Superação Show de dança sobre cadeira de rodas Nina Souza nasceu com uma condição que nunca lhe permitiu andar. Encontrou a felicidade na dança, com performances premiadas sobre a cadeira de rodas

Por: Wagner Oliveira - Diario de Pernambuco

Publicado em: 18/04/2015 15:00 Atualizado em: 19/04/2015 10:29

Nina e Rogério se conheceram no grupo de danças Cia Cadências. Fotos: Paulo Paiva/DP/D.A Press
Nina e Rogério se conheceram no grupo de danças Cia Cadências. Fotos: Paulo Paiva/DP/D.A Press
Até os 31 anos, a intérprete de libras Joseilda Souza dos Santos, hoje com 33, nunca havia andado de cadeira de rodas. Portadora da osteogênese imperfeita, também conhecida como a doença dos ossos de vidro, foi carregada nos braços ou levado num carrinho de bebê até os cinco anos. “Um dia fomos a uma loja e me colocaram num triciclo. Andei nele como se já fizesse isso há muito tempo. Até hoje só ando de triciclo”, conta. No entanto, foi numa cadeira de rodas que Nina, como é conhecida, aprendeu a fazer uma das coisas que mais gosta atualmente: dançar.

Com o sorriso ainda tímido, confessa que a atividade melhorou sua comunicação com as outras pessoas. “Depois que comecei, superei meus limites e deixei de ser tão envergonhada”, completa. Além desses benefícios, a dança trouxe outros dois presentes. Durante uma apresentação recebeu uma proposta de trabalho e no grupo onde ensaia, a Cia Cadências, conheceu o amor da sua vida. Rogério Silva, 28, professor de dança popular brasileira. Além de namorado é agora o parceiro de Nina nas apresentações. “Já veio o pacote completo”, brinca a dançarina.

A primeira apresentação em público de Nina aconteceu no carnaval de 2013. Essa foi a única vez em que ela dançou com o triciclo. “A Cadências estava realizando o projeto Frevo sobre rodas e me apresentei na Pracinha de Boa Viagem. Depois disso passei a ensaiar numa cadeira específica para dançar. Ela é mais leve e tem rodinhas de gel. Em abril de 2014, me apresentei no Dançando na rua, na Praça do Arsenal, já usando a cadeira de rodas”, lembra.

Casal participa de apresentações no Recife e ganhou campeonato nacional do final do ano passado
Casal participa de apresentações no Recife e ganhou campeonato nacional do final do ano passado
A doença de Nina não a empede de fazer alguns movimentos exigidos pela dança. “Faz 16 anos que não fraturo nenhuma parte do meu corpo. Os médicos acreditam que o uso do triciclo me deixou resistente. Também não sinto nada quando estou dançando”, comenta.Com os ensaios semanais no bairro de Jardim São Paulo, onde também participam outros cadeirantes, Nina foi tomando gosto pela atividade. “A dança mudou minha vida”, revela.

Com o incentivo da diretora e coreógrafa da Cia Cadências, Liliana Martins, ela e Rogério se inscreveram no XIII Campeonato Brasileiro de Dança Esportiva em Cadeiras de Rodas, realizado em Minas Gerais em dezembro do ano passado. Voltaram para casa com o primeiro lugar na categoria para estreantes. “É muito gratificante ver o desempenho e a felicidade de Nina quando ela está dançando”, aponta Rogério.

A dupla se prepara agora para mais uma apresentação, na próxima edição do Dançando na rua, no dia 26, no Recife Antigo. “Além de ensaiar para essa apresentação já estamos pensando no próximo campeonato de dança. Esperamos que seja realizado em Pernambuco. Enviamos solicitação para os organizadores para que as competições aconteçam aqui. Se não houve outro estado inscrito, a disputa será no estado”, cogita Nina.

Os desafios do cotidiano

Ainda bem cedo, todos os dias, Nina Souza deixa sua casa em direção à estação do Metrô. Em cima do seu triciclo e acompanhada da mãe ou do namorado é deixada na plataforma para esperar o trem. Começa aí a aventura para chegar ao trabalho. “Tenho que pegar o metrô indo para Jaboatão e esperar ele fazer o retorno para o Recife. Se não fizer isso, não consigo entrar no trem quando ele chega na minha estação. É uma agonia danada. Muita gente não respeita o espaço dos deficientes. Algumas pessoas chegam a dizer que eu deveria ficar em casa e não estar ali ‘atrapalhando’ os outros”, desabafa.

O triciclo é o companheiro de Nina em casa e também para deslocamento na rua. Foto: Isabelle Marinho/ Esp. DP/D.A Press
O triciclo é o companheiro de Nina em casa e também para deslocamento na rua. Foto: Isabelle Marinho/ Esp. DP/D.A Press
Nina trabalha no cerimonial da Prefeitura do Recife. Para chegar até a sede do poder municipal ainda precisa pegar um ônibus quando desce na estação Central do Metrô. “Os motoristas já me conhecem e muitos deles me ajudam muito. Quem reclama são só os passageiros mesmo. Mas eu não desanimo de jeito nenhum. Fui convidada pelo prefeito Geraldo Julio para trabalhar na equipe dele e não vou deixar de viver a minha vida porque algumas pessoas não têm respeito pelo próximo”, ensina.

Assim como faz na dança, Nina tira de letras os obstáculos que teimam em aparecer na sua frente. “Depois que assisti a uma apresentação de uma dançarina tetraplégica que praticamente não tinha movimento nenhum, pude ver que eu também teria como dançar com as minhas limitações. Nada vai me fazer desistir agora. Vou continuar trabalhando e dançando. Não é porque temos alguma deficiência que devemos ficar em casa esperando o destino”, ressalta.

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