Pesadelo Complexidades em torno do Conjunto Muribeca O habitacional ocupa uma área equivalente a três campos de futebol

Por: Rosália Vasconcelos

Publicado em: 22/11/2015 08:16 Atualizado em: 22/11/2015 16:40


 (Rafael Martins)

Entender o processo “puxadinhos”/casas do entorno/resistência é importante, porque muitos dos entraves judiciários que impedem a demolição e reconstrução do Conjunto Muribeca gira em torno desse trinômio. A empresa escolhida para fazer a demolição definiu que tudo que tivesse num raio de 12 metros dos prédios a serem demolidos precisariam ser derrubados também, por questão de segurança. Mas, para os moradores, esse raio de procedimento vai demolir toda a comunidade e sua história. O medo de muitos também é de, com a derrubada de tudo o que hoje já existe, o terreno fique livre para uma futura especulação imobiliária, em uma área que hoje é estratégica para empresas de logística.


O Conjunto Muribeca fica às margens da PE-17, a 3km da BR-101 e a 30 minutos do Porto de Suape.“Queremos nossos apartamentos mas destruir as casas, os comércios, escolas e igrejas, muitos feitos por nós, tijolo a tijolo. O que pretendem com Muribeca? Isso aqui é uma cidade agora. Não pode simplesmente destruir tudo”, defende o cabeleireiro Ivan da Silva Costa, 64 anos. 

Segundo o engenheiro civil do Instituto Tecnológico de Pernambuco (Itep), Carlos Wellington, responsável pelo laudo de interdição dos 69 prédios, não é possível resumir nos puxadinhos o problema do Conjunto Muribeca. Todos apresentam algum tipo de risco, por diferentes motivos estruturais. “Digamos que os puxadinhos e alterações internas aceleraram um problema que já viria a acontecer. Porque os edifícios do Muribeca foram construídos a partir de um sistema chamado de Alvenaria Resistente, que não oferece garantia e segurança estrutural”, disse Wellington.

Alguns prédios desses 69 apresentaram baixa possibilidade de serem recuperados. A maioria pode ser recuperado com reforço na fundação e reconstrução das paredes da superestrutura. Mas, segundo o engenheiro, recuperar é mais caro que reconstruir. “Mesmo que não tivessem os puxadinhos e alterações internas nos apartamentos, haveria risco iminente de apresentar problemas e até desabar pelo sistema construtivo utilizado. Um prédio, quando bem construído, é feito para aguentar pelo menos 50 anos. Depois disso, é necessária manutenção”, explica o engenheiro do Itep.

 (Rafael Martins)

Saiba mais

O que foi e o que é a Muribeca:

1982 foi o ano de inauguração do Conjunto Muribeca

69 prédios e quatro blocos compõem o residencial

2.208 famílias viviam nos edifícios

Está localizado às margens da PE-17 e distante 3,5km da BR-101

Ocupa uma área equivalente a três campos de  futebol

1986 foi extinto o Banco Nacional de Habitação (BNH)

129, 155 e 199 é o número dos prédios que foram demolidos até agora

59 é o número do edifício que foi demolido pela metade

30 construções "extras" foram mapeadas no condomínio

160 vigilantes da TKS fazem a segurança dos prédios abandonados para evitar invasões e roubos

R$ 2 milhões é o valor mensal de aluguel pagos pela Caixa

O terreno do Conjunto Muribeca é de propriedade dos donos dos apartamentos

O Itep foi o responsável pelo estudo de viabilidade técnica e econômica para reconstrução e/ou recuperação dos prédios

O sistema construtivo de Alvenaria Resistente, usado no Conjunto Muribeca, foi proibido a partir de 2005

Três grupos de resistência atuam na comunidade: Somos Todos Muribecas; Daqui Não Saio, Daqui Ninguém me Tira; e Associação dos Moradores do Conjunto Muribeca.

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Entenda os problemas do residencial

Sistema construtivo sem segurança e garantia, denominado Alvenaria Resistente

Economicidade burra de recursos e materiais de baixa qualidade

Puxadinhos e alterações internas, com derrubada das paredes da superestrutura
Fundações em área de várzea/baixio, com muitos alagamentos, ajudando a degradar a estrutura

Vegetação próxima à fundação dos prédios

Fonte: Itep.



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