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10 ANOS SEM EDUARDO CAMPOS

O legado de Eduardo Campos na economia de Pernambuco

Entre 2007 e 2014, o estado foi foco da instalação de indústrias, reduziu o nível de evasão escolar e cresceu acima da média nacional

Publicado em: 13/08/2024 05:40 | Atualizado em: 13/08/2024 05:43

O ex-governador Eduardo Campos esteve à frente do estado por dois mandatos consecutivos, de 2007 a 2014, período em que o estado obteve saldos positivos na economia, com a retomada da indústria, o Porto de Suape, a Refinaria Abreu e Lima, o impacto da instalação do pólo automobilístico da Jeep em Goiana-PE e o investimento na educação de nível médio, ensino técnico e de tempo integral, que fez Pernambuco elevar o nível da educação no estado em relação país.

Na saúde, Campos também deixou o seu legado, com a construção de três grandes hospitais no estado, o Hospital Miguel Arraes, em Paulista, o Hospital Dom Helder, no Cabo de Santo Agostinho e o Hospital Pelópidas Silveira, na Zona Oeste do Recife, além de 15 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e 9 UPAs-Especialidade (UPAs-E).

As suas ações por Pernambuco se refletiram na aprovação de seu governo e na eleição para um segundo mandato no estado, entre 2010 e 2014. Nas eleições em 2010, Eduardo disputou a reeleição e obteve a vitória no primeiro turno com mais de 80% dos votos válidos.

De acordo com a economista Tânia Bacelar, Eduardo Campos, que também era formado em economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), assumiu o governo do estado em um momento de dinamismo da economia, na mesma época em que o presidente Lula passava pelo seu segundo mandato no país, entre 2007 e 2011. 

“Ele era um bom gestor, um grande político e encontrou um contexto nacional favorável econômica e politicamente também. Foram os dois primeiros governos Lula, que era aliado político dele e pernambucano. Eduardo era político, economista, entendia do que ele estava falando e tinha uma enorme capacidade de articulação, talvez fosse o traço mais importante dele”, destaca.

Ela ressalta ainda que a marca mais importante do governo dele foi a retomada da indústria, porque a indústria de Pernambuco vinha de duas décadas de crise. “A década de 80 e a década de 90 tinham sido muito ruins para a indústria de Pernambuco”, conclui. 

A consolidação de Suape

A economista ainda cita o Complexo Industrial de Suape como um dos “trunfos” de Eduardo para Pernambuco, que levou vários governos para ser construído, mas que naquele momento estava em fase de consolidação, do Porto e do complexo industrial.

“O distrito industrial ainda estava pouquíssimo ocupado, mas esse trunfo ele usou muito bem porque como a economia nacional estava bem, começa um ciclo de investimentos e Pernambuco pôde desfrutar desse investimento que era um distrito industrial organizado, próximo ao coração da economia pernambucana, que era a Região Metropolitana”, aponta Tânia. 
 
Imagem aérea do Complexo Portuário de Suape (Foto: Paulo Paiva/DP)
Imagem aérea do Complexo Portuário de Suape (Foto: Paulo Paiva/DP)
 

Para Fred Amâncio, que além de presidente de Suape, também atuou como secretário de saúde, planejamento e desenvolvimento econômico no governo Eduardo Campos, muitas ações foram importantes para o desenvolvimento do Complexo Portuário de Suape, mas foi no governo dele que o empreendimento cresceu de forma significativa. 

“Dois grandes momentos da expansão de Suape, na minha opinião, ocorreram na sua própria implantação e nesse momento do governo de Eduardo porque foram ampliados os cais. Internamente ele tinha dois cais e foram criados três novos cais. Também foi implantado o Estaleiro Atlântico Sul, que se transformou em uma nova área de expansão e foi feita a ampliação da área externa, onde fica o Pier de Granéis Líquidos. Além do início do processo de aprofundamento do canal interno para poder receber navios de maior porte”, explica Amâncio. 

O desenvolvimento de Suape também influenciou o crescimento de vários outros segmentos que mudaram o perfil industrial do estado, trazendo dinamização para os setores da construção civil e a indústria de transformação, que influenciaram o aumento da demanda de outros serviços. 

Indústria, comércio e serviços

Segundo dados fornecidos pela Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), extraídos da base RAIS do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a quantidade de indústrias, que em 2006 era de cerca de 10 mil, atingiu o pico em 2014 com mais de 17 mil estabelecimentos no estado. 
 
De acordo com dados fornecidos pela Fecomércio-PE à reportagem, entre 2007 e 2014, tanto o comércio quanto os serviços em Pernambuco registraram uma fase de expansão, com aumentos no número de estabelecimentos e no emprego. 

“O setor de serviços também demonstrou uma expansão considerável durante o mesmo período. O número de empresas do setor de serviços aumentou de 14.847 em 2007 para 28.068 em 2014, praticamente dobrando em sete anos. Este aumento significativo é associado ao crescimento econômico e à diversificação das atividades econômicas no estado”, aponta Rafael Lima, economista da Fecomércio-PE. 

