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Câncer Falta de remédio na rede estadual para mieloma múltiplo ameaça tratamento

Publicado em: 10/11/2017 07:42 Atualizado em: 10/11/2017 08:04

Há pouco mais de seis meses, o cobrador aposentado Divaldo Aureliano, 79 anos, tinha autonomia quase completa das suas funções. Depois de recuperar a fala, a força muscular para andar e a orientação, voltou a sair de casa só e não depender de parentes. Mas o avanço adquirido após várias sessões de quimioterapia está, aos poucos, desaparecendo. Divaldo tem mieloma múltiplo, tipo de câncer raro que acomete cerca de 270 pessoas em Pernambuco. Ele e outros pacientes estão sem realizar o tratamento há quatro meses, por falta de uma medicação no estado.

O mieloma múltiplo é um tipo de câncer que atinge cerca de 30 mil pessoas no Brasil e 700 mil no mundo. Ele representa cerca de 1% do total de neoplasias e é o segundo câncer hematológico mais frequente. Surge no plasmócito, uma célula de defesa do organismo, responsável pela produção das imunoglobinas, os anticorpos. Quando a pessoa desenvolve o mieloma múltiplo, há aumento da atividade e da produção das células plasmáticas, desencadeando uma série de consequências no organismo.

A doença atinge os pacientes de formas diferentes. Algumas pessoas podem sequer apresentar sintomas na fase inicial. Os mais comuns são fadiga, fraqueza, dores ósseas, anemia, problemas renais, fraturas patológicas e infecções. Depois de diagnosticados, os pacientes precisam iniciar o tratamento quimioterápico, com uma combinação de drogas. A principal delas é a Bortezomibe, a medicação que está desabastecida no estado.

Somente na Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (Hemope), cerca de 40 pacientes tomam o remédio. Um deles é Divaldo Aureliano, que agora permanece em casa esperando pelo medicamento. “Meu pai descobriu a doença há quatro anos, quando perdeu a força nas pernas e começou a se esquecer das coisas, das pessoas. Chegou a ir para a UTI e passou três anos direto na quimioterapia”, conta a filha, a agente comunitária de saúde Edjaira Aureliana, 48.

Segundo a agente, há cerca de um ano e meio, Divaldo recebeu alta diante das melhoras no quadro, mas precisou voltar a fazer os ciclos no meio de 2017. “Meu pai recebeu a quimioterapia de julho, mas depois não tinha mais o medicamento. Ele precisaria tomar uma ampola por semana, mas a gente liga e tudo o que dizem é que não há previsão de chegar e que o processo de licitação já começou. Os pacientes estão no corredor da morte”, lamenta Edjaira. “Tem hora que estou deitado e tudo começa a doer. O nosso medo é bater as botas”, reclama Divaldo.

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