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100 anos Rádio Clube

A novela pioneira que valeu pesquisa de Borjalo

Em artigos escritos com exclusividade para o Diario, pesquisador Luiz Maranhão Filho fala sobre pioneirismos da Rádio Clube

Publicado em: 26/11/2018 10:07

Um dos renomados pesquisadores sobre mídias do Brasil, Borjalo fez estudos sobre o embrião da telenovela aqui em Pernambuco. Foto: Reprodução/Internet
Mauro Borja Lopes, conhecido no Brasil como Borjalo  - cartunista de  renome,  integrou a equipe da Casa de Criação, da  Rede Globo de Televisão. Foi um dos melhores pesquisadores da mídia em nosso país. Teve a seu cargo uma  pesquisa para  determinar as origens da novela brasileira, um gênero surgido nos meios  de comunicação eletrônicos. Na  busca por  raízes, o conferencistas veio  ao Recife, nos anos 80,  a  convite do Departamento de Comunicação da  Universidade Federal de Pernambuco.

Na sua palestra, Borjalo se  referiu a um dado coletado nos  jornais dos anos 20, que  mencionava o surgimento da primeira história seriada emitida através do Rádio em nosso Estado.  Vagamente, descobrira a realização de um embrião de novela, sob o título  de Sinhazinha Moça,  presente  na  programação  da Rádio  Clube de Pernambuco. Foi  mais  além! Citou o nome  do ator Luiz Maranhão como o realizador.

Na  condição de integrante do corpo  docente da  escola, assistia  à explanação, quando fui identificado, pela Chefia do Departamento, pela condição de descendente do  pioneiro criador.  O  entusiasmo de Borjalo foi  grande, por  ter sentido a oportunidade de  um  aprofundamento  dos escassos dados  que  obtivera.

A  conversa foi longa. Desfez-se a confusão com o romance de  Bernardo Guimarães – Sinhá Moça,  sucesso internacional da novela da Televisão.  Quando Luiz  Maranhão  procurava autores  locais  de  peças  teatrais para  sofrer adaptação ao rádio, encontrou-se  com o amigo  e historiador Mario  Sette, que  havia  lançado o romance regional  Senhora de  Engenho  e se  dispôs a cedê-lo para o rádio. O texto era longo, não permitia irradiação em  três  atos numa só noite.  Daí veio a ideia  de fazê-lo em  sete  capítulos, para  uma  semana  de  duração.

Não havia mais o script, mas, como filho, sabia existir o livro, com anotações a lápis, indicando as divisões, os  trechos para  teatralizar. Na   ocasião,  deveria estrear no  elenco  da  A-8, a  atriz amadora Mercedes Ramalho (que teve o batismo de Mercedes Del Prado).  Borjalo  estava  realizado.  Prometi restaurar a versão  original. Infelizmente, o  pesquisador faleceu  antes  de  receber  a tarefa cumprida. Mas  ficou na  História mais  este  pioneirismo da  gloriosa, quase  centenária e primeira Rádio do  Brasil.

Luiz Maranhão Filho  é radialista e historiador radiofônico
  
Um nome na história
 
Quando se inscreve a História do rádio no Brasil, um nome não pode ser esquecido: Otto Sihler. Corria a segunda década do século 20, quando o país conquistou o progresso da telefonia através de cabo submarino. Veio a instalação da empresa Rádio Internacional do Brasil, que se popularizou na sigla radional. Seu suporte no Recife para a travessia do Atlântico ficou na Avenida 10 de Novembro - hoje Guararapes. Veio transferido o engenheiro em eletrônica, o alemão Otto Sihler que deveria retornar ao Sul tão logo concluísse a tarefa.

Coincidentemente, um grupo de profissionais liberais, ligados à Escola de Eletricidade do Recife, funcionava em Ponte D’Uchoa. Era a semente de fundação do Clube de Rádio, experimentalmente. Posteriormente a ele se juntou o ex-telegrafista do Loide Brasileiro, Oscar Moreira Pinto, desembarcado no Rio de  Janeiro, por problemas de saúde. Vinha disposto a montar uma radiodifusora em nossa capital. A conselho do primo Edgard Roquette Pinto, também empreendedor no Rio, desistiu da iniciativa, unindo-se aos pioneiros locais. Teve a ideia de procurar o engenheiro alemão para convencê-lo a aqui ficar para expansão da experiência.

A junção de Oscar e Otto resultou no surgimento do Rádio Clube de Pernambuco, inclusive com ondas curtas, transmissões externas, gravação de músicas em fio. Foi uma longa estrada até que Chateaubriand tomou a P.R.A.8. ao grupo original. Sihler, enraizado na terra, não parou. Instalou mais uma rádio para os Moreira, a Rádio Capibaribe. Por isso, o nome do alemão está na história do rádio pioneiro, em lugar de destaque. 
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