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Agarrado ao cargo, Paulo Guedes vira fura-teto

Publicado em: 23/10/2021 08:16

 (Foto: Mauro Pimentel / AFP
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Foto: Mauro Pimentel / AFP
Em meio ao turbilhão da crise provocada pelo fim do teto de gastos, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, precisaram agir para evitar um estrago maior junto ao mercado financeiro, ontem, na pior semana do ano para a Bolsa de Valores de São Paulo. Ao que tudo indica, as declarações não convenceram, pois Guedes admitiu que o governo vai furar regra constitucional que limita o aumento de despesas à inflação, a fim de justificar a criação do novo Bolsa Família de R$ 400 prometido pelo chefe do Executivo — o programa passará a se chamar Auxílio Brasil. A medida populista vai fazer mais estragos na economia, pois a inflação tende a permanecer elevada devido ao dólar mais alto, diante da desconfiança crescente. Com isso, os juros devem subir ainda mais, a economia vai continuar travada e o desemprego não deve diminuir, conforme alertam os especialistas.

A regra do teto é a única âncora fiscal vigente que mantém algum resquício de credibilidade no governo e na capacidade de controlar as despesas. O turbilhão gerado com as ameaças ao teto, durante a semana, culminou com a debandada de quatro integrantes da equipe econômica, liderados pelo secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e pelo secretário do Tesouro, Jeferson Bittencourt.

Em meio aos rumores de que Guedes também tinha pedido demissão na quinta-feira, Bolsonaro foi ao encontro do chefe da equipe econômica em seu gabinete, num gesto político de que ainda confiava no Posto Ipiranga. Na entrevista coletiva, os dois desmentiram a entrega do cargo.

O jogo de cena ajudou a zerar as perdas da Bolsa, ao longo do dia, mas não evitou que o pregão fechasse no negativo. Na semana, as perdas acumuladas das empresas com capital aberto foi de R$ 350 bilhões em valor de mercado, conforme dados da Economática.

Na coletiva, Bolsonaro afirmou que não fará “nenhuma aventura” na economia e que respeitará o teto de gastos. “Tenho confiança absoluta nele (Guedes). Ele entende as aflições que o governo passa. Assumiu em 2019, fez um brilhante trabalho, quando começou 2020, a pandemia, uma incógnita para o mundo todo”, ressaltou.

Guedes, por sua vez, minimizou a saída dos secretários, destacando ser “natural” a dança das cadeiras. Ao admitir que o governo pretende descumprir a regra do teto, usou como justificativa a defesa do social e ainda criticou a comunicação. “Não é confortável para a Economia flexibilizar o teto, pedir um nível extrateto. Mas nós temos que escolher: vamos tirar 10 no fiscal e zero no social?”, questionou. “Eu detesto furar teto, não gosto, mas nós não estamos aí só para tirar 10 no fiscal. Houve um colapso de comunicação, todo mundo brigando. O teto é um símbolo de austeridade, mas não podemos deixar de atender aos mais vulneráveis”, acrescentou o ministro, que já criticou empregadas indo à Disney e filhos de porteiro fazendo faculdade.

Ao negar o pedido de demissão, Guedes admitiu que havia uma “pescaria” da ala política na busca de seu sucessor e ainda cometeu um ato falho: confundiu o nome do substituto de Bruno Funchal, o atual chefe da Assessoria Especial de Assuntos Institucionais da pasta, o ex-ministro do Planejamento Esteves Colnago, e o chamou de André Esteves, o banqueiro e sócio-fundador do BTG Pactual. Mais tarde, a pasta confirmou, também, o nome de Paulo Valle, que retorna ao Tesouro para substituir Bittencourt.

Guedes tentou isentar-se da culpa pela inflação alta e jogou a responsabilidade para o Banco Central: “Tem de correr um pouco mais com os juros”, disse.
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