Educação Única mulher de uma turma de 24 alunos, pernambucana está formada Para Iracema Maria Oliveira, todo mundo é capaz de fazer qualquer curso. Mas as pessoas ainda precisam mudar os conceitos, pensa.

Por: Marcionila Teixeira

Publicado em: 09/07/2016 18:27 Atualizado em: 09/07/2016 18:33

Iracema recebeu o certificado de conclusão de curso nessa sexta-feira. Foto: Julio Jacobina/DP.
Iracema recebeu o certificado de conclusão de curso nessa sexta-feira. Foto: Julio Jacobina/DP.
Iracema Maria de Oliveira, 40 anos, era a única mulher de sua turma formada por 24 pessoas. De março a junho deste ano, participou do curso de técnica em refrigeração no Centro Social Urbano (CSU) da Imbiribeira, profissão dominada por homens. Ontem, deixou cedo o bairro da Charneca, no Cabo de Santo Agostinho, onde mora, para ir ao Recife e pegar o certificado de conclusão do curso. Voltou para casa com um sentimento de satisfação.

Para Iracema, todo mundo é capaz de fazer qualquer curso. Mas as pessoas ainda precisam mudar os conceitos, pensa. Seja na hora de escolher uma profissão, seja no momento da contratação. “O preconceito maior vem da mulher mesmo. Muitas amigas diziam para mim: refrigeração é coisa de homem. Teve um momento que até pensei em desistir”, lembra.

Iracema pensa diferente. Tanto é que de última hora trocou o curso de confeitaria, área onde ganhou experiência quando trabalhou em um hotel no Cabo, pelo de refrigeração. Agora está em busca de um estágio e de maior capacitação na área, que tem tudo a ver com sua vida prática. É ela quem cuida dos consertos da casa onde vive com o marido e dois filhos, principalmente da parte elétrica. “Sou eu quem troca a lâmpada, faz instalações, pinta as paredes”.
Iracema fez fotos da formatura e das aulas ao lado dos colegas para guardar de lembrança. “Não me incomodava em ser a única mulher da turma. Em alguns momentos eles brincavam, diziam que não era para eu pegar peso com tanto homem na sala. Mas eu respondia que na hora do emprego não ia poder contar com eles, então eu mesma tinha que fazer”, diz.

O marido até perguntou para Iracema se havia mais mulheres no tal curso de refrigeração. “Falava para ele que tinha umas cinco mulheres, mas só tinha eu”, conta, sorrindo. O curso foi ofertado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude.

Iracema ainda não entrou no mercado de trabalho. Teme ser preterida por conta dos concorrentes homens. “Se tiver um homem e uma mulher, claro que vão escolher o homem”, imagina. Mas a agora técnica em refrigeração logo emenda. “No curso, tem homem que faz de todo jeito o serviço e não está nem aí para finalizar. Eu não, fazia diferente”.

Um iniciante na profissão, diz ela, ganha, por mês, até R$ 2 mil. “Os ganhos vão de acordo com o tempo de experiência. Com o dinheiro, pagaria as dívidas e compraria equipamentos para trabalhar”, planeja. Iracema quer melhorar o padrão de vida da família consertando freezers, geladeiras e ar-condicionados dos clientes. Mas para isso, precisa começar. Onde quer que seja, conta a única mulher da turma de técnica em refrigeração do CSU da Imbiribeira.

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