Bicha sim, e daí? Documentário propõe o orgulho homossexual com exemplos de superação Entrevistados falam sobre as dificuldades de assumirem a sexualidade e mostram que com a autoestima em dia e o auto-respeito fica mais fácil superar preconceitos

Publicado em: 22/02/2016 19:01 Atualizado em: 22/02/2016 19:42

Filme de Marlon Parente fala sobre o percurso de ressignificação da ofensa, transformada em identidade e orgulho pelos gays entrevistados. Foto: Reprodução/ Cartaz
Filme de Marlon Parente fala sobre o percurso de ressignificação da ofensa, transformada em identidade e orgulho pelos gays entrevistados. Foto: Reprodução/ Cartaz
 

Pintosas, enxeridas, coloridas, transgressoras, livres. Muito mais do que relatos particulares de histórias de dor e crescimento, o documentário pernambucano Bichas, lançado no último sábado, fala sobre resistência e reexistência. Às lentes do diretor Marlon Parente, as bichas relatam força com leveza, enquanto lembram o caminho trilhado até resinificarem a ofensa, transformada agora em identidade e orgulho.

No filme de 39 minutos, Bruno, Igor, Italo, João Pedro, Orlando e Peu falam sobre a descoberta da homossexualidade, sobre contar para a família e sobre transformar vergonha em empoderamento, hostilidade em impulso e sobre mergulhar para dentro de si mesmo.

Em seu depoimento Bruno Delgado conta que a palavra bicha sempre foi um peso e era preciso dar um novo sentido aquilo, movimento que ele enxerga crescente entre os gays. “É uma forma da gente se fortalecer e dizer 'a gente é bicha mesmo, e daí?'. E, de repente, quando você fala isso para as pessoas, elas se chocam 'meu Deus, ele é bicha'. Você me chamou disso a vida inteira, fiz terapia porque era bicha, por que o choque agora? Por que assumi isso? Por que sou de verdade?”, afirma.

Para Peu Carneiro, que voltou para casa inúmeras vezes chorando na época do colégio, se aceitar como bicha foi uma forma de defesa, assimilada diante de mais uma agressão na fila da cantina. “Naquele momento eu descobri como é que eu fazia para me defender. Você está dizendo que eu sou? Eu sou. E ai? E agora? Vai falar o que?”

O documentário ainda problematiza a normatividade a qual os LGBTs estão sujeitos, definindo o que é aceitável dentro do seu comportamento: pode ser gay, desde que não seja afeminado, não troque carinhos publicamente e outras 'normas'.  “A bicha que deve ser mais valorizada é a bicha afeminada, que dá a cara a tapa todo momento, desde criancinha sofre preconceito, cresce com isso, amadurece muito mais rápido. A cara do movimento gay é a bicha afeminada”, aponta Italo Amorim em seu relato.

“Para as pessoas, a bicha é aquela coisa caricata, que a gente tem que rir delas e esculhambar mesmo e achar que ela não é uma pessoa. Você não ri com ela, você ri dela. Ela não deve ser respeitada, não deve ser amada. Mas no âmbito do mundo LGBT a bicha é uma pessoa maravilhosa. Ela deve não só resistir, mas reexistir. Não só receber os ataques, mas se reinventar e se impor na sociedade. A gente, quando levar a pancada, tem que revidar de uma forma inteligente, coerente, que é a gente se impondo mesmo. Mas tem bichas com um contexto familiar e social que complica. Tem as gatas da igreja, da favela, e é bem complicado para certos tipos de bicha estar se impondo o tempo todo. Então cabe a nós, que temos esse privilégio de estarmos na rua, em festas e gravando documentários, falarmos com essas bichas, com a sociedade, para que parem com essa noção de que ser bicha é errado, porque ser bicha é maravilhoso”, diz João Pedro Simões.

“É importante mostrar que é bicha, é importante falar que é bicha, é importante escrever isso no seu Facebook, é importante pichar o muro dizendo que é viado mesmo, bicha, porque é isso que você é e quanto mais natural, mais pessoas forem bichas e disserem, menos estigma vai ter”, argumenta Bruno.

 



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