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Casa dos Frios Defesa de motorista pretende entrar com ação indenizatória Advogada de Mário José Ferreira está avaliando as medidas judiciais que planeja adotar

Publicado em: 23/01/2017 16:27 Atualizado em: 23/01/2017 18:35

A defesa do motorista Mário José Ferreira, que denunciou ter sido constrangido e vítima de racismo pela segurança da Casa dos Frios, no bairro das Graças, na última sexta-feira, disse nesta segunda-feira que pretende formalizar um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil e entrar com uma ação indenizatória na Justiça por danos morais contra o estabelecimento. A advogada Maria Eduarda Andrade disse que ainda não sabe quando irá prestar a queixa nem acionar a Justiça. A defensora pretendia ir à Delegacia do Espinheiro, na companhia de Mário, para formalizar a queixa, na manhã desta segunda-feira, mas adiou a ida ao local. Maria Eduarda declarou que o escritório está avaliando as medidas que pretende adotar.

Mário José revelou que na última sexta-feira, por volta das 20h30, chegou à Casa dos Frios, a pedido do seu chefe, o advogado Gilberto Lima Júnior, para comprar bolos de rolo. O motorista conta que entrou na loja falando com o chefe ao telefone e que depois foi até o carro pegar o dinheiro para comprar as 20 unidades do produto que o chefe queria para levar em uma viagem à Alemanha e à Itália. Quando chegou ao caixa, Mário só estava com R$ 600 e as compras totalizaram R$ 660. Outra vez, ele precisou sair para buscar mais dinheiro. Mário contou que quando voltou à loja pela terceira vez não teve mais acesso ao estabelecimento, que estava com as portas fechadas.

O motorista disse ter recebido o dinheiro de volta, ainda do lado de fora da loja e ter sido informado de que a venda não poderia ser concluída por problemas no sistema de informática da loja. Em seguida, Mário José disse que foi abordado por policiais militares. “Quando voltei com o restante do dinheiro, a loja estava fechada só para mim e chamaram três viaturas da polícia, onde fui abordado no meio da rua. Estava sendo acusado de tentativa de roubo e porte de arma de fogo. Depois da revista, não encontraram nada comigo”, detalhou Mário.

O outro lado
A Casa dos Frios afirmou que uma funcionária teve a impressão de vê-lo com uma arma e, por isso, a Polícia Militar foi acionada. O caso foi revelado nas redes sociais pelo advogado Gilberto Lima, chefe de Mário. Ele utilizou o Facebook da mulher para fazer a postagem às 23h39 da última sexta-feira. Em nota divulgada à imprensa, a Casa dos Frios negou racismo no estabelecimento e qualquer conduta discriminatória.

Confira abaixo a nota:
“Vimos por meio desta nota esclarecer a ocorrência que se deu em nosso estabelecimento da Rui Barbosa na noite de 20 de Janeiro de 2017 e que está sendo divulgada de forma equivocada. Um senhor estava fazendo compras na nossa loja quando uma de nossas caixas teve a impressão de tê-lo visto portando uma arma embaixo da camisa e notificou o gerente da loja. Frente à situação atual de violência que se observa na cidade, o nosso gerente ativou o protocolo de segurança. Entrou imediatamente em contato com a polícia afirmando haver uma suspeita de assalto. A polícia veio até o nosso estabelecimento e tomou as providências cabíveis à situação. Ressaltamos que a suspeita não foi atribuída a cor do cidadão, mesmo porque temos vários clientes e funcionários negros, sendo certo que a cor nunca foi e nunca será motivo de tratamento desigual em nossos estabelecimentos, cumprindo lembrar que em nossos anos de atuação jamais se cogitou alguma conduta discriminatória da Casa dos Frios. Por fim, ressaltamos ainda que a despeito do ocorrido, não houve qualquer constrangimento ao cidadão em razão da sua cor.”


Protesto

Um protesto está previsto para as 17h desta segunda-feira. Organizações militantes da causa negra pretendem fazer um ato em frente à Casa dos Frios, na Avenida Rui Barbosa. O estabelecimento está sendo acusado de racismo pelas entidades pelo tratamento dado ao motorista no momento em que iria concluir a compra. Na página do protesto no Facebook, cerca de 400 pessoas confirmaram presença.

 

Pedido de desculpas
Nesta segunda-feira, às 17h51, a Casa dos Frios emitiu nova nota em que classifica o caso como um “lamentável episódio”, pede perdão ao cliente Mário José Ferreira e se desculpa “perante toda a sociedade pernambucana”. Confira o comunicado na íntegra:

Como largamente divulgado na imprensa e redes sociais, no último dia 20 de janeiro, um lamentável episódio ocorreu nas dependências de nossa empresa. Estamos vivenciando um período de extrema violência, gerando, em toda a população, um forte sentimento de insegurança. Os nossos funcionários vivenciam esta preocupação no dia a dia. São cidadãos normais, com seus medos e anseios, e acompanham o noticiário diuturno da violência que só faz aumentar em todo o Brasil.
Quanto ao ocorrido, um protocolo de segurança foi acionado após uma funcionária afirmar, categoricamente, que um cliente que já havia entrado por duas vezes naquela mesma noite, no estabelecimento, estaria portando arma de fogo. O procedimento adotado pelo gerente foi o de acionar a polícia, comunicando a suspeita, visando a resguardar a integridade de seus clientes, empregados e do seu patrimônio, diante, repita-se, do relato apresentado pela funcionária.
O fato, sem dúvida alguma, gerou forte constrangimento ao nosso cliente Mário José Ferreira. Só nos resta pedir perdão e lamentar profundamente o ocorrido, compreendendo o seu justo e legítimo sentimento de indignação. A Casa dos Frios é uma empresa familiar, reconhecida pelo carinho e respeito que transmite a todos os seus clientes, sem qualquer tipo de distinção. Não admitimos, portanto, que sejam adotadas posturas preconceituosas ou discriminatórias, o que confiamos não ter ocorrido no presente caso.
Como já afirmado, tudo não passou de um lamentável mal-entendido, fruto do sentimento de insegurança que permeia a sociedade brasileira. A Casa dos Frios reitera o pedido de perdão ao cliente e se desculpa perante toda a sociedade pernambucana.

 



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