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Pesquisa Grávidas se vestem contra o zika e ficam sem vitamina D Falta da vitamina está relacionada à pouca exposição ao sol. Orientação é tomar um banho de sol de pelo menos 10 minutos/dia

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 04/04/2016 09:24 Atualizado em: 04/04/2016 09:46

Mesmo antes da gestação, a advogada Alice Gonçalves, 32 anos, já tomava suplementação de vitamina D. Foto: Ricardo Fernandes/DP (Mesmo antes da gestação, a advogada Alice Gonçalves, 32 anos, já tomava suplementação de vitamina D. Foto: Ricardo Fernandes/DP)
Mesmo antes da gestação, a advogada Alice Gonçalves, 32 anos, já tomava suplementação de vitamina D. Foto: Ricardo Fernandes/DP

O medo do zika e da microcefalia multiplicou ainda mais as restrições das grávidas. Mulheres acostumadas a mudar a rotina para esperar os filhos agora também estão aprendendo a usar o repelente com frequência e vestir, segundo recomendações do próprio Ministério da Saúde, roupas de mangas compridas. Esse último cuidado, entretanto, pode gerar outros problemas de saúde: agravar o déficit de vitamina D, problema comum em nove entre cada 10 pessoas que moram em centros urbanos do país. Alguns especialistas brasileiros defendem que a atenção seja reforçada nesse momento.

O médico neurologista e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cícero Coimbra é um dos defensores de redrobrar os cuidados com o déficit de vitamina D em grávidas. Utilizando-se de pesquisas recentes brasileiras e mundiais, o médico saiu em defesa do uso da substância por dois principais motivos: o primeiro deles é o de não agravar o déficit que já existe na população e o outro iria além, o de reforçar o sistema imunológico e assim conseguir evitar casos de microcefalia.

Segundo ele, o sistema imunológico do ser humano é dependente da vitamina D e, quando os níveis dela estão baixos, maior a susceptibilidade de adquirir infecções. "A imunidade inata, que depende dos níveis de vitamina D, estimula a placenta a produzir peptídeos antimicrobianos. Dessa forma, a plancenta funciona como uma barreira para os vírus, inclusive o zika", afirmou o pesquisador.

Um dos estudos apontados por Coimbra, e realizado em Minas Gerais, mostrou que 85% das mães e bebês recém-nascidos tinham déficit de vitamina D. Diante dessa falta já conhecida, o pesquisador diz que é preciso avaliar o uso de suplementação nas mulheres, para reforçar a defesa contra a ação do vírus e evitar os casos de malformação. "A dose aconselhada hoje são 600 unidades dia, mas estudos já mostraram que ela está mal calculada", afirma Coimbra.

A principal forma de estimular a produção de vitamina D é com a exposição ao sol. Como a recomendação do Ministério da Saúde para as grávidas inclui o uso de roupas de mangas compridas e muitas delas também têm evitado sair de casa com medo, alguns médicos temem que a falta do hormônio fique acentuada. No Nordeste, apesar do clima, 50% a 70% da população têm essa deficiência.

A advogada Alice Gonçalves, 32 anos, está grávida de nove meses. Por causa do zika, tem sempre à mão repelente e, quando o calor deixa, permanece de blusa de manga comprida. Mesmo antes da gestação, ela já tomava suplementação de vitamina D. "Trabalho em casa, então poucas vezes saio às ruas. Há dois anos, foi identificada a falta da vitamina e, desde então passei a tomar remédio. Agora, grávida, eu só mudei o tipo de suplementação. E, dependendo de onde for, coloco calça e blusa longa", afirmou.

Apesar do alerta, nos consultórios do Recife essa possível correlação entre vitamina D e casos de microcefalia ainda não é largamente discutida. "Vivemos em um país tropical, com grande incidência de radiação solar. Então, a dosagem de vitamina D nas gestantes não é obrigatória. Se a pessoa está se expondo pouco ao sol, o recomendado é conversar com o próprio médico, para que ele faça avaliação", recomendou o obstetra do Hospital Santa Joana Edilberto Rocha.

O indicado é uma exposição ao sol de 10 a vinte minutos por dia, com os braços e pernas expostos. Apesar dos estudos, ainda não há um consenso médico sobre o uso de doses altas, como propõe Coimbra, de vitamina D. A Academia Brasileira de Neurologia diz que não há evidências científicas sobre a relação da vitamina D com o desenvolvimento cerebral de bebês.

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