecer em janeiro”, explicou a promotora Helena Capela, da Promotoria de Defesa da Saúde do Recife.

O Cremepe afirmou, em nota, que instaurou uma sindicância ex-officio (quando não há um denunciante e a autarquia assume a denúncia), também em função do que foi veiculado pelo Diario. A sindicância corre em sigilo processual para não comprometer a investigação, explicou o órgão. Ontem, a Secretaria de Saúde do Recife confirmou que a Ouvidoria da Saúde recebeu quatro denúncias, de pessoas diferentes, sobre o caso e que, logo depois da primeira, a situação foi reportada para a Diretoria Executiva de Regulação em Saúde. Entretanto, não revelou o conteúdo das reclamações. 

Durante coletiva de imprensa de inauguração do Centro de Mosquitos Estéreis, o secretário Jailson Correia comentou as denúncias. “Assim que a prefeitura foi notificada, nós, por precaução, procedemos a suspensão das cirurgias e encaminhamentos de pacientes para a clínica para que pudesse se fazer cumprir a investigação. Enquanto isso, mesmo assim, a Vigilância Sanitária com a equipe de regulação foi ao local e, numa primeira avaliação, não encontrou irregularidades”, disse. À reportagem, o responsável técnico pela clínica, o professor e pesquisador Francisco Cordeiro havia afirmado que a própria instituição teria acionado a prefeitura.

Paciente deposita esperanças em novo procedimento
 
Pelo menos uma das vítimas chegou a procurar o serviço privado de saúde, logo depois do ocorrido, para obter uma segunda avaliação. De acordo com o oftalmologista do Departamento de Retina e Vítreo do Hospital Santa Luzia, onde a paciente foi atendida, Luiz Guilherme Freitas, a mulher chegou à urgência com um quadro inflamatório exacerbado, mas já em tratamento. “Ela apresentava um quadro de inflamação, uma endoftalmite pós-cirurgia, mas que não parecia ser um quadro de infecção. Parecia uma forma asséptica, mas não temos como dizer a causa do processo inflamatório”, disse. 

Entre as possibilidades para o desencadeamento de quadros semelhantes estariam o composto químico metilcelulose ou o soro usados na cirurgia, ou ainda a baixa imunidade do paciente. “Quando a examinei, o olho já estava respondendo ao tratamento proposto na clínica. Hoje (ontem) fizemos um ultrassom e mostrou que o processo inflamatório estava menor, já dava para ver o fundo do olho. Ela recuperará a visão, mas o quanto vai recuperar não posso dizer ainda”, disse. A paciente, contudo, precisará passar por uma cirurgia. 

“Será feita uma limpeza no vítreo (substância gelatinosa do olho), que fica com hipercelularidade durante inflamações e, por isso, a visão fica embaçada. Só depois da limpeza saberemos o quanto ela vai melhorar”, acrescentou o profissional.  

Mutirão
No último dia 5, cerca de 35 pessoas pacientes de um mutirão de cirurgias de catarata na clínica Oftalmologistas Associados, que é conveniada com a Secretaria de Saúde do Recife. Ao retirar o tampão do olho operado, cerca de 15 delas teriam notado a visão embaçada ou completamente escura, além das pálpebras roxas. Elas teriam voltado ao bloco cirúrgico para fazer uma lavagem no olho e, desde então, ainda não teriam recuperado por completo a visão. 

Os pacientes denunciam que não receberam diagnósticos nem explicações satisfatórias do que teria ocorrido. O médico Francisco Cordeiro afirmou, na segunda-feira, que era precipitado adiantar o que aconteceu, mas que a clínica estaria investigando e tratando os pacientes.  
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL