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Saúde Hospital da Mulher com atendimento humanizado para lésbicas, bissexuais e trans Foco do ambulatório é dar apoio às pacientes de forma que elas não enfrentem preconceitos

Por: Carolina Sá Leitão - Diario de Pernambuco

Publicado em: 06/07/2016 20:14 Atualizado em: 06/07/2016 20:37

Mutirão aconteceu nesta quarta. Foto: Karina Morais/Esp.DP
Mutirão aconteceu nesta quarta. Foto: Karina Morais/Esp.DP
A manicure Rose Aleixo, 36 anos, sentia dificuldades de ir às consultas médicas como muitos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Mas as suas dificuldades aumentavam ainda mais quando entrava no consultório. Por ser lésbica, Rose tinha vergonha de falar sobre seus problemas de saúde aos médicos. Nesta quarta, ela foi uma das pacientes atendidas no mutirão LBT que aconteceu no Hospital da Mulher do Recife, no Curado. Rose saiu satisfeita e feliz com o atendimento. "Aqui foi mais fácil. Sempre a ginecologista perguntava e tinha medo do preconceito", desabafou.

Além do atendimento ginecológico, os pacientes também passaram por piscólogos, dermatologistas e assistentes sociais. "Tudo é muito difícil no SUS. Aqui foi ótimo, cheguei e já consegui atendimento. Esse apoio me ajudou a me assumir e me deixou à vontade", comentou Rose.

O espaço é voltado para o atendimento humanizado das mulheres integrantes da comunidade LBT – lésbicas, bissexuais e mulheres transexuais-transgenitalizadas. O foco do ambulatório é dar apoio às pacientes de forma que elas não enfrentem os preconceitos tão comuns nas consultas médicas e na sociedade.

A DJ Rachel Costa, 40, integrante do Coletivo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de Pernambuco (Comles), contou que, apesar de não ter vergonha de se assumir publicamente como lésbica, entende que outras mulheres têm o receio de se afirmar como lésbica ou bissexual, já que ainda existe muito preconceito dentro dos consultórios. “Mesmo eu sendo assumida, uma ginecologista já me sugeriu ter relações sexuais com um homem. Por mais que eu esteja preparada, isso machuca. Por isso entendo as outras meninas”, afirma.

O ginecologista Cleytoon Davyd, que atende no ambulatório LBT desde a inauguração do Hospital da Mulher, contou que ainda existe uma dificuldade dessas pacientes em terem acesso à consulta médica que atenda suas especificidades, mas que essa dificuldade não é sinônimo de falta de conhecimento. “Só dez por cento das pacientes que eu atendi nos últimos 45 dias tinham feito um preventivo, o que é um absurdo. Mas quando começo a consulta e explico o que vai ser feito, elas demonstram um excelente nível de entendimento”, apontou.

De acordo com o ginecologista, diferente do que está instalado no imaginário popular sobre a população LGBT, as pacientes que aparecem para consultas normalmente são monogâmicas, com parceiras de longa data e nenhuma apresentou antecedentes de abuso de substâncias. “Muitas vezes, se confunde sexualidade com sexo. Não tem ligação entre uma coisa e outra. As pacientes também não demonstraram consumir nada”, disse.

O secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, afirmou que, esse atendimento às mulheres LBT é de fundamental importância, principalmente por ser um grupo marginalizado. “O próprio sistema de saúde prevê a universalidade do acesso. Ao mesmo tempo, a gente busca equidade. Hoje, esse momento do ambulatório LBT no Hospital é mais um passo na política municipal que busca atender e acolher as necessidades dessa população”, afirmou.

As pacientes atendidas pelo mutirão na manhã de ontem receberam duas cartilhas. Uma delas, o Guia de Cidadania LGBT falava sobre os direitos e formas de tratamento à comunidade LGBT. O outro, falava sobre o Centri Municipal de Referência em Cidadania LGBT.

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