Política
GABINETE PARALELO
Prefeito diz que pastor pediu 1 kg de ouro para liberar verba do MEC
Publicado: 23/03/2022 às 10:31

(Foto: Instagram/Reprodução)
Após a revelação da existência de um gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC), movido pela atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura como mediadores para a liberação de recursos da pasta, o prefeito do município de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga, explicou como era o trâmite exigido pela dupla para conquistar a preferência. De acordo com ele, eram cobrados R$ 15 mil apenas para protocolar as demandas da cidade no MEC. Braga afirma que, a ele, foi solicitado um quilo de ouro, que custa o equivalente a R$ 304 mil.
“Ele (Arilton Moura) disse: ‘Traz um quilo de ouro para mim’. Eu fiquei calado. Não disse nem que sim nem que não”, revelou o político ao jornal O Estado de São Paulo.
O prefeito conta que a negociação ocorreu em abril de 2021, durante um almoço em um restaurante em Brasília, logo após uma reunião com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, na sede do MEC. Outros prefeitos estavam na mesa e as informações foram passadas sem sigilo ou segredo.
"Ele disse que tinha que ver a nossa demanda. De R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar [no MEC]. E na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu um quilo de ouro", afirmou o prefeito à reportagem.
O jornal ainda afirma que informações obtidas revelam que o pastor Arilton passou os dados da conta bancária dele para os prefeitos fazerem o depósito dos R$ 15 mil referidos. Apenas após o pagamento, as demandas feitas pelos políticos seriam protocoladas no MEC e teriam a promessa de terem preferência. O prefeito Gilberto Braga afirma que não aceitou o acordo e não fez nenhum repasse.
Nesta segunda-feira (21), um áudio, obtido pelo jornal Folha de S. Paulo, revelou uma fala polêmica do ministro da Educação, Milton Ribeiro. Ele afirma que prioriza liberação de recursos da pasta para prefeituras que negociaram o repasse com dois pastores, que não possuem cargos no MEC. Ribeiro ainda diz que a prioridade dada por ele atende a um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar", diz o ministro na conversa em que participaram prefeitos e os dois religiosos.
Gilmar Santos é um dos pastores envolvidos no suposto esquema informal de obtenção de verbas da pasta e comanda a igreja Ministério Cristo para Todos, em Goiânia (GO). Além dele, é citado o pastor Arilton Moura, que é secretário da entidade evangélica Convenção Nacional de Igrejas e Ministros de Assembleias de Deus no Brasil Cristo para Todos — Gilmar preside a instituição.
Na terça (22), após a repercussão do caso, o ministro admitiu ter se encontrado com os pastores, mas afirmou que o presidente Bolsonaro não pediu que ele acatasse nenhuma preferência. Ribeiro disse que o chefe do Executivo “não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou apenas que pudesse receber todos que nos procurassem, inclusive as pessoas citadas na reportagem".
"Da mesma forma, recebo pleitos intermediados por parlamentares, governadores, prefeitos, universidades, associações públicas e privadas. Todos os pedidos são encaminhados para avaliação das respectivas áreas técnicas", afirma no texto encaminhado hoje à imprensa.
Com a revelação do caso, Milton Ribeiro agora é alvo de pedidos de investigação protocolados por parlamentares no Supremo Tribunal Federal (STF), na Procuradoria-Geral da República (PGR) e no Tribunal de Contas da União (TCU). Até mesmo o Centrão pressiona pela saída do ministro.
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