Zona Sul Teresa, a vendedora poetisa de Boa Viagem Comerciante informal de 61 anos é aguardada pelos clientes dos estabelecimentos, com sua oferta variada de presentinhos e seus versos delicados

Publicado em: 23/01/2015 09:57 Atualizado em:

 (Foto:Ricardo Fernandes/DP/D.A Press)

Se você frequenta os bares de Boa Viagem, provavelmente já viu uma senhora de corpo franzino passar de mesa em mesa oferecendo canetas e chaveiros. O nome dela é Teresa Silva Martins, 61 anos, poetisa “tricolor de coração” que atravessa a cidade todo dia sozinha e entra pela madrugada.

Dona de memória impecável, aprendeu a vender com o pai - aos 12 anos, comercializava doces em lojas perto de casa. Em 2007, o pai morreu. Foi quando ela decidiu esticar o trabalho até de madrugada para evitar a volta para casa. Não queria ver o quarto do pai fechado.

Teresa sai de casa, em Peixinhos, Olinda, às 13h, depois de embalar cada artigo, e vai ao Centro do Recife. Quando a noite cai, segue de ônibus para a Zona Sul, sempre com um caderno de poesias onde escreve nos intervalos e fotos do dia mais importante da vida dela, quando visitou a sede do Santa Cruz.
Teresa vende para um público cativo e novos clientes. Foto:Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Teresa vende para um público cativo e novos clientes. Foto:Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

“Gosto muito de escrever especialmente sobre meu trabalho, meus clientes e meu time. Um cliente disse que vai fazer cordéis com minhas poesias para que eu possa vendê-las também nos bares. Também já deixei lá no Santa Cruz, basta chegar com o pen drive e pedir à diretoria.”
Antes de entrar em um estabelecimento, é preciso pedir autorização ao gerente. Abordar mesas nas quais o cliente já esteja comendo também não pode.  

Teresa trabalha de domingo a domingo. Por noite, visita em média quatro bares. A oferta de produtos varia com a época do ano (natal, páscoa etc) e a temática do estabelecimento. No restaurante mexicano, vende canetas dos personagens de Chaves e chaveiros de caveiras em referência à tradição da Santa Morte.  

O trabalho desperta curiosidade. Alguns clientes chegam a comprar todos os artigos quando ela oferece, como aconteceu com a família da administradora Luciana Magalhães, 39 anos. “Ela parou, passou mais de 40 minutos na mesa e minha mãe se encantou, comprou tudo e depois saiu distribuindo entre a família”, conta.



Pedaço de poesia de Teresa Martins

Deixo meu carinho por onde passo
Ao lavar uma roupa,
Ao fazer uma embalagem de presente para um cliente,
Ao vender…
Ao mostrar meu trabalho, recebo a retribuição desse carinho
Através da admiração das pessoas, de cada cliente que faço…
Ganho sempre amigos
Eles pedem para bater fotos comigo
(…)
Minha convicção sugestiona as pessoas
E passo para cada um essa energia boa que recebo do alto, de Deus,
E consigo transformar cada palavra, cada gesto,
Em bençãos, em produtividade


TAGS:
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL