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HOMENAGEM

Soledad Barrett, vítima da ditadura militar, ganha busto em homenagem na Rua da Aurora

O busto da paraguaia foi inaugurado na tarde desta quinta-feira (13) e com a presença de sua neta

Publicado: 13/02/2025 às 20:50

/Foto: Priscilla Melo/DP Foto

/Foto: Priscilla Melo/DP Foto

O entardecer da Rua da Aurora, no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, desta quinta-feira (13) foi marcado pela inauguração de um busto de uma figura histórica e de resistência: a paraguaia Soledad Barrett Viedma, mulher torturada e morta durante a Ditadura Militar no Brasil. O evento contou com a presença da neta da militante, Ivich Barret, de 30 anos.

“Moro aqui no Recife, que foi o lugar onde Soledad circulou no último ano da sua vida. Soledade é uma mulher paraguaia, que vem de uma família que já tinha uma longa tradição de luta e de militância, é uma mulher de muitos exílios, sofrimentos e separações. Ela era paraguaia, mas tinha uma veia latino-americanista. Ela passou pelo pelo Uruguai, onde sofreu o atentado nazista, por Cuba, pela Argentina e se uniu à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) para lutar contra o regime empresarial e ditatorial que tava instalado no Brasil. Ela abraçou o nosso, a nossa causa e o nosso país”, contou Ivich Barret.

Soledad Barrett foi torturada e morta após ser traída pelo companheiro  em 1973, aos 28 anos. Ela estava grávida de quatro meses e foi assassinada junto com outros quatro companheiros, no episódio conhecido como Massacre da Chácara São Bento.

Soledad Barrett foi homenageada pela Prefeitura do Recife e pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) por ser um símbolo de luta pelos direitos humanos. A inauguração do busto da paraguaia foi feita próximo ao monumento Tortura Nunca Mais após uma reunião na Ordem dos Advogados do Brasil de Pernambuco (OAB-PE), promovida entre a a Comissão e a sociedade civil.

Ao olhar para o busto da avó, Ivich Barret contou que hoje vive com os pensamentos de como a vida dela poderia ter sido caso tivesse a oportunidade de ter conhecido Soledad Barrett.

“Eu não posso dizer que eu estou feliz com a inauguração desse busto. Eu acho que eu seria mais feliz se eu tivesse tido a oportunidade de conviver com a minha avó, de ouvir todas as histórias da família, tudo que ela viveu, todas as as motivações para as escolhas que ela fez. Já ouvi dizer que ela cantava muito bem e eu poderia ouvir as poesias e, de repente, eu talvez até falasse Guarani, porque a Soledad era paraguaia e falava Guarani muito bem”, relatou a jovem.

A inauguração do busto de Soledad Barrett também contou com a presença de Marcelo Santa Cruz, que está à frente da CEMDP no Recife. Ele também é parente de Fernando Santa Cruz, desaparecido durante a Ditadura Militar. 

“A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos se encontra em Pernambuco fazendo a sua segunda reunião e ela foi criada pela Lei 9.140 de 1995, ainda na época do Fernando Henrique Cardoso. Ela tem como finalidade identificar as mortes dos desaparecidos, emitir o atestado de óbito destas pessoas e ter o reconhecimento de que aquelas pessoas foram mortas pelo estado brasileiro”, explicou.

Para Marcelo Santa Cruz, o filme brasileiro Ainda Estou Aqui reacendeu o debate sobre as pessoas desaparecidas na Ditadura Militar. “O filme tornou essa questão uma questão atual e por conta disso a Comissão está com um trabalho muito grande e estão surgindo novos casos”, afirmou.

A vereadora Liana Cirne (PT), também presente na inauguração, foi a autora do requerimento para que o busto de Soledad Barrett ficasse exposto na Rua da Aurora.

“Eu formulei em 2021 esse pedido de colocação do busto de Soledad Barrett por várias razões. Uma delas é pela própria história da Soledad e a segunda é porque sou vereadora de uma cidade que quase não tem bustos de mulheres. É uma memória que não se apagou de um passado que não está resolvido. A gente tem o busto de Soledad, mas era bom que nós tivéssemos o corpo inteiro, porque esse é um registro relevante”, pontuou a vereadora.

Quem foi Soledad Barrett

Soledad Barrett Viedma nasceu no Paraguai e era neta do espanhol Rafael Barrett, que denunciou as condições de escravidão dos trabalhadores paraguaios. Com apenas três meses de idade, precisou se exilar junto com os pais na Argentina por conta de perseguição política.

Com pais militantes, Soledad Barrett ingressou desde jovem em grupos políticos estudantis. Posteriormente, precisou fugir novamente com os pais para o Uruguai, onde foi sequestrada por um comando neonazista e teve a suástica marcada nas coxas após se recusar a dizer “Viva Hitler”.

No Brasil, ela se filiou à Vanguarda Popular Revolucionária para enfrentar a ditadura. O grupo a enviou para atuar no Recife, onde ela foi traída pelo companheiro Anselmo. Ele entregou Soledad e outros integrantes do VPR aos militares.

Soledad foi morta no episódio que ficou conhecido como “Chacina da Chácara de São Bento”. Entre as vítimas também estavam Pauline Reichstul, Eudaldo Gómez da Silva, Jarbas Pereira Márquez, José Manoel da Silva e Evaldo Luiz Ferreira.

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