Trânsito Medidas simples surtem efeitos sobre segurança de pedestres, ciclistas e motoristas

Por: Rosália Vasconcelos

Publicado em: 14/08/2017 07:38 Atualizado em: 14/08/2017 07:47

Investir em segurança na mobilidade urbana para reduzir o número de acidentes de trânsito nem sempre significa disponibilizar grande volume de recursos financeiros. A experiência em cidades como Londres, no Reino Unido, e Sydney, na Austrália, mostra que a pesquisa aliada à disposição da administração pública e à otimização da engenharia de tráfego já reduziria em muito os alarmantes índices de mortes no trânsito. É o caso das estruturas de traffic calming (trânsito calmo, em tradução literal), que utilizam marcações horizontais e verticais nas vias, desníveis no asfalto e redutores de velocidade para oferecer mais segurança aos diversos atores do tráfego urbano.

O movimentado cruzamento da Rua da Harmonia com a Avenida Conselheiro Nabuco, no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, é um problema antigo. Em 2014, os moradores e comerciantes da região se mobilizaram para a implantação de um semáforo nesse cruzamento. Mas a ideia foi recusada pela Prefeitura do Recife na época, com a justificativa de haver outro sinalização semafórica a cerca de 100 metros, o que iria provocar uma retenção do fluxo de veículos. Os acidentes nessa encruzilhada poderiam ser reduzidos com estrutura de traffic calming, como uma rotatória em desnível, por exemplo. Ela obrigaria os motoristas a reduzir a velocidade ao cruzar as vias, oferecendo mais segurança ao pedestre, ciclista e evitando choques de veículos.

“A rotatória serve para reduzir a velocidade e aumentar o nível de atenção, sobretudo do motorista, que é quem possui a arma na mão. Há muitas possibilidades de estruturas de traffic calming, que vão se adequar ao tipo de necessidade de cada ponto da via, aos recursos existentes e aos problemas da cidade. A grande sacada desse conceito é usar o design da via, das calçadas, da cidade, para dizer ao motorista: vá devagar”, sintetiza a urbanista e doutoranda em desenvolvimento urbano na UFPE Evelyne Labanca.

Ela ressalta que o semáforo, muitas vezes, provoca uma retenção desnecessária onde caberia um equipamento para acalmar o tráfego. É o caso da Avenida Cais de Santa Rita. Há fluxo intenso de pessoas para fazer a travessia da via onde circulam veículos em ambos sentidos com velocidade de 60km/h. “O problema no Recife é a inversão de prioridades de quem faz a gestão do trânsito, que coloca a fluidez em detrimento da segurança”, critica Labanca.

Há uma infinidade de recursos de traffic calming, como a mudança na textura/tipo do pavimento do asfalto, o estreitamento de alguns trechos da faixa de rolamento, obrigando o motorista a diminuir a velocidade, os martelos (alargamento das calçadas nas esquinas) e a faixa de pedestre elevada. “Outro bom recurso são as ruas em zigue-zague que existem por dentro de Boa Viagem e Setúbal”, lembra o cicloativista Guilherme Ataíde Jordão.

O Recife, aliás, tem boas estruturas para acalmar o tráfego. É o caso da Rua da Moeda, no Bairro do Recife. “Ela é uma verdadeira zona 30, com calçadas largas, via de circulação estreita e travessia de pedestres elevada e encurtada nos cruzamentos (martelo)”, exemplifica o urbanista Pedro Guedes.

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