Saúde Dia de combate ao Alzheimer é marcado por ações em escolas e faculdades Mais de 100 anos depois de identificada, doença continua a intrigar a ciência

Por: Marcionila Teixeira - Diário de Pernambuco

Publicado em: 21/09/2016 07:17 Atualizado em:

Maria José de Queiroz titubeia para falar a idade. Pensa um pouco, mas não consegue lembrar. Vira de lado e pergunta ao filho Tibério Andrade, 36 anos, o seu tempo exato de vida. A resposta é 78 anos. A aposentada ri. Tem sido assim nos últimos tempos. Os primeiros sinais de Alzheimer começaram a surgir. Esquecimento é um deles. Maria José trabalhou como professora de educação física. Também pintava e tocava teclado com frequência.
Segundo especialistas, a formação educacional pode ter contribuído para adiar o aparecimento da doença em seu organismo. Pesquisas realizadas dentro e fora do país apontam a baixa escolaridade como um dos fatores de risco para o desenvolvimento do Alzheimer.
Hoje é o dia mundial de combate à doença, descrita pela primeira vez em 1906. Ao longo deste mês, a capital pernambucana terá uma série de atividades promovida pela Associação Brasileira de Alzheimer para lembrar a data. Uma delas são as palestras itinerantes em escolas, faculdades e associações. No próximo dia 3 de outubro, está programado o simpósio Onde estão as minhas chaves?, no Hospital Português, das 8h às 18h.
Para hoje, está prevista a palestra online Webinário gratuito - Dia Mundial do Alzheimer, a partir das 20h, promovida pelo Método Supera de Ginástica Cerebral. A gerontóloga Thaís Bento falará sobre como diminuir os riscos de Alzeheimer. Para se inscrever, basta acessar http://supera.la/60maisthais.
A geriatra Andréa Figuerêdo, que atua no Ambulatório do Esquecimento do Hospital Esperança de Olinda, explica que a doença é relativamente nova e por isso suas causas ainda são um desafio para os estudiosos. Além da baixa escolaridade, são fatores de risco conhecidos o avançar da idade - a partir dos 65 anos aumenta a possibilidade; a história familiar, caso o paciente tenha parentes de primeiro grau com a doença diagnosticada antes dos 65 anos; além da síndrome de Down.
“A escolaridade pode retardar o aparecimento. Assim, a melhoria no acesso das pessoas à educação poderia ser um fator protetor contra o desenvolvimento da doença, mas a idade está por trás da maior parte dos casos”, explicou Andréa. Segundo a organização Alzheimer’s Disease International (ADI), a incidência de casos na população com mais de 65 anos praticamente dobra a cada 20 anos no mundo.
Maria José tem outra característica comum aos pacientes com Alzheimer. Costuma lembrar bem de histórias do passado, apesar da memória recente ser mais curta. Natural de Timbaúba, ela pensa estar naquele município quando, na verdade, mora em Cajueiro, no Recife.
“Os familiares precisam estar atentos e não pensar que demência é um sintoma normal da idade e deixar de tratar. É preciso investigar. Lembrar coisas do passado não significa que o idoso está bem. Quanto mais cedo se descobre, maiores são as chances de estabilizar o paciente e melhorar a qualidade de vida dele”, orienta Andréa Figuerêdo. Por conta da falta de informação, os pacientes não chegam às clínicas e a doença termina subnotificada, diz a médica.
Apesar do tratamento, a doença evolui em todos os casos. O que pode mudar é a rapidez nesse processo de evolução. O paciente não pode, portanto, ficar só. “A terapia ocupacional é importante no processo de estímulo cognitivo. Por exemplo, se o paciente tem baixa escolaridade, não adianta estimular a leitura. O importante é manter as atividades do dia a dia”, ressalta a médica. Em alguns casos, há pessoas bem informadas sobre os sintomas que buscam por si só o tratamento. A doença é a causa mais comum de demência.

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