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Elas lideram onde quiser: mulheres no comando profissional

Ainda que enfrentando dificuldades no mercado de trabalho, atualmente podemos encontrar mulheres em posições de liderança em vários setores

Publicado em: 08/03/2018 12:39 | Atualizado em: 08/03/2018 17:58

Com a crescente luta por igualdade de direitos, está se tornando cada vez mais comum a inserção de mulheres em profissões consideradas de homens. Ainda que enfrentando dificuldades no mercado de trabalho - que vão de condições de trabalho a diferenças salariais - em relação ao gênero oposto atualmente podemos encontrar mulheres em posições de destaque e liderança em vários setores, como nas engenharias e economia, com um pouco mais de facilidade. O quadro está longe de ser satisfatório, mas a valorização do trabalho da mulher é fundamental para mudá-lo de forma mais efetiva. Aqui, trazemos a experiência de três mulheres que atuam em áreas geralmente relacionadas aos homens, mas que trazem aos ofícios suas qualidades femininas. Conheça:
 
A engenheira civil Maria Barros, 38 anos, já foi responsável por nove obras ao longo de sua carreira. Normalmente coordena cerca de 150 homens, mas confessa que chegar a esta posição foi um desafio. “Tenho dez anos de formada, mas há catorze [anos] trabalho em obra por causa dos estágios que a faculdade exige. Nessa época, foi muito complicado conseguir estágio, porque era muito difícil uma mulher em canteiro de obras. Até na própria engenharia mesmo, tinham pouquíssimas mulheres. Não chegava nem a 10% de mulheres na sala. Quando eu consegui uma vaga em um estágio, o dono da construtora falou: ‘está tudo bem, mas eu não vou te pagar nenhuma remuneração, só os vales [transporte]’”, conta.

Normalmente, Maria Barros coordena cerca de 150 homens, mas confessa que chegar a esta posição foi um desafio. Fotos: Camila Pifano/Esp. DP.
 

Segundo ela, isso se dá pela forma como a sociedade enxerga a mulher. “A parte mais sensível da mulher pesa muito. Às vezes você precisa advertir um funcionário, já lhe veem como se, por ser mulher, a bronca fosse ser mais branda, diferentemente de um homem”. Também por esta sensibilidade mais aguçada, Maria acredita que uma das contribuições da mulher no canteiro de obras seria a de promover o bem-estar e a união da equipe. “Tento entender certas situações como nós que estamos à frente também passamos, tendo mais solidariedade com o comportamento da outra pessoa”. 
 
Na área da economia, a situação não difere muito e a disparidade entre homens e mulheres também está presente. A professora, coordenadora da graduação do curso na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do projeto de pesquisa e extensão da universidade, Maria Fernanda, 39 anos, diz que não é só no departamento do curso que o número de mulheres é reduzido. "Na própria economia do país, temos poucas mulheres que se fazem ouvir e tomam decisão nessa área", diz.

A coordenadora do curso de Economia da UFPE, Maria Fernanda ao lado dos alunos Germano Gomes e Guilherme Bayma. Foto: Arquivo Pessoal


Atualmente são cerca de 35 pessoas no departamento de economia da UFPE, mas apenas 7 delas são mulheres. 1/5 do corpo docente. Apesar do cansativo quadro, a professora acredita que estão surgindo cada vez mais oportunidades para as mulheres. “Realmente sinto que mais recentemente as oportunidades estão se abrindo para as mulheres. Claro, em algumas áreas mais devagar do que em outras”. Para ela, a economia ainda pode ser um instrumento de mudança social, de promoção de inclusão e ampliação dos direitos. “A economia como ciência serve para nortear decisões, ampliar reflexão sobre possíveis cenários e sugerir alternativas”. 

Além da atuação acadêmica, Maria Fernanda ainda tem que lidar com a jornada dupla, de coordenadora e mãe, realidade tão comum no Brasil. Para a economista, a missão não é fácil, mas recompensadora: “minha filha, família e vida acadêmica são minha contribuição maior. É onde manifesto compreensão, construção coletiva, inclusão e amor”.
 
A área da engenharia muda, mas o cenário do departamento acadêmico não. No curso de enganheria de pesca, também da UFPE, são 23 professores e somente 6 são mulheres. O número ainda é baixo, mas, para a coordenadora do curso na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Suzianny Cabral, 33 anos, aconteceu um aumento das mulheres nos cursos de engenharia devido a maior inserção delas no ensino superior. “Embora, particularmente, acredite que este aumento nas engenharias ainda não seja expressivo”, acrescenta. Na graduação, piadas e brincadeiras por ser mulher eram presentes. A mais comum, relata, que era o conhecido: “tinha que ser mulher”. De acordo com ela, “qualquer coisa que em um procedimento ou uma pergunta em que não se sabia a resposta, ou se errava, havia uma piada”. Os comentários sempre partiam dos próprios colegas de turma. No entanto, a coordenadora destaca: “mulheres são naturalmente engenheiras, ou seja, engenhosas. Na sala de aula, são as que se destacam. Em campo, estarão naturalmente preparadas para os desafios”.

A coordenadora do curso de Engenharia de Pesca, Suzianny Cabral com aluno em aula prática. Foto: Fernando Azevedo/UFRPE


E sempre foi assim. Seja no ambiente acadêmico, empreendedor ou em qualquer esfera social, há anos as mulheres vêm desafiando a sociedade patriarcal e machista na qual estão inseridas. O quadro na área profissional ainda está longe do ideal, mas os avanços têm acontecido e são importantes para a inserção delas no mercado de trabalho. Ou onde quiserem. 
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