Uma pesquisa da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan), destaca que 1.125 indústrias foram beneficiadas pelo Programa de Desenvolvimento de Pernambuco (Prodepe) durante o governo de Campos. No período de 2007 a 2014, as empresas beneficiadas pelo programa receberam o investimento de R$ 38,5 bilhões, com geração de 80.784 empregos. Já entre os anos de 2015 a 2022, esse total de investimentos foi de R$ 11,4 bilhões, registrando uma queda também na geração de empregos (25.283). 

“Eduardo Campos fez pela primeira vez algo diferenciado que foi desenhar toda uma estratégia focada no desenvolvimento do estado, que envolvia Suape, que era uma capítulo especial dentro dessa estratégia, mas foi desenhado toda uma estratégia. Existia um planejamento, um acompanhamento e o monitoramento, definindo quais eram as grandes prioridades”, destaca Fred Amâncio, que atuou como secretário de saúde, planejamento e desenvolvimento econômico no governo Eduardo Campos.

Para Amâncio, foi no governo dele que nasceu o conceito de desenvolvimento dos polos. “A implantação de um polo automotivo, crescimento do polo petroquímico, um pólo na área de energia eólica. A gente sabe que foi muito impactante, porque a chegada desses empreendimentos, apesar de serem sonhos antigos, só se concretizou no estado na gestão dele”, ressalta. 
 

Polo automobilístico Jeep (Stellantis)

A instalação do pólo automobilístico da Jeep (hoje Stellantis) em Goiana-PE, na Zona da Mata pernambucana, no ano de 2015, gerou impactos econômicos e também nos setores de educação e tecnologia no estado. 
 
 (Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press)
Foto: Paulo Paiva/DP/D.A Press
 

Um levantamento da Consultoria Econômica e de Planejamento (Ceplan) revelou que desde a instalação do polo, em 2015, o emprego direto gerado pelo empreendimento cresceu 10,1% ao ano até 2022.
Ainda segundo a pesquisa, em 2010, o estado tinha apenas 60 empregos formais no setor automobilístico. Em 2021, após a criação do polo, esse número saltou para 5.059, representando 72,9% dos postos de trabalho nesse segmento no estado. 

O setor automotivo representa hoje 44,5% do emprego formal do município de Goiana, o polo automotivo emprega aproximadamente 14,6 mil pessoas em Pernambuco. 

Refinaria Abreu e Lima 

Na época, o estado foi beneficiado com a Refinaria Abreu e Lima, recebendo o investimentos do Governo Federal para a instalação do empreendimento no Complexo Portuário Industrial de Suape. 
As negociações para a instalação da estatal da Petrobrás em Pernambuco, iniciadas ainda no governo Jarbas Vasconcelos, teve um importante componente político na escolha.

A estatal venezuelana de petróleo, a PDVSA, seria sócia da Petrobrás na refinaria, já que o presidente da Venezuela na época, Hugo Chávez, queria homenagear o general pernambucano Abreu e Lima, que lutou ao lado de Simon Bolívar pela independência do país e de outras cinco nações sul-americanas.
 
 (Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press)
Foto: Annaclarice Almeida/DP/D.A Press
 

Apesar da proximidade entre o presidente brasileiro, Lula, e venezuelano, Chávez, a PDVSA nunca aportou os investimentos acordados. Com o cancelamento do acordo com a PDVSA, cresceu a pressão pelo cancelamento do empreendimento, que era disputado também por outros estados, cabendo a Eduardo Campos e sua conhecida habilidade política garantir a manutenção do investimento.

Expansão da Copergás

Em dezembro de 2009, o governador Eduardo Campos inaugurou o gasoduto Recife-Caruaru, da Copergás, dando início à interiorização do gás natural. Foi também durante o governo de Eduardo que foi lançada a pedra fundamental da central de distribuição de Gás Natural Comprimido. Possibilitando a chegada do combustível a outras cidades do interior pernambucano.

Salto na educação do estado

Em 2008, a educação integral de nível médio foi um dos marcos do governo Campos, se tornando política pública no estado. O movimento também foi importante para a interiorização da economia em Pernambuco, que transformou a dinâmica das cidades. Pernambuco saiu da 21ª, em 2007, para a 4º no indicador do Instituto de Desenvolvimento Educacional Brasileiro (Ideb) em 2013. 
 
 (Foto: Marlon Diego/Esp.DP)
Foto: Marlon Diego/Esp.DP
 
 
 
Geração de empregos 

Durante o Governo Eduardo Campos cerca de 400 mil empregos com carteira assinada foram gerados no estado, de acordo com informações originadas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Segundo dados do IBGE, em 2006 a Região Metropolitana do Recife registrou uma taxa de 14,6% de desocupação, enquanto o Brasil tinha uma de 10%. Nos anos posteriores, a taxa de desocupação na RMR começou a cair e seguiu o fluxo nacional. Em 2012 a região alcançou a menor taxa de desocupação média do período, com 6%, enquanto no Brasil essa taxa estava em 5,5%. 
Tags: eduardo campos | morte | suape | jeep |

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