Terapia Videogame ajuda pessoas com câncer Jogos virtuais são utilizados para reduzir problemas como falta de equilíbrio, e melhoram qualidade de vida de pessoas que fazem quimioterapia

Por: Alice de Souza - Diario de Pernambuco

Publicado em: 17/08/2017 08:04 Atualizado em:

Jogos de videogame que promovem a interação entre os mundos real e virtual estão sendo utilizados para estudar o comprometimento dos nervos periféricos, responsáveis por conectar as informações entre o cérebro e a medula espinhal, de pacientes submetidos a quimioterapia. O estudo em desenvolvimento no Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) visa identificar neuropatias periféricas, como alteração de sensibilidade nos membros e fraqueza muscular, em pessoas que estão se tratando para câncer e oferecer uma intervenção mais eficiente para evitar sequelas definitivas.
A maioria dos pacientes oncológicos que fazem quimioterapia apresentam um quadro associado de fraqueza, tonturas, alterações de equilíbrio e diminuição da sensibilidade nas mãos e pés. Para alguns tipos de câncer, estudos médicos chegam a quantificar esse tipo de comprometimento em 100% das pessoas em tratamento quimioterápico. Isso acontece porque algumas drogas usadas promovem a irritação nos nervos periféricos. Em consequência, aumentam o risco de queda e o comprometimento da qualidade de vida do paciente.
O estudo realizado no HCP selecionou 32 pacientes e, desde fevereiro deste ano, realiza avaliações periódicas para mensurar o nível de comprometimento desses nervos. A análise acontece a partir do usos de jogos, no qual os pacientes criam personagens e interagem com a máquina ao realizar movimentos. Os jogos vão desde um simples permanecer em pé apenas com uma perna a dançar coordenando os movimentos com o do boneco que aparece na tela.
Cada paciente foi avaliado antes de iniciar as sessões de quimioterapia, depois de realizar quatro ciclos e ao fim do tratamento. Até então, as pesquisadoras identificaram que 80% dos avaliados desenvolveram as neuropatias. “O jogo faz a leitura das articulações e imerge o paciente, dando um feedback visual para fazer as correções”, afirmou a fisioterapeuta coordenadora da residência multiprofissional em oncologia do HCP, Carina Paiva.
Os tratamentos chegam a durar mais de seis meses em alguns casos. A ideia de usar os videogames é identificar as alterações no centro de gravidade do paciente de forma precoce. “Em três meses de tratamento, muitos pacientes já sentem os comprometimentos. Percebemos que eles aumentam, do quarto ciclo para o último. Esse é o mesmo tempo necessário para trabalhar a recuperação”, afirmou a fisioterapeuta residente Anna Karoline Lemos, responsável pela pesquisa.
No caso da oncologia, o jogo para reabilitação também ajuda a amenizar a fadiga oncológica, sensação de cansaço constante que acomete até 95% dos pacientes. “Eu costumava dormir muito, não saia da cama. Então, me forcei a continuar trabalhando durante o tratamento para evitar ficar parada”, lembra a funcionária pública Marlene Oliveira, 58 anos, que realizou tratamento quimioterápico depois de um câncer de mama.
“A medida em que a pessoa está disposta, tem mais vontade de sair de casa, melhoram as relações sociais. Além da diversão do jogo, que ajuda na disposição para vir ao hospital”, acrescentou Carina Paiva. Os resultados serão assunto durante o III Simpósio em Oncologia do HCP, que será realizado entre os dias 18 e 19 deste mês, no Hotel Courtyard by Marriott, em Boa Viagem.

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