Memória

Carnaval de Olinda pode se tornar Patrimônio Imaterial do Brasil

Processo tramita no Iphan em Brasília desde maio do ano passado. Pedido de registro foi feito pelo historiador e arqueólogo Plínio Victor

Publicado em: 27/01/2018 09:00 | Atualizado em: 29/01/2018 16:02

O frevo já se tornou Patrimônio Imaterial do Mundo pela Unesco. Foto: Peu Ricardo/DP

O carnaval de Olinda pode se tornar Patrimônio Imaterial do Brasil. O pedido de registro foi feito em maio do ano passado pelo historiador e arqueólogo Plínio Victor junto com a Sociedade Olindense de Defesa pela Cidade Alta (Sodeca) e tramita no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Brasília (DF). A principal justificativa para a obtenção do título é que o carnaval de Olinda é o único exemplar no Brasil que ainda guarda a mística e a estrutura da festa ibérica trazida pelos europeus nos anos 1500.

“O carnaval tem suas origens na Europa como festa cristã, que acontecia três dias antes do início da Quaresma para compensar o período de jejum. Chegou ao Brasil com o nome de entrudo, importando comportamentos como a brincadeira de mela mela, os disfarces através das fantasias, das máscaras e da representação. Uma verdadeira mistura de classes sociais numa grande celebração de rua, onde as pessoas dançam e brincam o dia inteiro sem precisar pagar para entrar”, contextualiza Plínio Victor. Segundo ele, os primeiros registros do carnaval de Olinda em livros e relatos da época já citam o entrudo.

O historiador Plínio Victor deu entrada no pedido de registro ano passado. Foto: Peu Ricardo/DP
A festa com esse formato acontecia no Brasil todo, não apenas em Pernambuco. Mas no resto do país o carnaval foi tomando uma forma mais comercial, perdendo muitos elementos tradicionais que ainda hoje são encontrados em Olinda com muita força. “Aqui é o único lugar onde se preservou a castanhola e os papangus, todos de herança ibérica, assim como o pastoril”, completa o historiador.

Ele lembra também que, no Brasil, a festa europeia foi redimensionada com elementos da cultura africana e indígena, seja na música, na dança ou nos instrumentos. E, a partir do início do século XX, o carnaval foi tomando a forma como conhecemos hoje. “Olinda é um grande memorial da música pernambucana. Os ensaios dos clubes tradicionais, que já começam meses antes da festa, têm todo um esmero particular. Os mais jovens reproduzem os compositores e suas composições, sabem a história das letras. O carnaval de Olinda é uma parte fundamental da memória brasileira”, ressalta Plínio.

Além da questão histórica e democrática, outro ponto ressaltado no pedido feito ao Iphan foi a representatividade do carnaval não apenas para a cultura nacional, mas também pelo seu respaldo internacional. “O carnaval de Olinda é conhecido no mundo todo e as pessoas vêm de todos os continentes para apreciar nossa festa. Temos, por causa dele, o surgimento do frevo, que já é Patrimônio Imaterial do Mundo pela Unesco desde 2012, dos bonecos gigantes, das agremiações. Nossa expectativa é de que o pedido seja aprovado em breve”, afirma o arquiteto e urbanista Natan Nigro, que faz parte da Sodeca. Ele pontua que Olinda vive, inclusive, uma mistura de religiosidades e boemia.

Segundo o Iphan, o pedido de registro foi recebido e foi aberto um processo interno, que está em andamento e aguarda agora a análise preliminar. “Do momento em que a solicitação foi recebida até o processo ser tramitado dentro do Iphan, demanda um tempo”, afirma a comunicação do instituto, que ainda não sabe precisar quando será dado o título ao carnaval de Olinda.

O Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas de Olinda completa 106 anos em 2018. Foto: DP/Arquivo
Após essa fase, o Iphan começa a fazer o levantamento histórico, através de livros, fotografias (inclusive da população) e relatos de jornais, e contará com a colaboração da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). “A Fundarpe está à disposição para garantir que o carnaval de Olinda seja registrado como Patrimônio Imaterial do Brasil. Porque esse título representa o reconhecimento de um bem que define nossa história e identidade enquanto povo. O frevo já foi reconhecido pela Unesco como Patrimônio Imaterial do Mundo. Agora é a vez do carnaval de Olinda”, defende a presidente da Fundarpe, Márcia Souto.
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