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Cidadania Balé Afro resgata identidade negra através de oficinas gratuitas de dança Na atividade, os participantes aprendem sobre a história da cultura negra, o combate ao racismo e a intolerância religiosa

Por: Samuel Calado - Redes Sociais e Site

Publicado em: 25/05/2017 14:13 Atualizado em: 25/05/2017 17:19

As oficinas do Balé Afro Raízes são gratuitas e contempla todas as idades, sempre às segundas, às 18h. Foto: Paulo Queiroz/Divulgação
As oficinas do Balé Afro Raízes são gratuitas e contempla todas as idades, sempre às segundas, às 18h. Foto: Paulo Queiroz/Divulgação


Há mais de 10 anos, o produtor e coreógrafo Paulo Queiroz ministra oficinas de dança afro no Nascedouro de Peixinhos, em Olinda, com esforço e dedicação através do trabalho voluntário. Em meio à realidade marcada pelo alto índice de vulnerabilidade social da comunidade, Paulo pensou em uma forma de trabalhar a cultura e a profissionalização com os moradores da comunidade e adjacências como formas de inserção. O Balé Afro Raízes foi fundado em 2006 com a proposta de criar um coletivo que resgatasse os costumes e as tradições dos grupos de arte negra de Pernambuco, emergidos nas décadas de 1980 e 1990, que faziam militância em defesa da afirmação da identidade afro-descendente e no combate ao racismo. 

Atualmente, cerca de 100 pessoas participam da oficina. Na atividade, além dos movimentos africanos e afro-brasileiros, os integrantes aprendem sobre a história da cultura negra e o combate ao racismo, a intolerância religiosa e outras discriminações. Paulo conta que o objetivo da ação é contribuir para a valorização e afirmação da identidade negra, “a atividade é voltada para a formação artística e profissional de crianças, jovens e adultos. Nas vivências, todos aprendem e ensinam de forma simultânea, revelando-lhes a si mesmos seus dons e talentos, aumentando-lhes a autoestima e aptidões artísticas", relata o professor voluntário. 

Nesses 11 anos de trajetória, o grupo já formou vários profissionais e apresentou uma série de espetáculos. Foto: Paulo Queiroz/Divulgação
Nesses 11 anos de trajetória, o grupo já formou vários profissionais e apresentou uma série de espetáculos. Foto: Paulo Queiroz/Divulgação
 
O artesão Jamesson Santos, residente comunidade do Bongi, Zona Oeste do Recife, precisa utilizar um metrô e um ônibus para chegar ao Nascedouro, mas não encara essa viagem como cansativa. Muito pelo contrário, ele enxerga na atividade um grande potencial de aprendizagem: "O professor se preocupa bastante com a interação do grupo. Ajuda a gente a  conhecer o corpo e vencer as diferenças. Seria muito bom que o projeto recebesse parcerias para continuar levando conhecimento e cidadania às pessoas. Às vezes, chega a faltar água para os bailarinos, mas mesmo assim as turmas lotam", conta o rapaz que frequenta as aulas desde janeiro. 
 
Marcos Junior, 19, mora na comunidade de Peixinhos, em Olinda, e participa do grupo há quatros meses. "Eu nunca tive condições de ter aula de dança e o balé me deu essa oportunidade. Tinha muito preconceito com a cultura afro e, após as aulas, mudei completamente. Hoje, vivo e defendo a cultura negra. A única coisa que vai me tirar do grupo é se acontecer algo com meus pés, porque nada vai me tirar", destaca o jovem, emocionado.  

 Paulo conta que o objetivo da ação é contribuir para a valorização e afirmação da identidade negra. Foto: Fernando Azevedo Divulgação
Paulo conta que o objetivo da ação é contribuir para a valorização e afirmação da identidade negra. Foto: Fernando Azevedo Divulgação

 
Valquiria Chagas, 45, residente da comunidade do Janga, em Paulista. Utiliza dois transportes, um para o centro de Olinda e outro para a Avenida Presidente Kennedy, onde vai a pé até o Nascedouro. Ela fala que quando conheceu o projeto, estava entrando em depressão devido alguns problemas pessoais. “Através das rodas de diálogos e contato com as pessoas, encontrei uma felicidade além da dança que me deu um vínculo. Agradeço muito por esse balé existir. As pessoas são acolhedoras. Levarei a união do grupo por onde eu for e divulgarei para outras pessoas. Seria interessante que o Raízes fosse mais reconhecido pelo seu trabalho social”, relata Valquíria.  

Reconhecimento

Nesses 11 anos de trajetória, o grupo já formou vários profissionais e apresentou uma série de espetáculos, com destaque para as peças Dançando com a força e a sensualidade dos Orixás, Senzala e Os guerreiros, encenados em vários teatros e festivais, como o Janeiro de Grandes Espetáculos (em 2008), a 7ª  Mostra Brasileira de dança (2009) e o 25º Festival de Inverno de Garanhuns (2015). Foi indicado este ano ao prêmio Troféu Abebé de Prata Mãe Dadá, que será realizado no próximo dia 31 de maio no Teatro Luiz Mendonça, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem. Este evento promove as ações sociais visando o combate à pobreza, proporcionando condições para a educação, a saúde, o bem estar e a melhoria das condições de vida das pessoas envolvidas no entorno da comunidade e adjacências, valorizando o indivíduo e devolvendo sua dignidade.
 
Foto: Paulo Queiroz/Divulgação
Foto: Paulo Queiroz/Divulgação


Serviço

As oficinas do Balé Afro Raízes são gratuitas e contemplam todas as idades, sempre às segundas, às 18h.  O Nascedouro de Peixinhos está localizado na Av. Jardim Brasília, próximo à Av. Presidente Kennedy,  na comunidade de Peixinhos, em Olinda.

Para obter mais informações, podem entrar em contato diretamente com o coordenador através do número  (81) 98788-3144. 


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