ESTADOS UNIDOS
Novo governo Trump: nacionalismo e guerra tarifária
Presidente-eleito dos Estados Unidos toma posse na próxima segunda-feira (20)
Por: Guilherme Anjos
Publicado em: 13/01/2025 06:13
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Scott Olson/Getty Images North Aamerica via AFP |
Presidente-eleito dos Estados Unidos, Donald Trump só retorna oficialmente à Casa Branca na próxima segunda-feira (20), no chamado “Dia da Inauguração”, quando será empossado no Capitólio. No entanto, sua segunda gestão à frente da maior economia do mundo já tem criado tensão ao redor do globo antes mesmo de começar.
Nas últimas semanas, o líder republicano vem ganhando espaço na mídia com novas declarações polêmicas. Entre elas, propostas de anexação do Canadá através de poderio econômico, além da conquista da Groenlândia – território da Dinamarca – e do Canal do Panamá, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico, sem descartar o uso de força bélica.
O cientista político Thales Castro questiona a executabilidade nas propostas, e analisa que a narrativa pode ser uma cortina de fumaça, dado o histórico do presidente-eleito de utilizar bravatas em seus discursos.
“Trump tem uma retórica muito baseada em bravatas, e que ele ainda está tendo na condição de presidente eleito, não de presidente juridicamente empossado. Então, quando ele fala em Groenlândia, canal do Panamá e o próprio Canadá, vejo uma mistura de cortina de fumaça com bravata”, avalia Castro.
A análise é compartilhada pelo recém-renunciado primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Em entrevista à CNN norte-americana em Washington, capital dos EUA, ele afirmou que as falas do republicano eram para “distrair das tarifas de 25% sobre petróleo, gás, eletricidade, aço, alumínio, madeira e concreto”.
As taxações prometidas por Trump ao México e Canadá em novembro do ano passado devem estar entre suas primeiras medidas, até que “as drogas e imigrantes ilegais parem de invadir o país”.
As polêmicas também podem tirar as atenções das acusações enfrentadas por Trump. Na última sexta-feira (10), ele foi condenado com pena incondicional – sem prisão ou multa – por fraude, pela ocultação dos pagamentos à ex-atriz pornô Stormy Daniels. Segundo as investigações, Trump e Daniels tiveram um caso em 2006, e o presidente-eleito comprou o silêncio da ex-amante quando se candidatou à presidência pela primeira vez, em 2016.
Apesar disso, as políticas nacionalistas são parte integral da agenda ideológica de Trump, que promete maior controle das fronteiras e a deportação em massa de imigrantes ilegais. Thales Castro vê a medida como audaciosa, e alinhada com os interesses do crescente movimento conservador no país.
“Isso é parte de uma reação do eleitorado americano com essa guinada à direita conservadora. Os Estados Unidos estão vivendo uma fadiga imaterial desse progressismo ‘woke’, e você vê as mudanças no Canadá. O Trudeau renunciou essa semana. Ele adotava muito essa bandeira progressista e mergulhou o Canadá numa crise profunda, migratória, imobiliária, de pressão inflacionária, de credibilidade, perda de competitividade econômica e por aí vai”, afirmou.
Disrupção
O retorno de Trump ao poder representa uma virada cultural nos Estados Unidos e no mundo, retrocedendo em avanços de políticas progressistas associadas ao partido Democrata, do atual presidente Joe Biden.
O fenômeno já era observado nas conquistas conservadoras no Legislativo americano, e foi acentuado pelas derrotas de Biden dentro e fora de casa.
“Trump é agente e paciente, ao mesmo tempo, dessas transformações. Biden foi muito fraco em termos de relações exteriores e coesão nacional. Muitas falhas internacionais caíram sobre o colo dele, e ele, obviamente, pela idade elevada, não foi rifado, e a sua vice não teve êxito. Trump volta, mais forte do que nunca, com a maioria no Senado, na Câmara e também na Suprema Côrte”, apontou Castro.
BRICS
Com a expansão dos BRICS, Castro avalia que a tendência dos Estados Unidos sob o novo comando de Trump é de oposição e protecionismo, podendo resultar em disputas tarifárias.
“Os BRICS estão se tornando uma grande plataforma anti-americanista, anti-ocidentalismo, anti-europeísmo, e é uma trincheira de guerra simbólica ancorada no eixo sino-russo. Acho que os Brics vão entrar na mira do presidente Trump, e podemos esperar uma guerra tarifária, um nacionalismo monetário, industrial e protecionista, e isso vai se desdobrar ao longo da sua gestão”, analisou.
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