Microcefalia Pais de bebês pedem mais sensibilidade na hora do diagnóstico Famílias de crianças com microcefalia lamentam forma com que a notícia é dada. No Oswaldo Cruz, profissionais priorizam o respeito e recomendam acolhimento

Por: Larissa Rodrigues - Diario de Pernambuco

Publicado em: 20/11/2015 07:38 Atualizado em: 20/11/2015 17:38

Nadja e João com Alice, de um mês e sete dias. Foto: nando Chiapetta/DP/D.A.Press
Nadja e João com Alice, de um mês e sete dias. Foto: nando Chiapetta/DP/D.A.Press
“Ele olhou para mim e disse: ‘é difícil falar, mas vou ter que falar. Não cresceu nada aí. Nem cérebro nem cabeça. Seu bebê tem a cabeça de um feto de quatro meses. Se nascer, vai viver em estado vegetativo’”. Foi assim que a atendente de telemarketing Nadja Cristina Gomes Bezerra, 42 anos, recebeu, aos sete meses de gestação, o diagnóstico de microcefalia intrauterina - malformação que altera o desenvolvimento do bebê - em uma unidade de saúde do Recife.

As palavras secas do médico durante um exame de ultrassonografia ecoam em seus ouvidos até hoje. “Ficou gravado em mim. Eu gritava e chorava. Não sei como minha filha nasceu, de tanto que chorei”, relatou. Contrariando a informação fria do profissional, a pequena Alice está viva, com um mês e sete dias. Nesta quinta-feira (19), acompanhada do pai, da mãe e da avó, ela foi avaliada no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc). “O importante agora é dar amor. Essa criança vai viver mais do que a gente”, enfatizou para a família a médica que recebeu Alice no Huoc, a infectologista Regina Coeli.

Nadja Cristina não é a única a relatar falta de sensibilidade. Em meio ao aumento do número de casos de bebês com microcefalia em Pernambuco (268 notificados em 2015, contra 12 em 2014), há relatos semelhantes. A necessidade de compreensão e delicadeza de quem trabalha na área e de quem conhece alguém com uma criança nessas condições começa a se desenhar no estado, alertando para um fato: essas famílias terão de ser acolhidas por todos.

Uma das preocupações do pai de Alice, João Batista Bezerra, 54, é a possível incompreensão da empresa onde ela trabalha. “Sei que vou precisar faltar algumas vezes para ajudar a cuidar dela. Minha esposa tem depressão. É hipertensa e ajudada por minha sogra, mas ela não poderá acompanhar toda vez que precisar ir ao médico.”

A bancária Isabel Cristina Gomes de Albuquerque, 37, passou por algo parecido com Nadja no momento do parto. “Assim que meu bebê nasceu, a médica o colocou em cima de mim e já foi dizendo: ‘preciso levá-lo porque ele nasceu com a cabeça pequena’. Foi um choque. O parto é um momento que a gente idealiza.”

Especialista no assunto, Regina Coeli diz que é preciso ter meios de falar com essas famílias, porque geralmente elas ficam assustadas, com medo e cheias de dúvidas. “O momento exige cuidado de todos. A forma mais adequada de tratar é a mais branda possível”, recomendou.



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