Legislação Pernambuco reconhece direito dos autistas Projeto de lei prevê direitos do autista, como acesso a tratamento individualizado, à educação, ao ensino profissionalizante e à inclusão no mercado de trabalho

Por: Adaíra Sene

Publicado em: 28/04/2015 14:27 Atualizado em:

Papel da família é fundamental para desenvolvimento das crianças. Arte: Valdo Virgo/CB/D.A
Papel da família é fundamental para desenvolvimento das crianças. Arte: Valdo Virgo/CB/D.A
Pernambuco já tem legislação específica para crianças e adultos com autismo. O projeto de lei 47/2015 de autoria da mesa diretora da Assembleia Legislativa foi promulgado, nessa segunda (28), pelo presidente da Casa, Guilherme Uchoa (PDT), com a presença do governador Paulo Câmara (PSB) e de diversos representantes ligados à causa. O texto reconhece como direitos do autista, entre outros itens, o acesso a tratamento individualizado, à educação, ao ensino profissionalizante e à inclusão no mercado de trabalho.

Pedro e Luis têm dez anos. Eles são gêmeos, cursam o quinto ano e aproveitam o tempo livre com aulas de teatro, robótica e entre bolas e jogos de computador. Os meninos levam uma vida comum, exceto pelo diagnóstico recebido ainda aos três anos de idade. "Eles não falavam, sequer balbuciavam. Foi o primeiro sinal. Após alguns exames, constataram que eles são autistas", contou a mãe. Os irmãos fazem parte de um surpreendente grupo que vive à espreita e inclui nomes como Lionel Messi, Bill Gates e, especula-se, os gênios Albert Einstein e Isaac Newton. As causas do Transtorno do Espectro Autista, que atinge na maioria dos casos os meninos, no entanto, ainda são um mistério.

"O autismo tem uma herança multifatorial. Ele é poligenético e também sofre interferência das questões ambientais. As pessoas nascem com ele, mas o que faz eclodir ou não é o ambiente, como a herança do câncer, por exemplo", explicou a geneticista Paula Arruda. Até os primeiros três anos, os sinais servem de alerta aos pais. E quanto mais rápido se inicar o tratamento, mais eficaz será o desenvolvimento das crianças.

"Os principas sintomas são o desinteresse pelas pessoas, problemas na linguagem, algumas fixações, movimento esteriotipado e repetitivo, balançando as mãos ou com objetos. Mas, principalmente, a dificuldade em dialogar. Eles apresentam ecolalia (repetem aquilo que você diz), toleram pouco qualquer tipo de mudança e não conseguem criar ou brincar de faz de conta", detalhou a psicanalista Maria do Carmo Camarotti, especializada em interação pais e crianças, professora de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba e fundadora e coordenadora do Ciclos da Vida.

E o papel dos pais na descoberta e tratamento é essencial, assim como o preparo das equipes médicas na hora do diagnóstico. "Nós sabemos que é difícil para os pais, mas eles devem tentar decodificar os sinais que as crianças estão dando exatamente por não conseguir falar e por isso o acompanhamento profissional é imprenscindível", salientou Maria do Carmo Camarotti. O trabalho deve ser feito na tríade escola/pais/especialistas. Uma criança com o transtorno geralmente necessita de um atendimento interdisciplinar com psicólogo/psicanalisa, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo e, dependendo da evolução do quadro, pedagogo e até fisioterapia.

Não existe remédio contra o autismo e o tratamento é a longo prazo. A medicação é aplicada para atacar os sintomas e auxiliar nas terapias. "É muito comum que os pacientes também tenham hiperatividade, por exemplo. E muitas crianças autistas têm déficit cognitivo e não conseguem assimilar tanto as coisas do ambiente, mas não são todos. Muitos apresentam competências para atividades.  É importante que os pais identifiquem essas áreas para estimular. O trabalho não deve ser feito só no que eles não conseguem, mas também no que conseguem", complementou a especialista.

Para as mães, a vida é de desafios, mas nem por isso menos gratificante. "Confesso que eu não sabia o que era a doença até receber o diagnóstico. Vejo muitos pais rejeitarem os filhos ao descobrir, mas abraçei ainda mais forte os meus. A gente que convive com eles percebe o diferencial, mas eles agem normalmente em todas as circunstâncias. Têm coleguinhas, estudam, só que vivem o mundo deles. Por três anos, fazíamos terapia todos os dias pela manhã e de tarde. Hoje, meus filhos sabem que não são iguais aos colegas. Eles já me disseram isso, embora não entendam direito o porquê. Eles sabem que não conseguem brincar com os outros, por exemplo. Na verdade, eles brincam, mas dentro do contexto deles. Todo início de ano, quando mudam os professores, é um problema. Eles têm muita dificuldade de adaptação, mas não podemos desanimar. Eles são unidos e se protegem, se amam. Minha única preocupação é preparar eles ao máximo para ter uma vida normal, para que não sofram quando eu não estiver mais aqui. E estou fazendo o possível para isso", contou a mãe de Pedro e Luis.

*A identidade da família foi preservada por orientação médica

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL