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Bicicletas ajudam a mudar vidas de estudantes

Dez jovens do Coque, na Ilha Joana Bezerra, precisam do transporte para frequentar cursinho pré-vestibular

Publicado em: 24/03/2018 07:53 | Atualizado em: 24/03/2018 12:04


Toda bicicleta esquecida em um canto da casa carrega infinitas possibilidades de voltar a ser útil a outras pessoas. Só para dar um exemplo, no Coque, dez jovens estão precisando com urgência de uma bicicleta, até mesmo usada, para darem continuidade a um importante projeto: entrar na universidade. O grupo faz cursinho pré-vestibular desde o início deste mês e, para chegar às aulas, precisa fazer o deslocamento em transporte coletivo, algo muito custoso para as famílias pobres do lugar. Uma alternativa tem sido a bicicleta. O problema é que nenhuma delas é própria. Geralmente são emprestadas por amigos ou parentes. Jornalista e moradora do Coque, Maria Réupi, 33 anos, teve uma ideia para ajudar aos estudantes.

Maria tem usado as redes sociais para fazer uma campanha de arrecadação de bicicletas usadas, independentemente da condição delas. Em nossa última conversa, na semana passada, já tinha conseguido sete bicicletas, além de quadros e peças para montar outras. Agora, ela também precisa de apoio para a reforma das “magrelas” e para a compra de peças. A Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo) é uma das instituições prontas para ajudar na reforma.

 A aquisição das bicicletas é mais um passo de uma campanha maior para ajudar aos meninos e meninas a entrarem na universidade. Maria Réupi conseguiu ajuda de voluntários para financiar o cursinho preparatório para nove deles, pois uma das jovens conseguiu uma vaga nas aulas gratuitas ofertadas por um grupo de alunos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Cada mensalidade custa R$ 125 e o pagamento já está garantido. Agora falta aliviar as dificuldades do percurso.

Maria conhece os adolescentes desde quando eram crianças. Ela é voluntária do Núcleo Educacional dos Irmãos Menores de Francisco de Assis (Neimfa), uma ONG atuante no Coque desde 1986. Ela conheceu o espaço quando era estudante de jornalismo da UFPE e participou do Coque Vive, um projeto de extensão da universidade. Há quatro anos, a jornalista deixou a casa onde vivia com a mãe e uma irmã, no Engenho do Meio, para dividir um imóvel alugado no Coque com outros jovens. No Neinfa, Maria trabalha com produção de mídia alternativa e análise crítica da mídia. Seu trabalho remunerado é junto ao Centro Popular de Direitos Humanos (CPDH), um coletivo de advogados populares.

Anne Alice Canuto da Silva, 18, é uma das dez pessoas do grupo necessitadas de uma bicicleta. A jovem trabalha dia sim, dia não com faxina no Coque e cumpre uma rotina de cursinho de segunda a sábado, das 13h30 às 18h30. Alice foi a única a conseguir a vaga gratuita de cursinho na UFPE. Os demais estão matriculados nas aulas de um cursinho particular na Boa Vista. Da casa dela, no Coque, até a Cidade Universitária, o percurso é de uma hora em uma bicicleta emprestada. Deseja uma vaga de pedagogia. “Apesar de ser longe, é o jeito ir de bicicleta. De ônibus sai caro para mim. O pior é que nem sempre somos respeitadas no trânsito”, lamenta.

Mekson Dias do Nascimento, 17, usa a bicicleta do pai, um marceneiro, para ir ao cursinho particular, no bairro da Boa Vista. “O problema é que de vez em quando ele também precisa da bicicleta para trabalhar. Nessas horas, me dá o dinheiro da passagem. Mas sei que esse valor sai caro para ele”, diz o jovem. Mekson vai tentar uma vaga nos cursos de cinema, jornalismo ou rádio e TV. O cursinho começou no começo deste mês. Quem quiser colaborar com a campanha para ajudar aos jovens pode procurar Maria Réupi nas redes sociais ou pelo WhatsApp: 99659.7990.
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