DP nos Bairros

Jaqueira, bairro que atrai mais idosos do que jovens

A urbanização de cada espaço pode definir o tipo de ocupação de cada lugar. O Diario traz um recorte das idades nos bairros Jaqueira, Graças e Aflitos

Publicado em: 28/09/2018 08:01 | Atualizado em: 28/09/2018 09:41

Na Jaqueira, a população maior do que 60 anos é muito maior do que os jovens. Imagem: Marina Cursino/Esp DP

Baixa densidade demográfica, altos índices de qualidade de vida, maiores rendas per capita do Recife e proximidade com o Centro, Zona Sul do Recife e Olinda. Os bairros da Jaqueira, Graças e Aflitos estão entre os mais cobiçados da Zona Norte do Recife por reunir, além das informações citadas, outras urbanidades como ruas arborizadas, equipamentos públicos bem conservados e grande concentração de comércio e serviços. Apesar de, no dia a dia, os três bairros formarem uma fusão territorial perfeita que quase sempre é difícil de definir as linhas divisórias, as características do perfil etário de seus moradores demonstram como a urbanização de cada espaço pode definir o tipo de ocupação de cada lugar.
 
No caso da Jaqueira, considerado um dos mais nobres do Recife, a população acima de 60 anos é muito maior que a de jovens moradores. Para o urbanista e sócio da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan), Geraldo Marinho, que trabalha com análise de dados demosociográficos, a oferta de ampla área de lazer, de arborização, a proximidade de serviços voltados para a faixa etária e o alto valor do metro quadrado podem explicar a maior concentração de idosos nesse bairro. 

“É interessante observar que dos seus 22 hectares de área territorial, 8,5  são referentes ao Parque da Jaqueira, à Praça Souto Filho (mais conhecida como Praça dos Cachorros) e à Praça Fleming. Quase metade de seu território, que é composto basicamente de seis quadras, é de áreas verdes, com pouca densidade populacional, o que eleva também o preço dos imóveis, atraindo pessoas de mais idade e que tenham condições de pagar pelas vantagens do bairro. Há 10 anos, minha mãe passou a morar na Jaqueira justamente pela ampla oferta de área de lazer”, afirma o urbanista. 

O tamanho restrito do território também limita a construção de novos prédios luxuosos, com amplas áreas privativas, com pouca mobilidade em relação à ocupação dos imóveis. “No caso da Jaqueira, muitas famílias envelheceram ali. Seus filhos cresceram e procuraram apartamentos novos com perfis semelhantes, em bairros próximos, como Aflitos, Graças, Torre e Madalena, todos com características etárias mais jovens. Isso porque ao redor do Parque da Jaqueira não há mais possibilidade de novas construções.

O número de compra e venda de apartamentos luxuosos antigos é inexpressivo para mudar o perfil dessa ocupação. De toda forma, é preciso observar aqui que a tendência dos bairros onde não há possibilidade de expansão é envelhecer”, destaca o professor aposentado do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jan Bitoun. Atualmente, o especialista trabalha no grupo Observatório das Metrópoles.

A servidora pública Mônica Melo, 50 anos, representa a situação descrita por Bitoun. Até sair da casa dos pais, Mônica cresceu e “se criou” no bairro da Jaqueira. Em busca de um bairro que representasse um perfil mais próximo com seu ambiente de identificação, mas com um metro quadrado um pouco mais barato, comprou um imóvel no bairro das Graças. “Esse bairro tinha muitas vantagens para mim. É perto da minha mãe, tem boas escolas onde meus filhos puderam estudar e tem tudo o que preciso por perto. Posso fazer tudo andando. Pretendo me mudar para um apartamento menor, mas vou continuar nas redondezas”, conta a servidora pública. 

No caso dos Aflitos, a população mais jovem é mais representativa, de acordo com os últimos dados demográficos, enquanto as Graças carrega consigo a característica de possuir um encontro de gerações, com a população moradora jovem e idosa apresentando os mesmos índices percentuais. “A grande oferta de serviços, que vão desde boas escolas, padarias, farmácias, mercados, bares, restaurantes, cafés, entre outros, aliada à qualidade de vida desses bairros e à proximidade do centro, atraem jovens casais, pessoas solteiras e idosos. De toda forma, de 2010 (ano de realização do último censo demográfico) para cá, houve um boom de novas construções no modelo studio ou quarto/sala. E o próximo censo, que será realizado em 2020, pode trazer alguns novos dados em relação a esse perfil etário”, avalia o urbanista Geraldo Marinho.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL