Folia O Galo mora lá em Pirajuí A montagem do galo ainda é semana que vem, mas, em Igarassu, o anfitrião do Carnaval já faz a alegria dos moradores

Publicado em: 03/02/2015 15:41 Atualizado em: 03/02/2015 17:04

Ane é dona de bar, mas fecha o bar todos os anos para cuidar do Galo da Madrugada (Paulo Paiva)
Ane é dona de bar, mas fecha o bar todos os anos para cuidar do Galo da Madrugada

Pela estrada de barro da comunidade de Pirajuí, em Igarassu, José Cilas, 14 anos, guia a equipe de reportagem até o local onde repousa o anfitrião do Carnaval do Recife, o Galo da Madrugada. Pés de caju, jambo e manga fazem companhia ao gigante da Ponte Duarte Coelho, Centro do Recife. Cilas, que conhece de perto a preparação do monumento de 27 metros, é um dos que doam o tempo e as mãos para a ornar o maestro do frevo.

Desde 2010, quando o artista plástico Sávio Araújo começou a cuidar da concepção do Galo, Pirajuí ganhou outros tons. A partir de janeiro, a rotina pacata da comunidade formada por pescadores e marisqueiros encontra um novo sentido.

Para Glauciane Maria da Silva, 43, é hora de fechar as portas do seu bar e se dedicar à confecção dos adereços da crista e cabeça do Galo. Ane, como é conhecida, faz parte do grupo de 30 pessoas que integram o projeto Coração Caju, idealizado por Sávio com o objetivo de mostrar os benefícios sociais que um evento de grande porte, como o Carnaval, pode gerar.

O trabalho de preparação do monumento gera renda para a comunidade. Durante um mês de produção do Galo, os colaboradores ganham em média dois salários minímos. Mas o sentimento dos moradores parece extrapolar os lucros financeiros. Adultos e jovens aprendizes (que estagiam quatro horas e precisam estar estudando) se dedicam à produção de adereços, pintura da estrutura de ferro e confecção de vassourinhas. O mestre, nomeado caju, é o responsável por passar o ensinamento aos maturis (castanha), como são chamados os iniciantes.

A marisqueira Áurea e as filhas dedicam as tardes à confecção das vassourinhas que compõem o rabo do Galo  (Paulo Paiva)
A marisqueira Áurea e as filhas dedicam as tardes à confecção das vassourinhas que compõem o rabo do Galo

Mesmo quem não participa do projeto faz questão de colaborar. “Todo ano, minha filha se oferece para fazer vassourinhas em casa”, conta Ane, que apesar de dedicar dias ao Galo, nunca acompanhou o bloco. “Muitas vezes, os familiares vêm ver os outros trabalhar. O galo gera uma comoção geral. Todo mundo quer dizer que ajudou de alguma maneira”, conta Sávio, que é responsável pela concepção visual do monumento assim como a sua montagem.

As 26 partes que compõem o Galo ficam distribuídas entre três galpões e áreas abertas do sítio que o artista plástico comprou em 1992. No mesmo terreno, mora a marisqueria Áurea Bezerra, 49, com o esposo e quatro filhas. Durante as tardes que antecedem a festa de momo, Áurea e as meninas confeccionam vassourinhas. Uma centena rende R$ 20.“Ano passado, fiz quatro mil”, orgulha-se. A marca é a mais expressiva entre os colaboradores.

A partir dessa semana, o trabalho fica mais intenso. A instalação do Galo está marcada para às 23h do próximo dia 11. Ane sempre acompanha a montagem do monumento, que este ano vai executar o passo do parafuso em giros de 360 graus, além de cantar o frevo “Vassourinhas”. Ela diz que vai tentar brincar o Sábado de Zé Pereira nos pés do Galo. Cilas, que acompanha a tia nas tardes de trabalho, gosta de desenhar e não faz questão de ir à festa. “Não tenho costume de sair do sítio e fico enjoado quando viajo”. Ele sabe que o Galo pode passar os quatro dias na folia, mas sempre volta casa e para o afago do povo de Pirajuí.

30 pessoas se dedicam ao trabalho de produção do Galo, que desde 2010 é concebido pelo artista plástico Sávio Araújo  (Paulo Paiva)
30 pessoas se dedicam ao trabalho de produção do Galo, que desde 2010 é concebido pelo artista plástico Sávio Araújo


Saiba mais

25 mil vassourinhas formam as 10 penas do rabo do Galo

33 toneladas é o peso do monumento

8 caminhões fazem o transporte das 26 partes do Galo até o Recife

18 horas é o tempo para a conclusão da montagem do Galo

2 minutos e meio é o tempo que dura o movimento de subida do maestro gigante



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