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Sustentabilidade Pequenos gestos de economia fazem a diferença no abastecimento d' água O ato de escovar os dentes com a torneira aberta representa o desperdício de 2,5 litros a 16 litros por minuto. Se 200 milhões de brasileiros fechassem a torneira por apenas 60 segundos, economizaríamos entre 500 milhões e 3,2 bilhões de litros de água

Por: Tiago Cisneiros

Publicado em: 31/03/2015 15:07 Atualizado em: 31/03/2015 15:31

Pernambuco é segundo estado que menos consome água no país (atrás de Alagoas), mas especialista acredita que isso se deve mais às dificuldades de acesso do que ao consumo racional. Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil
Pernambuco é segundo estado que menos consome água no país (atrás de Alagoas), mas especialista acredita que isso se deve mais às dificuldades de acesso do que ao consumo racional. Foto: Fernando Frazão/ Agência Brasil

Ei, você aí, fecha a torneira aí, fecha a torneira ai. É, nós sabemos que o carnaval já passou. O que muita gente ainda não percebeu é que a época de farra com a água também precisa ficar para trás. Afinal, pequenas mudanças na sua relação com esse bem podem dar uma grande contribuição para resolver a crise hídrica que o Brasil enfrenta nos últimos meses, somando-se a seca histórica do semiárido a uma escassez incomum em outras regiões do país. Duvida? Então, vejamos:
Você sabia que, enquanto escova os dentes com a torneira um pouco aberta, está desperdiçando de 2,5 litros a 16 litros por minuto (dependendo se você mora em casa ou em apartamento)? Imagine se 200 milhões de brasileiros evitassem esse gasto desnecessário, fechando a torneira por apenas 60 segundos. Isso representaria uma economia entre 500 milhões e 3,2 bilhões de litros de água.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o consumo ideal per capita é de 110 litros por dia. Logo, na pior das hipóteses, aquele minutinho a menos de água jorrando da torneira dos brasileiros deveria ser suficiente para a sobrevivência de uma pessoa por quase 12,5 mil anos. Na melhor, esse número chegaria perto de 80 mil anos. Ou, sob uma perspectiva mais factível, seria o bastante para abastecer de 177 a 1.138 indivíduos durante 70 anos. E agora, entendeu o impacto?
Pois bem, só para começo de história, é preciso um esforço para alcançar a tal recomendação da OMS. No Brasil, o consumo médio por pessoa é de 166,3 litros por dia, de acordo com o Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto 2013, o mais recente disponibilizado pelo Ministério das Cidades. Até no Nordeste, região de menor utilização do recurso, a média é superior ao ideal: 125,8 litros.
Em Pernambuco, segundo estado que menos consome (à frente apenas de Alagoas), cada pessoa usa, em média, 105,3 litros de água por dia. Isso, no entanto, não representa necessariamente uma boa notícia. Para a coordenadora da pós-graduação em engenharia civil e ambiental do Campus Agreste da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Sávia Gavazza, o dado indica problemas de acesso à água, e não o consumo racional. "Não tenho dúvidas de que é reflexo da falta de disponibilidade hídrica no estado, que tem o agreste e o sertão inseridos no clima semiárido. Com os investimentos que têm sido feitos pelo governo do estado, no aumento da oferta, a tendência é que o consumo cresça", analisa.
Déficit mundial
“Para quem acha que o fantasma da falta d'água (e da consequente elevação do custo) é exclusividade do Brasil, uma má notícia: o problema é global. O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2015, apresentado pela Unesco, projeta que, em 2030, o déficit no abastecimento será de 40%, caso sejam mantidos os padrões de consumo atuais.
A previsão negativa decorre de uma série de fatores, mas, em resumo, basta pensar que, nas últimas décadas, o consumo de água cresceu duas vezes mais do que a população mundial e que a procura deverá ter um aumento de 55% até 2050. Essa variação, segundo a Unesco, decorrerá principalmente da “crescente demanda do setor industrial, dos sistemas de geração de energia termoelétrica e dos usuários domésticos”.
Diante deste cenário, a Unesco destaca a urgência de ampliar a eficiência no uso da água na agricultura, na indústria manufatureira e na produção de energia. Salienta, ainda, a necessidade de investimentos nos sistemas de abastecimento, para reduzir desperdícios e, ao mesmo tempo, atingir as populações mais pobres. Serão quase 900 milhões de pessoas vivendo em aglomerados habitacionais irregulares até 2020. Muita gente? Sim. Mas, por incrível que pareça, não é tão difícil universalizar a cobertura de água. Segundo o relatório, bastaria um investimento de 53 bilhões de dólares por ano, durante cinco anos, o equivalente a 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial de 2010. O que falta, de acordo com a Unesco, é capacidade ou vontade dos governos.

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