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Estudo BRT mudou transporte na capital Pesquisa avalia o sistema, que melhorou acesso à mobilidade, mas carece de espaços segregados. Resultados serão usados para elaborar soluções

Por: Anamaria Nascimento

Publicado em: 05/12/2017 08:00 Atualizado em: 05/12/2017 12:00

Três anos e meio após sua inauguração, o sistema de Bus Rapid Transit da Região Metropolitana do Recife cruza 47,6 km e transporta 121 mil passageiros por dia. Já incorporado à rotina da cidade, o serviço teve ganhos, problemas e possíveis soluções apontados por pesquisa do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), que avaliou o modal a partir de dados do Grande Recife Consórcio de Transportes, imagens de satélite e entrevistas com mil usuários dos corredores Norte-Sul e Leste-Oeste. Os resultados serão levados em conta pelo poder público para melhorar o modal.

O estudo apresentou dados inéditos como a informação de que 2% dos usuários do Norte-Sul usavam o carro antes de adotar o sistema como principal transporte. No Leste-Oeste, o percentual foi de 3%. A substituição do carro ou do ônibus convencionais pelo BRT acarretou economia de 61% (17,6 mil toneladas) de emissão de gás carbônico.
Cerca de 80% dos usuários do Norte-Sul e 85% do Leste-Oeste consideraram que o deslocamento diário melhorou com a chegada do BRT. Um dos principais motivos da satisfação foi a redução no tempo de viagem, já que houve diminuição de 16% no tempo de deslocamento dos usuários do Norte-Sul (ganho de 15 minutos) e 28% no Leste-Oeste (26 minutos).

O BRT Via Livre aumentou de 13% para 23% o percentual da população coberta por sistemas de transporte de média e alta capacidade. De 20% para 30% foi o aumento da cobertura de acesso a postos de trabalho privados. Também cresceu de 15% para 31% a cobertura de acesso a policlínicas e hospitais, e de 14% a 29% a cobertura de acesso a instituições de ensino superior. 

O maior entrave apontado é a falta de regularidade nas viagens, ponto em que o BRT pernambucano é o pior entre os sistemas já avaliados no país. Mesmo onde há corredor exclusivo (30,4 km do percurso), o espaço é invadido por outros veículos e os ônibus ficam presos em congestionamentos. O Grande Recife informou que recebeu os resultados e que os dados serão levados em conta nas próximas ações e planejamentos.
 
O estudo, realizado neste ano e apresentado ontem, foi entregue a outros órgãos públicos que pensam a mobilidade, como a Secretaria das Cidades de Pernambuco, o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira e a CTTU. “A pesquisa foi feita de forma independente. Com o governo, pegamos apenas dados técnicos. Depois, voltamos com os resultados para discutir com órgãos as possíveis melhorias”, explicou o coordenador de transporte público do ITDP, Gabriel Oliveira. 
De acordo com o instituto, os objetivos da pesquisa - já realizada em cidades como Rio, Belo Horizonte, São Paulo, Brasília e Curitiba - foram avaliar a contribuição do BRT para a mobilidade dos usuários e para o acesso às oportunidades na Região Metropolitana, além de qualificar com indicadores a tomada de decisão no ciclo da política de investimento.

“A avaliação focou nos trechos com prioridade de passagem e circulação exclusiva para ônibus”, ressaltou Oliveira. Assim, os trechos do BRT que passam pelas avenidas Conde da Boa Vista e Cruz Cabugá, por exemplo, foram contemplados parcialmente no estudo.

Reforço na estrutura é principal prioridade

O ITDP entregou ao poder público sugestões divididas em três eixos: aprimoramento da infraestrutura e operação, melhoria das condições de acesso a pedestres e ciclistas, e promoção de desenvolvimento orientado ao transporte sustentável. Na infraestrutura, sugere extensão do corredor exclusivo até o Centro, segregação física do Leste-Oeste (hoje separado por tachões), circuito interno de segurança, adoção de linhas expressas e conclusão das estações pendentes. Quanto à melhoria nas condições de acesso a pedestres e ciclistas, sugere requalificação de calçadas, regulação de velocidade em 50 km/h, melhor iluminação pública e paisagismo, e instalação de bicicletários e paraciclos.

O diretor de Operações do Grande Recife, André Melibeu, respondeu que os pontos do primeiro eixo estavam contemplados no projeto original do BRT. As sugestões do eixo 2 serão consideradas. “O mais importante é terminar toda os terminais e as estações que estão pendentes. Também vamos implantar fiscalização eletrônica nos corredores para evitar invasão. Aguardamos a conclusão da instalação da fibra óptica para monitorar veículos e liberar essas informações (de tempo de espera, por exemplo) para os usuários”, pontuou.


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