Ciência

Geossítio inaugurado em Paulista guarda vestígios de meteoro que dizimou espécies há 66 milhões de anos

O espaço tem 65 mil metros quadrados e fica localizado próximo à paria de Maria Farinha

Publicado em: 08/11/2018 09:07 | Atualizado em: 08/11/2018 09:19

O geólogo Gilberto Albertão pesquisa a região desde a década de 90.
Foto: Léo Malafaia/DP. (O geólogo Gilberto Albertão pesquisa a região desde a década de 90.
Foto: Léo Malafaia/DP.)
O geólogo Gilberto Albertão pesquisa a região desde a década de 90. Foto: Léo Malafaia/DP. (O geólogo Gilberto Albertão pesquisa a região desde a década de 90. Foto: Léo Malafaia/DP.)

Pernambuco ganhou o primeiro geossítio da América Latina disponível para visitas e pesquisas científicas. Na área de interesse geológico foram encontrados centenas de fósseis de animais que viviam na Terra há 66 milhões de anos e rastros da queda de um meteoro que dizimou mais de 60% das espécies, como os dinossauros. O geossítio possui 65 mil metros quadrados fica em uma área de mineração da Votorantim Cimentos, localizada no município de Paulista, Região Metropolitana do Recife, próximo à praia de Maria Farinha. O espaço será conservado através de uma parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

A região foi dividida em quatro exposições com painéis explicativos que contam a importância dos achados. É possível encontrar nas rochas evidências dos períodos entre a Era dos dinossauros, conhecida como Mesozoica e Era Cenozoica, quando surgem os mamíferos. Em junho do ano passado foi assinado um convênio entre a mineradora e a UFPE para explorar cientificamente e proteger a região que não poderá ser escavada pela empresa. 

"Essa área protegida conta um pedaço importante da história da Terra que foi um momento de extinção em massa, em que ocorreu a mortandade de muitos grupos biológicos e fez surgir uma nova era geológica. Um evento catastrófico que ficou marcado. Pesquisadores do mundo inteiro estudam esses contatos de eras geológicas", comentou a professora do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Alcina Barreto.

O pesquisador da Universidade Federal de Ouro Preto, Paulo Martins, explica que o local guarda vestígios da divisão entre Eras geológicas.
Foto: Léo Malafaia/DP. (O pesquisador da Universidade Federal de Ouro Preto, Paulo Martins, explica que o local guarda vestígios da divisão entre Eras geológicas.
Foto: Léo Malafaia/DP.)
O pesquisador da Universidade Federal de Ouro Preto, Paulo Martins, explica que o local guarda vestígios da divisão entre Eras geológicas. Foto: Léo Malafaia/DP. (O pesquisador da Universidade Federal de Ouro Preto, Paulo Martins, explica que o local guarda vestígios da divisão entre Eras geológicas. Foto: Léo Malafaia/DP.)

Pelo potencial de preservação e por sua relevância para o estudo geológico, o local recebeu pesquisadores de várias partes do Brasil. Um deles foi o geólogo Gilberto Albertão, que estuda a região desde a década de 90 e veio ao Recife pela primeira vez naquela época para realizar pesquisas de mestrado pela Universidade Federal de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais. 

"Essa mineração existe desde a época de 1940 e muitos trabalhos científicos já foram feitos, achados de fósseis e estudo de paleontologia. Nesse enfoque de associar a um evento importante da história da terra foi na época do meu mestrado, na década de 90. Esse é o único ponto do Brasil que apresenta a demarcação do limite entre período do tempo geológico Cretáceo e início do Paleógeno, provocado pela queda de um meteoro no Golfo do México", ressaltou o geólogo.

Milhares de fragmentos desse meteoro que caiu na Terra há mais de 66 milhões de anos foram encontradas na mina. Em 2008 foram achados nas rochas da Unidade Poty um crânio completo, vértebras e mandíbula de um crocodilo marinho. O crocodiliforme, que sobreviveu à extinção em massa. Há dois anos, foram encontrados parte da carcaça da tartaruga marinha que ganhou o nome de “rainha do mar de Pernambuco”. 

Outras espécies ainda podem ser descobertas. Por isso, o local ficará aberto aos pesquisadores e técnicos que desejem realizar estudos científicos. "O singular desse geossítio é que existe uma camada de sedimentos que um maremoto trouxe até o continente em uma tempestade que devastou tudo. Essa divisão no tempo é algo extraordinário e que muitos podem ver somente um paredão de rochas, mas que é precioso para história", afirmou o pesquisador da Universidade Federal de Ouro Preto, Paulo Martins.

Por enquanto, o local ficará aberto a pesquisadores e estudiosos da área. 
Foto: Léo Malafaia/DP. (Por enquanto, o local ficará aberto a pesquisadores e estudiosos da área. 
Foto: Léo Malafaia/DP.)
Por enquanto, o local ficará aberto a pesquisadores e estudiosos da área. Foto: Léo Malafaia/DP. (Por enquanto, o local ficará aberto a pesquisadores e estudiosos da área. Foto: Léo Malafaia/DP.)

De acordo com o gente de Direito Mineral da Votorantin, Rodrigo Sansonowsk, essa área de preservação é um exemplo de que a mineração pode contribuir com a preservação de achados geológicos.
“A mina foi muito importante nessa descoberta porque a topografia era muito maior e a gente nunca teria acesso a isso se a mineração não tivesse escavado esse material. O que antes iria virar minério para cimento, hoje é material de preservação. Então mudamos nosso plano de lavra, definimos uma área de 6,5 hectares de preservação. Isso nos mostra que a mineração pode ser sustentável e transformar o olhar de quem acha que a mineração é prejudicial, pois não é”, afirmou. 

As visitas devem ser solicitadas através do e-mail: geossítio.poty@vcimento.com. O geossítio está aberto a pesquisadores, mestrandos e doutorandos, já que por enquanto, ainda é um conteúdo científico. Futuramente, pode haver exposição dos achados, de acordo o projeto apresentado inicialmente pela UFPE. Mas aos sábados, quando não há operação da mina, a empresa irá receber a comunidade do Programa 'De Portas Abertas', para apresentar tanto o geossítio, como outras atividades realizadas na unidade.
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