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ENTREVISTA

Teich sobre defesa que Bolsonaro faz da cloroquina: 'Não é time de futebol'

Publicado em: 26/02/2021 08:21

 (foto: Reprodução)
foto: Reprodução
No dia 17 de abril de 2020, o médico oncologista Nelson Teich tomava posse como ministro da Saúde do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em meio à pandemia da COVID-19. Teich, no entanto, ficou 28 dias no cargo, até pedir exoneração no dia 15 de maio. Dois fatores foram fundamentais para a saída do especialista da pasta: o uso da cloroquina para todos os pacientes com coronavírus e a falta de autonomia no comando da Saúde.

Em entrevista para o Estado de Minas, Teich disse que remédios não podem ser defendidos ou criticados como se fosse “time de futebol”. Na véspera de seu pedido de demissão, o médico oncologista havia publicado em suas redes sociais que a cloroquina tinha "efeitos colaterais" e que o "paciente deveria assinar um termo de consentimento". No dia seguinte, Bolsonaro, que era favorável ao uso do medicamento mesmo sem comprovação científica, rebateu dizendo que seus ministros deveriam ser alinhados com ele.

“Não posso alocar meu recurso financeiro em alguma coisa que os dados sugerem que não funciona, pois estarei deixando de ter recursos para colocar em outra coisa. Nós, em um país que não é rico, precisamos desse recurso, que é realmente escasso. Se eu gasto em alguma coisa que não funciona, estou deixando de gastar em alguma coisa que funciona com certeza absoluta”, disse Teich.

Outro ponto que motivou o pedido de exoneração do médico da liderança do Ministério da Saúde foi a falta de autonomia no cargo. Teich, que substituiu Luiz Henrique Mandetta - outro entrevistado do Estado de Minas na série que aborda 1 ano da chegada do coronavírus ao Brasil -, percebeu que não conseguiria seguir como ministro sem o poder de decisão que desejava.

“A cloroquina foi o problema do momento, mas uma coisa que eu sempre falei é que minha saída foi porque ali ficou muito claro que eu não teria autonomia para conduzir da forma que deveria achar que poderia conduzir. A essência era a falta de autonomia, que não está sendo legitimada como uma liderança. Ali ficou claro para mim que eu não conseguiria conduzir da forma que eu achava que era adequada. Por isso que eu saí”, revelou.

Ao ficar no cargo por apenas 28 dias, Nelson Teich garante que não ficou nenhum sentimento de frustração pelo curto tempo. No entanto, o ex-ministro deixou de executar ideias, como por exemplo, o aprimoramento do sistema de informação, englobando, também, estados.

“No período em que eu estive lá, a ideia era começar um grande programa de informação para termos um sistema mais robusto. A informação tem uma vantagem enorme. Ela te permite fazer um diagnóstico do problema. Com o diagnóstico do problema, se ele for bem feito, a solução é quase que uma evolução natural, porque você sabe onde está tendo problema e a solução é resolver alguma coisa que atue naquele problema”, concluiu.
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